CAPÍTULO 40

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MEGAN

Estava sendo difícil de acreditar que todo o meu pesadelo estava se repetindo. Eu me recusava a aceitar que estava a mercê de Philipe novamente e vulnerável a todo o sofrimento a mais que ele viesse a me causar, mas por um lado era bom, quem sabe assim ele não me mata de uma vez e todo o meu sofrimento termina? Afinal eu já tive a oportunidade de viver como uma garota normal ainda que fosse apenas por alguns dias, os melhores dias da minha vida.

Assim que acordei, os meus olhos encontraram as costas nuas de Philipe debruçado sobre a janela da varanda do quarto mesmo estando bastante frio, ainda não tinha notado mas dali havia uma linda vista para o jardim. Já eram quase treze horas da tarde e com bastante dificuldade sentei na cama me perguntando no que ele estaria pensando preocupado daquele jeito. Poderia até dizer que talvez ele estivesse arrependido pelas coisas horríveis que me fez passar ontem e ainda na manhã de hoje mas logo me lembrei que ele não era esse tipo de pessoa. Philipe não sentia remorso por nada de ruim que possa fazer e muito menos arrependimento. Chego a pensar que ele só vai ficar realmente satisfeito quando conseguir me matar, o que não deve estar muito longe de acontecer.

Ouço-o dar um suspiro pesado e se virar para mim voltando ao interior do quarto lentamente, não queria ter que encará-lo agora - ou nunca mais se possível - por isso rapidamente baixei a cabeça não antes de notar o seu olhar. Normalmente ele nunca demonstrava o que estava pensando numa expressão facial, mas agora até podia dizer que tinha visto algo diferente, como tristeza por exemplo por mais pequena que fosse. Philipe se sentou diante de mim na cama e delicadamente removeu o cobertor que me cobria, ele não iria me machucar de novo, iria?

Céus, de novo não.

Mas ao contrário do que eu pensava ele apenas observou os machucados que fez no meu rosto e peito e os tocou com o polegar, eu estava tremendo mesmo de cabeça baixa porque não sabia qual era a sua real intenção fazendo aquilo. Dei um pequeno gemido de dor quando a sua mão encostou mo meu braço ferido e ele rapidamente se afastou depois de me cobrir de novo.

     - Você está bem?

Bem? A frase recém saída dos seus lábios se repetiu na minha mente várias vezes antes de sequer começar a pensar numa resposta. Mas sabia que tinha de o fazer o mais rápido possível antes que ele se irritasse de novo, mesmo sendo bastante irónico da sua parte estar me perguntando uma coisa dessas.

     - Sim.

Outro suspiro saiu dos seus lábios enquanto ele andava de um lado para outro pelo quarto, algo o preocupava. Eu sabia que sim, Philipe não era assim e caso fosse eu nunca havia conhecido esse seu lado vulnerável antes. Como sempre, ele encheu um copo de bebida e depois de o terminar quebrou-o no chão ao meu lado da cama. Me encolhi sobressaltada quando ele começou a quebrar muitas outras coisas pelo quarto, objetos que visivelmente tinham muito valor. Os seus olhos estavam vermelhos e escurecidos juntamente com todo o seu corpo que estava rígido, ele estava descontrolado e eu temi por mim, queria que ele se esquecesse que eu estava ali antes de querer descontar toda essa raiva em mim também.

     - Eu não queria ter feito isso com você, Megan. - Disse finalmente notando a minha presença ali. O que eu mais temia, quase nem dava atenção as suas palavras e apenas o observava se aproximar a passos rápidos completamente transtornado. - Eu não queria meu amor. Mas essa sua rebeldia não me deixa outra escolha. Tudo isso é culpa sua! Tudo seria tão mais fácil se você colaborasse... Se você apenas me obedecesse fazendo tudo o que eu quero. - Suas mãos fortes seguraram os meus braços e quase gritei quando senti uma pontada forte de dor no esquerdo, ele estava me machucando mesmo inconscientemente.

     - Philipe... - Disse com lágrimas nos olhos mas ele pareceu não escutar, estava mais ocupado dizendo palavras desconexas e tentando me beijar

     - Eu te dei tudo, Megan, tudo! - Berrou. - Qualquer mulher nesse mundo iria querer estar no seu lugar, mas porquê você tinha que ser tão diferente? Porquê tinha que ser tão rebelde? - Por um momento ignorei a dor que estava sentindo para olhar nos seus olhos e constatar o que já desconfiava. Philipe estava chorando mesmo com com a expressão facial enraivecida e me perguntei se deveria me preocupar, não por ele, mas por mim, afinal nunca tinha visto esse seu lado antes. - Você foi a única pessoa que eu achei ser o meu porto seguro. Mas porquê? Porquê teve de agir como todo o resto da minha família? PORQUÊ?

Meus deus, ele está louco.

O meu marido estava completamente fora de si e muito mais louco do que eu pensava que fosse, parecia estar bêbado ou até mesmo drogado mas em nenhum momento o vi tendo contacto com nenhuma dessas substâncias a não ser um copo de whiskey agora quebrado e com certeza apenas um copo não causaria esse efeito nele.

     - Jason teve a oportunidade de viver em paz e podia fazer tudo o que quisesse. Mas eu não podia, o centro das atenções era sempre eu. Eu era sempre o coitadinho doente que precisava ser ajudado e ser afastado da sociedade. - Philipe depois de um tempo pareceu cansado e se sentou apoiando a sua cabeça no meu peito. Não podia afastá-lo, não antes de escutar o resto do seu desabafo. - Eles tiveram o que mereceram, todos eles. Os colegas da minha escola, Ashley, meus pais, todos eles.

O seu tom de voz passou de triste para enraivecido novamente e ele se levantou me encarando.

     - E você? O sente por mim? Você ao menos me ama? - Demorei para formular a frase e isso o enfureceu, eu não podia simplesmente mentir pra ele dizendo que o amava, não depois de tudo. - Não escutou a minha pergunta? Você tem que amar, entendeu? E eu não estou pedindo.

Assenti rapidamente, não seria bom contrariá-lo nesse momento. E ainda com um pouco de coragem que tinha em mim acabara de ter uma ideia, tinha de tentar pelo menos nesse momento em que ele estava vulnerável.

     - Philipe, me deixa te ajudar. - Toquei os fios macios e sedosos do seu cabelo, uma observção que só agora depois de meses de casada eu tinha feito

     - Me ajudar como?

     - Eu prometo amar você, mas só se você aceitar se tratar, você precisa de ajuda. De... Um psiquiatra talvez.

As minhas palavras foram o suficiente para trazer de volta o antigo Philipe arrogante e egoísta. Ele se levantou rapidamente e saiu do quarto me dando as costas depois de recuperar a sua postura de soberano, mas não antes de dizer friamente.

     - Eu não preciso da merda da sua ajuda. Você só tem que me obedecer fazendo o que eu quero e pronto.

A porta do quarto se fechou com um estrondo e eu suspirei aliviada, pelo menos eu tentei sem sair machucada. Obviamente que depois de tudo o que Philipe me fez passar eu seria incapaz de voltar a ter qualquer tipo de relacionamento normal com ele por mais que ele mudasse e se tornasse o homem mais carinhoso do mundo. Nesse momento eu tinha demasiado ódio dele e com certeza nunca esqueceria nenhum dos momentos que vivi aqui, mas confesso que hoje senti algo diferente por ele, não foi um sentimento bom, muito pelo contrário. Senti pena dele, pena e nada mais, só hoje depois de tanto tempo passou pela minha cabeça que talvez ele também tenha sido um dia apenas mais uma vítima da sociedade que hoje se tornou num vilão procurando vingança de tudo e todos.

 Senti pena dele, pena e nada mais, só hoje depois de tanto tempo passou pela minha cabeça que talvez ele também tenha sido um dia apenas mais uma vítima da sociedade que hoje se tornou num vilão procurando vingança de tudo e todos

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Casada Com Um Psicopata (Série Mentes Insanas - Livro 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora