CAPÍTULO 31

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MEGAN

     - Filha, eu estou indo no shopping. Quer ir comigo? - Cogitei a pergunta em silêncio. Ainda estávamos todos na mesa do café da manhã, Thomás estava se preparando para ir a empresa e rapidamente parou encarando a minha mãe com um olhar de repreensão mas ela não pareceu se importar.

Nem eu sabia ao certo se já estava pronta pra sair de casa ou não, mas ficar sozinha é que eu não ficaria mesmo. Minha mãe pediu alguns dias de folga apenas pra ficar comigo e não seria justo eu pela milésima vez negar o seu pedido, chegava a me surpreender com a sua preocupação excessiva e eu só não conseguia distinguir se era tudo encenação ou um carinho verdadeiro de mãe, o que quer que fosse, eu estava gostando. Ainda decidida, estava manhã eu havia acordado muito mais bem disposta e iria me esforçar para que tudo acontecesse tal como doutor Jason disse. A mudança tem que partir de mim.

     - Eu... - Terminei de beber o meu suco de laranja enquanto formulava a frase. Eu queria muito poder sair, mas o medo de que alguma coisa ruim acontecesse ainda estava impregnado em mim. - Eu vou com você... Mãe.

Ela abriu um sorriso animada e me abraçou, deveria estar orgulhosa por eu ter conseguido dar mais um passo, afinal, já fazia um mês desde que eu não conseguia sequer sair do quarto, agora eu andava por toda a casa, passeava pelo jardim do lado de fora e agora iria fazer uma viagem de carro até ao shopping. Acho que eu só tinha que me mentalizar de que nada de ruim iria acontecer e que tudo era obra da minha imaginação.

Depois de me despedir de Thomás, subi as escadas até ao meu quarto correndo e procurei por uma roupa no closet, o dia não estava tão frio mas ainda assim senti necessidade de me manter o mais coberta possível, quem sabe assim evitaria olhares desnecessários sobre mim. Penteei o meu cabelo e o deixei solto enquanto me perguntava se precisava sair com mais alguma coisa, não me lembro de alguma vez ter ido ao shopping mas sabia que era um lugar frequentado por muitas pessoas.

     - Vamos? - Minha mãe perguntou a porta do quarto. Assenti. - Ah e... Bem nós... Vamos nos encontrar com uma amiga minha e com a filha dela. Tudo bem pra você?

     - Você não me disse que teria outras pessoas.

     - Eu sei Megan. Mas ela acabou de me ligar. Não se preocupe, vocês vão se dar muito bem.

Ainda nervosa, concordei com a cabeça e a segui até ao carro, o dia estava bastante iluminado e já estava começando a sentir o calor me afligir, mas ainda assim não queria tirar a jaqueta. Enquanto o veículo estava em movimento consegui ver várias pessoas passeando pela rua, umas felizes e despreocupadas, outras tristes ou até mesmo bravas, mas cada uma delas seguia com a sua vida do seu jeito e nem por isso se trancavam num quarto se lamentando como eu fazia.

Me senti patética com esse pensamento inusitado. Paramos pouco depois no sinal vermelho e do lado direito da rua havia uma creche onde várias crianças estavam entrando acompanhadas pelos pais e podia jurar que entre elas estava o doutor Jason. Tentei ver melhor e notei que era realmente ele, estava saindo de um Ford 2018 preto vestido elegantemente num terno azul petróleo que realçava a cor dos seus olhos e uma camisa branca por baixo. Me questionei sobre o que ele estaria fazendo numa creche até vê-lo abrir a porta traseira do veículo e tirar de lá duas lindas crianças pequenas, era um menino e uma menina que não deveriam ter mais de dois anos de idade.

Afinal ele tinha filhos?

O sinal mudou para o verde e vi a creche ficar para trás lentamente, naquele momento tive uma pequena sensação de nostalgia mesmo sem saber explicar, queria poder ter ficado um pouco mais observando aquelas crianças rindo e algumas chorando por motivos bobos. Talvez fosse pelo fato de eu ter estado grávida ainda a alguns dias atrás e ainda não tenha conseguido superar essa terrível perda, eram duas crianças que um dia também estariam frequentando quem sabe a mesma creche que essa e me chamando de mãe com as suas vozes delicadas e angelicais. Poderiam até ser filhos do monstro do Philipe mas elas não tinham que pagar pelos crimes do pai e em momento algum viriam a ser como ele, eu iria providenciar e jurar pra que isso nunca fosse acontecer. Mas agora já era tarde e por mais que tentasse, eu não conseguia tirar esse sentimento de culpa de mim.

Eu matei os meus próprios filhos. Era essa a frase que ainda a alguns dias trás eu acordei pronunciando e com uma forte dor no corpo, talvez eu fosse tão ruim quanto Philipe, talvez todos esses pesadelos com ele significassem alguma coisa. Mas não queria nem pensar nisso.

Poucos minutos mais tarde já estávamos em frente ao tal shopping e o número de pessoas que passava por ali me intimidou. Me encolhi no banco do carro ao lado da porta e senti como se o ar fosse me faltar nos pulmões ou como se tivesse acabado de ver um fantasma, mas afinal desde quando eu passei a ter medo de pessoas? Que droga...

     - Vamos? Acho que elas já estão lá dentro. Ah não, estão ali, olha. - Disse com entusiasmo e segui o seu dedo até encontrar duas mulheres saindo de um carro do outro lado da rua, uma delas era loira e aparentava ser até mais velha que a minha mãe e a outra era uma jovem bastante elegante vestida com um short jeans e uma blusa branca, ela também não parecia estar muito a fim de estar ali.

Saímos do carro e fomos ao encontro das duas, as mais velhas rapidamente se abraçaram como se já não se vissem a anos enquanto que eu permanecia quieta observando toda aquela melação, mas a garota ao lado da mulher abriu um grande sorriso assim que me viu e por um momento olhei pra trás para confirmar se era realmente pra mim.

     - Oi, eu sou a Grace e você?

Antes que eu pudesse responder, minha mãe me arrastou pelos ombros até estar diante das duas, acho que até agora nunca a tinha visto tão feliz.

     - Mafalda, Grace, esta é a minha filha Megan. Olhem pra ela, linda não é?

Desnecessário isso...

     - Então ela é a filha do John? Ela tem realmente os olhos dele. - O silêncio se instalou entre nós quarto e a mulher ficou sem jeito enquanto escutei a tal Grace dar uma risada disfarçada da cara da mãe. - Oh, me desculpa Luísa. Não queria fazer você se lembrar dele.

     - Tudo bem, sem problemas. Você tem razão, ela tem muitos traços do pai ao contrário de Thomás que tem mais traços meus.

Rapidamente a conversa e as risadas escandalosas tinham voltado, minha mãe e a senhora Mafalda pareciam duas adolescentes rebeldes enquanto  procurávamos algum lugar pra comer naquele shopping tão grande. Estava se tornando irritante escuta-las falando sobre alguns assuntos e até nojento sobre outros.

     - Elas não vão calar a merda da boca? - Grace sussurrou próxima ao meu ouvido e não consegui deixar de sorrir. - Daqui a pouco vão começar a falar de como fizeram a gente.

     - Sua mãe é sempre assim? - Perguntei me surpreendendo a mim mesma pela minha coragem.

     - Sempre. Ela acha que tem dezasseis anos. Você acredita que ela uma vez estava tentando dar em cima do meu professor da faculdade? - Dei por mim rindo feito uma louca com o seu tom de voz indignado, Grace era a primeira pessoa até agora que tinha conseguido roubar de mim muito mais que um sorriso. Me senti bem e muito mais leve durante aqueles míseros segundos e me esqueci dos problemas da qual eu estava me escondendo, talvez me trancar no quarto esperando que a morte chegasse não fosse a melhor solução, afinal o mundo não tinha apenas pessoas más. Talvez... Quem sabe.

Casada Com Um Psicopata (Série Mentes Insanas - Livro 1)Where stories live. Discover now