💙CAPÍTULO 9💙

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💙Alicia:

     Hipersensibilidade.

     Provavelmente todas as pessoas ouviram essa palavra, mas poucas sabem o que isso realmente significa para aquele que convive a todo segundo com ela. Como eu há 17 anos, 2 meses e 6 dias.

     Resumidamente, isso queria dizer que meu sistema imunológico é hipersensível, ele adora ter reações exageradas a qualquer substância estranha - ou mesmo algo aparentemente inofensivo - que seja percebida no meu corpo. E aquilo, ligado a minha asma, era um ótimo jeito para morrer de forma agonizante. Como, provavelmente, aconteceria comigo se eu não parasse de correr e fosse buscar medicamentos e minha bombinha.

     Mas eu não queria me importar com isso ou com o quanto minha orelha estava coçando, só queria alcançar aquele idiota logo. Como ele pôde? Eu faço ele ter diarreia e ele tenta me matar?

     Comecei a coçar os meus braços, parando de correr e, infelizmente, tive que me  conformar com o fato de que não conseguiria alcançá-lo. Tentei respirar fundo, mas meus pulmões não estavam me obedecendo. Olhei para os meus braços, onde já nasciam manchas vermelhas e coloquei a mão sobre meu peito.

     - Minha bombinha. - minha voz saiu muito baixa, seguida por uma tosse seca - Eu preciso da minha bombinha.
Tentei respirar mais uma vez, mas não consegui, o aperto no peito aumentou, enquanto minha pele coçava cada vez mais, assim como meus olhos. Coloquei minhas duas mãos nos joelhos, tentando respirar mais uma vez, só que a única coisa que consegui foi ter uma breve crise de tosse.

     - Alicia. - ouvi meu nome longe e levantei a cabeça, vendo o rosto de Fred perto do meu, sua boca abriu e fechou como se ele estivesse dizendo algo. Não entendi uma palavra sequer.

     - Bombinha. - tentei gritar. Não sei se funcionou.

     Seus olhos se arregalaram e ele saiu correndo, me sentei no gramado e tentei pensar em outras coisas que não fosse a falta de ar ou a coceira por todo o meu corpo. Mas só conseguia pensar em quantas pessoas estavam vendo aquela crise e em como eu odiava o cara de cu.

     Passei as mãos pelos meus cabelos por não saber onde colocá-las, pois queria estar com uma mão no peito, uma coçando meus braços e pernas, e outra coçando meus olhos. Senti uma mão na minha testa e em seguida, vi a bombinha à minha frente. A agarrei como se ela fosse - e era mesmo - a minha salvação, agitei e inalei, me concentrando em respirar corretamente. Fiz a mesma coisa por mais três vezes, de olhos fechados, até sentir que meus pulmões estavam prontos para qualquer coisa novamente.

     Abri meus olhos lentamente, vendo o círculo de pessoas ao meu redor. Respirei fundo e abri um sorriso cansado, fingindo que aquilo não havia sido nada de mais.

     - Preciso de remédio para alergia. - minha voz saiu falha e mais aguda que o normal.

     A professora se agachou e passou a mão pelo meu braço e depois no meu rosto, com uma expressão um pouco preocupada.

     - Vou te acompanhar até a enfermaria. - ela falou, se levantando e me ajudando a levantar - O que será que te causou essa alergia?

     - Não sei. - falei, olhando para um Dylan com os olhos arregalados, atrás de um menino um pouco mais alto que ele e extremamente magro.

💙

     Recebi uma injeção para cessar a alergia e fui liberada das aulas após o almoço, no qual não tive a menor vontade de ir, pelo sono que o antialérgico sempre me causava. Por isso, apenas me encaminhei para o dormitório praticamente vazio.
Entrei no quarto e tranquei a porta, sabendo que as outras garotas com quem eu dividia o quarto deviam ter a chave delas. Tirei aquela roupa feia e me deitei, apenas com minhas roupas íntimas, na cama macia. Abracei meu próprio corpo, sem soltar a bombinha da mão direita, vendo as manchas vermelhas que ainda não tinham saído de mim. Provavelmente meu olho também estava inchado, mas não tive coragem de olhar no espelho. Comecei a pensar no que podia fazer para me vingar de Dylan, sem me esquecer de Fred. Eu tinha que pensar em uma maneira inteligente e extremamente dolorosa para agir com eles. Mas não consegui concluir nenhum de meus pensamentos ou planos, pois meu corpo cedeu ao remédio e se apagou.

Nem tudo é azulWhere stories live. Discover now