💙 CAPÍTULO 44 💙

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💙Alicia: 

     Já se passavam das duas da manhã, os convidados já haviam ido embora, só estavam ali no jardim cheio de mesas vazias, meus pais, os pais de Dylan, os recém casados, eu e o cara de cu, que estávamos sendo ótimas tochas olímpicas. Virei o resto do meu chopp e coloquei o copo em cima da mesa. Iríamos passar o dia todo na chácara, pela manhã alguns diaristas iriam limpar aquele fuzuê, enquanto nós daríamos uma de escoteiros. Na segunda à noite, Talyane e Rodrigo iriam viajar para Punta Cana, onde iriam passar a lua de mel.

     Abracei meu próprio corpo, sentindo o cheiro do perfume do Dylan mais uma vez e fingi me esquecer de devolver o paletó, quando passei por ele e lhe desejei boa noite, indo para o quarto que iria dormir. Não queria tirar aquele paletó nem ao me deitar na cama, continuei inspirando aquele cheiro forte, mas um forte muito bom, que me deixava inebriada. Talvez não fosse o cheiro, eu podia estar um pouco bêbada também. Álcool. Sim, só podia ser aquilo que estava me deixando... excitada. Álcool e perceber que três casais estariam transando naquela casa.

     - Para de pensar nisso, Alicia. - resmunguei, dando um tapinha no meu rosto. Me levantei da cama apenas para tirar o paletó e voltei deitar, cobrindo o meu rosto com as mãos - Não! - olhei para o paletó ao meu lado, me lembrando do Dylan nele - Sai da minha cabeça, cara de cu. - me sentei na cama e soltei meu cabelo, respirando fundo - Que porra 'tá acontecendo aqui?

     Coloquei a mão sobre o paletó novamente, bufei, me levantei e tirei o vestido, indo para o banheiro tomar um banho. Mas nem ao passar aqueles minutos embaixo da água, nem ao colocar só a minha blusa de moletom azul e a minha calcinha, e muito menos enquanto eu penteava meus cabelos molhados olhando para o espelho, não conseguia parar de pensar em como o Dylan havia ficado muito mais lindo naquele terno. À todo momento, meus pensamentos viajavam para o quarto do colégio, num Dylan sem camisa sentado no chão enquanto me beijava pela primeira vez.

     Abri um sorriso olhando para as minhas mãos, imaginando que embaixo delas estavam as pequenas florzinhas azuis que havia no meio das árvores do colégio, imaginando aquele lugar que eu tinha como meu, mas que nunca fiquei sozinha nele. Aquilo era tão estranho, sempre soube que mesmo infernizando o Dylan e falando que o odiava, havia um carinho muito especial, porém via aquilo como resposta ao fato de crescermos juntos. Era como se fossemos irmãos de alguma forma.

     Mas agora era diferente e muito estranho. O jeito como estava pensando nele havia mudado, ou talvez só tivesse aceitado aquele sentimento que ainda não conseguia nomeá-lo. Peguei o paletó em cima da cama e inspirei seu cheiro, fechando os olhos. Respirei fundo e senti meu coração acelerar quando admiti para mim mesma o que verdadeiramente queria naquele momento. Abri os olhos rapidamente e sai do quarto, caminhando em passos firmes pelo corredor em direção ao quarto dele.

     Talvez ele já estivesse dormindo ou não quisesse me ver naquela hora da madrugada, mas eu iria arriscar. Não estava completamente sóbria, porém também não estava bêbada, sabia muito bem o que queria fazer e que não tinha nada relacionado a bebida. Apertei o paletó em minhas mãos com mais força, como se fosse algum tipo de amuleto da sorte e virei o corredor que enfim me levaria ao meu destino. Senti meu rosto bater na parede e coloquei a mão sobre o meu nariz, sentindo ele arder, levantei os olhos e os arregalei assim que vi a "parede".

     - Eu... - falamos juntos e começamos a rir, ele não estava mais de terno e, sim de bermuda preta e uma camiseta cavada vermelha, seus cabelos estavam molhados e bagunçados.

      - Pode falar primeiro. - quebrei o silêncio, desviando os olhos me sentindo um pouco sem graça.

     - Eu só ia buscar um copo de água na cozinha. - respondeu, passando a mão pelos cabelos e depois brincou um pouco com o piercing na sua sobrancelha, parecendo um pouco desconfortável.

     - Ah. - engoli em seco, me lembrando do paletó - Aqui, eu só ia te entregar isso.

     - Ah sim. - abriu um sorrisinho de lado - Podia entregar amanhã.

     - Claro. - comecei a rir, acho que havia acabado de descobrir o que fazia quando ficava muito envergonhada e sem jeito - Só pensei que talvez... você sabe, é... você quisesse dormir com ele.

     - Dormir? - olhou para o paletó - Claro, é bem quentinho, certo?

     - Sim, exatamente, você com certeza não vai ficar com frio se dormir com ele.

     Que porra é essa...

     - Pode deixar, chorume. -olhou para trás e voltou a me encarar, passando a mão nos seus cabelos - Na verdade, eu não ia buscar água.

     - Não? - senti meu coração acelerar mais um pouco.

     - Não. - comprimiu os lábios - Ia ver se você estava dormindo.

     - Não estou. - apontei para mim mesma e logo cruzei os braços percebendo o quanto aquilo tinha sido estranho - Por que você ia ver se eu estava dormindo?

     - Pra... - tossiu e limpou a garganta - Só pra saber da trégua, se já acabou e...

     - Sim. - respondi rápido - A gente já pode voltar a se odiar, o casamento acabou.

     - Que bom. - fechou os olhos com força e os abriu - Muito bom mesmo.

     - Só que antes da trégua acabar de vez, eu quero fazer uma coisa. - agora, definitivamente, meu coração iria sair pulando pelo corredor.

     - O que? - me olhou confuso.

     - Isso. - me aproximei, tentando não pensar muito, fiquei na ponta dos pés, olhei para sua boca e o beijei.

     O beijo era calmo, lento, suave e ao mesmo tempo com uma intensidade que despertava sentimentos que só ele havia sido capaz de despertar em mim. Sentimentos muito mais intensos nos últimos meses. Senti suas mãos apertarem minha cintura e me encostar na parede, grudando seu corpo ao meu, minhas mãos subiram para os seus cabelos bagunçados. À medida que o beijo criava mais intensidade, nossa respiração ficava ainda mais ofegante e tinha quase certeza que estava parecendo uma gelatina em seus braços.

     - Você... - ele desgrudou nossos lábios, olhando em meus olhos, passei o polegar suavemente pelo piercing em sua sobrancelha e abri um sorrisinho que provavelmente me fez parecer uma retardada - Você me deixa louco de todas as formas possíveis.

       Queria dizer que ele também estava me deixando louca, que eu já estava parecendo uma maníaca porque pensava nele a todo momento, que me importava, que ele era importante para... mas não consegui por nenhum pensamento em palavras, então voltei a beijá-lo. Eu podia fazer aquilo para sempre. Quer dizer, beijar é bom, então eu poderia beijar para sempre, não necessariamente ele... se bem, que no momento era apenas ele que eu queria.

       - Vamos para o seu quarto. - sussurrei, fazendo ele rir e acariciar meu rosto - Vamos…

       - Não precisa falar duas vezes. - passou os braços pelas minhas pernas e as fez abraçar sua cintura, me carregando para o fim do corredor. O abracei como se a minha vida dependesse daquilo, sentindo ele beijar todo o meu colo e, quando entramos em seu quarto, suspirei, completamente entregue aquele momento, me sentindo mais sóbria do que nunca. E, pela primeira vez, não me preocupei com câmeras.

     Eram só eu e ele.

Nem tudo é azulOnde histórias criam vida. Descubra agora