🖤 CAPÍTULO 39 🖤

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🖤 Dylan:

     Olhei para Alicia que dormia profundamente com a cabeça encostada na janela. Como ela conseguia ignorar o mundo tanto a ponto de dormir no carro sem nem se importar com as pancadas ou a música que pareciam de discotecas que meus pais ouviam? Respirei fundo e voltei a encarar o caderno à minha frente. Não conseguia acreditar que depois de anos eu estava voltando a desenhar, ainda mais ela. Eu podia estar desenhando tudo nesse mundo, mas estava perdendo o meu tempo tentando fazer o  mais perfeito e real olhar de Alicia. Não conseguia parar de pensar naquela praga, muito menos nos seus olhos antes de me beijar e caramba... o beijo. Nada no mundo me fazia esquecer a festa de sexta a noite, nem o final de semana todo procurando terno para casamento, nem o sermão de meus pais, muito menos o fato de ainda estar sem meu celular. Nada disso me fazia esquecer.

       Era toda maldita hora pensando na porra do chorume, sentindo como se seus lábios ainda estivessem pregados nos meus. Eu tinha até sujado meus lençóis de noite, caralho. Isso não acontecia nem quando eu assistia pornô, quer dizer, às vezes acontecia. Mas, era proposital, não quando eu estava dormindo e sonhando com a garota que cresceu comigo. Bufei e voltei a desenhar, já que aquele estava sendo o único meio de me manter menos louco.

       - Dylan? - minha mãe chamou - O que você está fazendo?

       - Nada. - respondi, sem olhá-la.

       - Você voltou a desenhar? - pude imaginar o sorriso em seu rosto.

       - Não. - fechei o caderno e apoiei minha cabeça na janela.

       - Claro que voltou, amor. - meu pai falou - Ele pediu para que eu comprasse outro kit de lápis para desenho.

       - Sério? - ouvi sua risada - Isso é maravilhoso, filho.

       - Eu só quis um presente diferente de aniversário. - resmunguei e fechei os olhos.

       - Posso ver o que você está desenhando? - minha mãe perguntou.

       - Não. - tudo que eu queria era ter a sorte da Alicia e dormir também.

       - Para de dar uma de durão, Dylan. - meu pai falou, em tom brincalhão.

       - Para de encher meu saco. - abri os olhos e olhei para a estrada, nunca pensei que diria aquilo, mas... ainda bem que estávamos quase chegando ao colégio.

       - Para com isso. - ele sorriu - Conta para a gente, quem é?

       - Quem é o que? - franzi a sobrancelha.

       - A garota. - me olhou pelo espelho.

       - Não sei do que você está falando. - revirei os olhos.

       - Ou o garoto.

       - O que?

       - Talvez você esteja explorando outras coisas pra ver se gosta, tudo bem se...

       - Não, pai. - o olhei perplexo - Não estou explorando, continuo gostando de garotas.

       - Então, fala para a gente quem é. - deu de ombros.

       - Mas, não tem ninguém. - comecei estralar os meus dedos.

       - A Alicia está dormindo. - minha mãe olhou para trás para conferir - Ela não vai ficar rindo de você, pode falar com a gente.

       - Não tem ninguém. - me espreguicei - Esqueceram que me colocaram em um convento?

       - Olá, seu padre. - meu pai gargalhou - Tudo bem com você?

Nem tudo é azulWhere stories live. Discover now