CAPÍTULO 30

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PHILIPE

     - Mike, para. Ele já entendeu.

     - Ele está assim por culpa sua! - Meu pai avançou até minha mãe com passadas largas apertando o seu braço. - Eu não estou criando o meu filho pra ser um viadinho medroso, Sílvia.

Minha mãe estava inconsolável e várias lágrimas soltas caíam pelo seu rosto dando-o um ar mais triste, ela sempre chorava quando brigava com o meu pai e essa para mim era uma das cenas mais difíceis de se ver.

     - Minha culpa? Ele é nosso filho! Eu não o fiz sozinha e você sabe muito bem que não é uma surra que vai resolver o problema dela!

O barulho da mão pesada do meu pai se chocando contra o rosto da minha mãe pôde-se escutar por toda a casa. Ela tocou no lugar atingido parecendo incrédula como se fosse a primeira vez que ele a agredisse. Eu não sentia pena, raiva e muito menos remorsos por nada disso, minha mãe merecia passar por tudo isso pra aprender a deixar de ser tão cega.

     - Controle o seu tom de voz quando falar comigo. E a partir de hoje você está proibida de passar a mão na cabeça dele de novo.

Ela concordou mordendo o lábio numa tentativa falha de segurar o choro intenso de alguns segundos atrás, minha mãe era assim, muito observadora pra umas coisas mas bastante cega pra outras.

O meu quarto agora tinha inúmeras fotografias de Megan, fotografias essas que eu mesmo tirava enquanto ela dormia ou estava distraída. Não fazia ideia que a morte dela pudesse vir a me afetar tanto e apenas cheguei a conclusão que precisava dela mais do que tudo quando os dias começaram a passar e a quase dois meses que ela se foi. Durante esse tempo eu poderia ter aproveitado para me casar de novo ou viver a minha vida de viúvo sem me preocupar em me prender a alguém, mas a verdade é que o buraco que Megan deixou nada aparentemente estava sendo capaz de o preencher.

Nem alguns copos conseguiam me tirar dessa aparente depressão, era como se o meu corpo nesse momento necessitasse do dela pra se sentir saciado, apenas do dela. Mulher alguma tem me chamado a atenção durante semanas, não que o corpo da minha falecida esposa fosse espetacular, haviam muitas mulheres muito mais avantajadas do que ela, mas o meu corpo apenas clamava pelo dela e isso estava se tornando insuportável. Eu estava me tornando quase num toxicodependente pelo dela, mas ela já não estava mais aqui e a realidade poderia ser muito cruel quando queria.

Na foto que eu tinha em mãos, Megan estava dormindo sem nenhum tipo de tecido que cobrisse seu corpo, tinha pequenos hematomas mas a sua expressão facial estava tranquila. Passei o dedo lentamente pelo papel observando cada detalhe daquele corpo que um dia já foi meu, Megan não deveria ter morrido e a culpa disso foi minha, não deveria ter negligenciado desse jeito o meu brinquedo favorito, deveria tê-la protegido com mais seguranças e agora ela se foi pra sempre. Peguei numa outra foto onde ela estava sorrindo mesmo, mesmo que não fosse pra mim só agora eu conseguia notar o quão o seu sorriso era lindo, por mais que na maioria das vezes ele estivesse coberto por algum corte diferente, cortes feitos por mim e por culpa da sua desobediência.

O meu objetivo nunca foi machucar Megan e eu nunca me sentia realizado quando o fazia, mas o seu comportamento desobediente acordava o meu lado mais primitivo e eu sempre acabava fazendo uma loucura. Lucas foi realmente muito covarde ao tirar a vida dela dessa forma e se eu soubesse disso a mais tempo eu o teria torturado um pouco mais antes de o mandar para o inferno, um lugar que ele sempre quis ir para rever a sua amada Ashley.

Ashley.

Durante anos fui louco por aquela mulher e jurei que o que aconteceu com ela jamais iria se repetir por mais que eu tenha sido o único e principal causador da morte dela.

Batidas insistentes na porta tiraram a minha concentração das fotografias e me trouxeram de volta a realidade, era Elliot e pelo sua expressão, já sabia que viria com mais um daqueles seus sermões tediosos. Um dos grandes motivos que me levou a tirar a vida dos meus pais, a mania que eles tinham de acharem que me podiam me dar ordens, nem sei como esperei a idade adulta pra fazer isso.

     - Já sabe onde ela foi enterrada?

     - Não. Ao que parece não há nenhum tipo de registro sobre isso. - Elliot continuou parado na porta olhando pra todo o quarto, com certeza achando tudo isso muito estranho. - O que é isso cara, tá ficando maluco?

     - Não se mete, Elliot. - Suspirei e me levantei do chão ao lado da cama onde estava sentado, todo esse tempo apenas serviu pra me fazer pensar e duvidar do que parecia tão óbvio. - Então ela não foi enterrada em lugar nenhum?

Ele negou.

     - Então isso só pode significar uma coisa: Megan está viva e alguém a ajudou na fuga, estou certo?

Elliot manteve a sua expressão facial séria e impecável como sempre mesmo diante do que perguntei, deveria ter me lembrado que ele sempre foi excelente nisso.

     - Impossível, Philipe. Eu mesmo vi o seu corpo morto com os meus próprios olhos. Não está desconfiando de mim, está?

     - Claro que não, idiota. - Dei uma risada terminando as últimas gotas da minha bebida e saí do quarto.

Tinha mandado um investigador privado para o local do crime e apenas estava esperando a sua ligação. Era bom que Elliot não tivesse mesmo nada a ver com isso, caso contrário eu iria esquecer quantos anos de amizade nós temos e teria que dar um jeito nele também.

E caso Megan estiver realmente viva, eu não irei pensar duas vezes antes de trazê-la de volta pelos cabelos e fazê-la se arrepender profundamente de ter fugido de mim.

Casada Com Um Psicopata (Série Mentes Insanas - Livro 1)Donde viven las historias. Descúbrelo ahora