CAPÍTULO 37

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MEGAN

As perguntas de Jason me deixavam cada vez mais apreensiva. Talvez eu devesse contar a ele o que está acontecendo, mas isso só colocaria a vida de mais uma pessoa em perigo e isso era tudo o que eu menos queria naquele momento. Já estava bastante nervosa e quase deixando tudo a perder quando uma enfermeira finalmente chegou pedindo que nós lhe acompanhá-se-mos.

Thomás havia me ligado momentos antes avisando que a consulta havia sido desmarcada porque a filha de Jason estava doente, foi aí que liguei os pontos e entendi que aquelas duas crianças com quem ele estava naquela creche eram realmente seus filhos. Não fazia muito sentido e isso só me deixava com mais pulgas atrás da orelha, se ele tinha filhos com certeza também tinha uma esposa. Mas onde está ela? E porquê não o acompanhou sabendo que a filha está no hospital? Seja como for, nada disso me dizia respeito, eu tinha coisas muito mais importantes com que me preocupar, com a vida de Grace pra ser mais exata.

Depois de pensar por algum tempo durante a madrugada eu havia chegado a conclusão de que não havia outra forma de lidar com isto, teria que voltar para aquele inferno mas não me entregaria de bandeja tão facilmente de novo. Afinal agora sim eu sou uma mulher adulta e muito mais madura do que a alguns meses atrás, estava mais do que na hora de ser corajosa e deixar de encarar o meu marido com pavor porque isso só aumentava ainda a sua autoridade sobre mim. Não poderia deixar que ele me intimidasse de novo e tal como ontem, vou mostrar a ele que já não sou a mesma menina ingénua com quem ele se casou.

No final de um corredor entramos numa pequena sala colorida de um jeito infantil e no interior havia um médico que examinava o mesmo menino da creche enquanto a garota rapidamente correu para o colo de Jason, com certeza eram gémeos embora quase nem se parecessem. Fiquei meio que hipnotizada olhando para ambas as crianças com lágrimas nos olhos, elas eram lindas e vê-las as duas juntas só me fazia lembrar das que eu carregava no meu ventre, com certeza seriam tão lindas quanto elas.

     - O resultado das análises sairão ainda esta tarde. - O médico finalmente disse a Jason e se levantou. Eu permanecia encostada a batente da porta da sala apenas observando, não queria correr o risco e me aproximar mais e acabar desabando em lágrimas.

     - Então ao que parece ela não tinha nada de grave.

     - Exatamente. - O médico concordou. - Era apenas um pequeno resfriado, o tempo está bastante frio e deve vesti-los com roupas mais quentes, doutor Jason.

Ele pareceu pensativo mas concordou, pouco depois as duas crianças estavam no seu colo e Jason se virou para mim me pegando desprevenida.

     - Não quer segurar nelas?

     - Hum?

     - Porquê você sempre diz hum quando falo com você? - O seu tom era mais divertido, muito diferente de alguns minutos atrás na sala de espera. - Está sempre distraída.

     - Isso porque você sempre fala comigo quando eu estou distraída. E não, acho melhor não. Não tenho muito jeito pra crianças.

Ele apenas assentiu e saímos do hospital até ao seu carro, era hilariante vê-lo sendo constantemente sendo agredido pelas crianças que pelos vistos se chamavam Louis e Louise. Eram sorridentes embora Louise fosse ligeiramente mais calma, talvez por estar doente.

Jason estava completamente atrapalhando tentando arrumar o cinto da cadeira dos filhos, parecia nunca ter feito isso antes e eu só conseguia rir, pelo menos estava me divertindo antes de ir de uma vez de encontro ao meu destino. Com certeza iria sentir saudade de tudo isso quando voltar a ser prisioneira.

     - No que você tanto pensa? Aliás, ainda não me disse o que há com você.

     - Não é nada, Jason. Sério. - Suspirei, eu era uma péssima mentirosa. - É só que... Eu tenho medo de algum dia nunca mais poder voltar a ser livre. Os momentos que eu passei com Grace, você e a minha família foram os melhores da minha vida.

Ele deu um sorriso sem humor.

     - Falando assim até parece que está se despedindo.

E estou.

...

Acordei com pequenas carícias no rosto e vi Jason me observando atentamente, eu havia adormecido no carro e nem tinha dado conta que já tínhamos chegado a minha casa. Ambas as crianças nos bancos de trás também já estavam dormindo como dois pequenos anjinhos.

     - Podia ter me acordado a mais tempo.

     - Preferi ficar vendo você dormir. - Respondeu. - E você não faz ideia do quanto fica linda dormindo.

Senti as minhas bochechas aquecerem e desviei o olhar dele rapidamente para a porta onde abri decidida a sair antes de ser parada por sua mão no meu pulso. Jason me encarava sério e ligeiramente preocupado, não gostava daquele olhar, poderia rapidamente desvendar os meus pensamentos.

     - Megan, você sabe dos meus sentimentos por você. Por favor, o que quer que esteja acontecendo, só não faça nenhuma besteira.

As suas palavras tinham o mesmo peso de preocupação que o seu olhar, era quase como que suplicante por isso não consegui continuar encarando-o. Por isso apenas encarei a sua mão segurando delicadamente o meu pulso, eu não poderia contar e muito menos prometer a ele que não faria nenhuma besteira.

     - Eu me diverti imenso hoje, Jason. Boa noite.

Dei uma última olhada aos anjinhos adormecidos e saí do carro o mais lentamente possível até casa. Não poderia negar que Jason despertava algum tipo de sentimento em mim que não era só de amizade mas que também não chegava a ser tão forte quanto ao que eu sentia antes por Philipe. Seja o que for, eu tinha medo, medo de acabar me apaixonando de novo e me machucar mesmo sabendo que Jason era diferente.

Ainda não havia ninguém em casa quando cheguei, o que por um lado era bom porque assim ninguém me impediria de sair, tínhamos passado quase toda a manhã naquele hospital e agora já estava quase anoitecendo. Eu tinha de me manter calma mesmo estando desesperada. tinha de agir com maturidade. Tomei um banho quente e vesti uma roupa confortável, na cozinha havia o almoço que minha mãe tinha deixado já pronto pra mim com um pequeno bilhete dizendo:

"Coma tudo até ao final e não se esqueça de beber água. Hoje não demoro."

Confesso que não consegui suportar e desabei chorando, afinal eu agora tinha uma família, tinha pessoas que se preocupavam e me amavam de verdade pra no fim eu retribuir desse jeito. Fugindo para voltar para as mãos do causador de todo o meu sofrimento, eu estava sendo covarde. Me debrucei sobre a bancada perdendo toda a fome, se ao menos houvesse uma forma de resolver tudo isso... Porquê pessoas como ele sempre ganhavam no final, porque as pessoas que nascem pra sofrer têm que morrer sofrendo?

E tudo o que eu queria era um pouco de paz.

Nas gavetas embutidas da bancada onde ficavam os talheres haviam várias facas, fiquei olhando pra elas durante um certo tempo e confesso que pensei na possibilidade de tirar a minha própria vida. Mas do que adiantaria? Com certeza no inferno eu iria sofrer muito mais do que aqui e além disso, não era eu quem tinha de morrer, afinal nunca fiz mal a ninguém. Era Philipe quem tinha de pagar por todos os crimes que cometeu, não eu que até hoje só tenho tentado lutar pela vida.

Limpei o rosto decidida a não chorar mais, peguei a faca mais pequena que havia na gaveta e a coloquei no bolso traseiro da minha calça, nunca pensei na possibilidade de vir a ferir alguém mas se for pra nossa própria defesa que mal há?

Depois de chamar um taxi, subi as escadas até ao meu quarto correndo e coloquei o celular em cima da mesinha de cabeceira, a mesma onde Thomás havia o deixado de presente pra mim e escrevi num pequeno bilhete:

"Apenas confiem em mim."

Casada Com Um Psicopata (Série Mentes Insanas - Livro 1)Where stories live. Discover now