🖤CAPÍTULO 14🖤

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🖤Dylan:

     Continuei encostado na parede do corredor, apenas ouvindo o toque que saia do piano e que, impressionantemente, Alicia era um dos motivos dele ser tão lindo.

     Não que ela fosse linda, ela apenas tocava muito bem e aquilo eu tinha que admitir. Então, fechei os olhos e ouvi cada nota que percorria os corredores vazios da escola. Nunca havia imaginado que tinha sentido tanta saudade de ouvi-la tocar até aquele momento.

     Assim que o silêncio se instalou, abri os olhos e andei o mais rápido possível até a saída, já que uma das últimas coisas que podiam acontecer era ser pego espiando-a. Cumprimentei Affonso que estava na porta do prédio escolar e caminhei um pouco mais calmo até o refeitório, onde quase todos os alunos deveriam estar.

      Antes de entrar no refeitório, olhei para trás a tempo de ver uma sombra correndo para o meio das árvores. Parei e franzi o cenho, vi que Affonso trancava o prédio escolar, olhei para os lados e não vi mais ninguém além de nós dois ali, só conseguia ouvir o barulho de conversas que vinha as minhas costas e algumas luzes acesas pelas janelas dos quartos do dormitório.

      Balancei a cabeça e antes de pensar muito, fui movido pela curiosidade e corri para o mesmo lugar onde a sombra - que eu esperava não ser um assassino e sim, Alicia... se bem que era quase a mesma coisa - havia entrado. A lua estava cheia, o que deixava o lugar bem iluminado, mas isso não cessava meus calafrios.

      Caminhei fazendo o mínimo de barulho possível, até chegar a um lugar onde as árvores formavam uma espécie de círculo ao redor de algumas flores bem pequeninas que formavam algo parecido com um tapete no chão de terra. Vi Alicia - percebi que era ela pela bola de cabelo mal feita no meio de sua cabeça - se agachar e sentar em uma pedra, depois curvou suas costas para frente e acariciou as flores, que percebi serem de um azul bem claro.

      - Vai tomar no seu cu, Dylan. - ela falou, sem olhar para mim, ainda passando os dedos levemente pelas flores, me fazendo arregalar os olhos e engolir em seco - Você não é nem um pouco discreto, cara.

      - Nunca quis ser discreto. - dei de ombros, me aproximando e agachando ao seu lado.

      - Ah, claro. - ironizou, suspirou e virou o rosto para me olhar, sua expressão estava calma, serena, mas o brilho travesso continuava em seus olhos - Sabia que você é um baita de um cuzão?

      - Sim. - respondi como se fosse óbvio - Acha que você aprendeu a ser cuzona com quem?

      - Comigo mesma, não preciso que ninguém me ensine ser o que nasci para ser. - abriu um sorriso de lado.

      - Ok, garota que não sabe nem afinar um piano, sendo que fez isso por uns 10 anos. - abri um sorriso, claro que eu tinha que implicá-la de alguma forma, mesmo sabendo que ela toca super bem.

      Seu sorriso leve desapareceu, dando lugar a um completamente falso.

      - Se você não quiser acabar como as suas roupas, acho melhor calar a boca e dar o fora. - respondeu, enquanto sua expressão se tornava séria e seus olhos azuis ganhavam um aspecto negro.

      - O lugar não é seu para você me mandar embora. - me sentei no chão. Não iria embora de jeito nenhum, ainda mais depois que ela havia mandado.

      - Você é insuportável. - bufou, desviando os olhos de mim e focando-os nas flores a sua frente - Sério, você parece uma criança.

       - Quem parece uma criança é você. - retruquei, também olhando para frente - Super adulto cortar roupas e pinchar o guarda roupa, certo? - minha voz estava acompanhada de sarcasmo - Também acho super adulto jogar um balde de água nas pessoas e ser empata sexo, sem contar o quão adulto é colocar laxante em energético...

      - Ah, é? - ironizou, me interrompendo - E você acha adulto e legal causar alergia em alguém?

      - Qual é, chorume? - passei as mãos pelas flores - Vamos combinar que você me irrita muito mais.

      - Vamos combinar merda nenhuma não.

      - Foi só uma maneira de falar, é óbvio que a gente nunca vai conseguir combinar em nada.

      - Claro, você já colocou pregos, literalmente, na minha cama.

      - Você já me fez comer cocô!

      - Você já deu minhas... Minhas calcinhas para os seus amigos!

      Nossas vozes foram aumentando o tom gradativamente, assim como a nossa incredulidade.

      - Você já enterrou a minha cabeça no seu bolo de aniversário! Qual foi o sentido daquilo?

      - Você já me prendeu dentro de um freezer, no meu aniversário de 15 anos! Eu que pergunto o sentido daquilo.

      - Isso foi a melhor coisa que aconteceu no seu aniversário. - assim que as palavras saíram da minha boca, me repreendi por aquilo, porque ela não retrucou, apenas se levantou.

      - Eu vou jantar, antes que algum monitor apareça. - suspirou, caminhando para longe de mim.

      Me levantei, com uma raiva que eu nem sabia o motivo, apertando no meu peito. Abri a boca para me desculpar e a fechei no mesmo instante. O melhor era ficar calado.

      - Ah. - ela parou, se forçando a sorrir- Você se masturbou vendo o video?

      - O que? - tentei gargalhar - Óbvio que não, você é... feia e ridícula.

      - Que xingamento mais amigável. - suspirou - Realmente espero que não. - e com isso, sumiu no meio das árvores.

      - Vai tomar no seu cu. - resmunguei, bagunçando meus cabelos.

      Pensar naquilo fazia uma dor esquisita apertar meu peito. Claro que eu não tinha feito aquilo. O problema era que, por mais que eu não quisesse admitir, uma parte minha sabia que se fosse apenas ela ou tudo tivesse acontecido em circunstâncias diferentes, talvez eu tivesse feito.

    Balancei a cabeça tentando afastar as lembranças. Não podia e não queria pensar naquilo.

Nem tudo é azulWaar verhalen tot leven komen. Ontdek het nu