💙 CAPÍTULO 80 🖤

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♾️ Alicia:

     A campainha tocou, fazendo minha mãe arregalar os olhos e olhar assustada para meu pai. Dei de ombros e coloquei um pedaço de lasanha na boca, o obrigando descer. Minha mãe levantou e desapareceu pela porta, para minutos depois aparecer com um enorme bolo decorado de azul e alguns desenhos de pequenas borboletas, me fazendo arquear uma sobrancelha.

       - Feliz Aniversário? - meu pai abriu um sorriso nervoso.

       - Desculpa, meu amor. - minha mãe colocou o bolo em cima da mesa - Eu já tinha encomendado e esqueci de cancelar. - respirou fundo e sorriu - Feliz Aniversário.

       - Feliz? - comprimi os lábios e mexi a lasanha no meu prato - Valeu.

       - Que bom que completou 18 anos. - Abigail abriu um sorrisinho - Melhorou?

       - É. - dei de ombros e me levantei - Estou satisfeita.

       - Espera, vou chamar a Thaís e o André pra partimos o bolo. - o sorriso de minha mãe desapareceu ao ver minha expressão. Não os via desde o velório. - Ou não.

       - Podem partir o bolo. - caminhei até o balcão e peguei o desenho que havia deixado ali - Mais tarde eu como um pouco.

       - Filha... - meu pai me olhou preocupado.

       - Eu estou bem. - tentei sorrir - Não precisa se preocupar.

       Me dirigi para o jardim e sentei numa das cadeiras de sol perto da piscina, apoiando minhas costas. Olhei para o desenho alvo de minha atenção na última semana e me lembrei novamente do dia que Dylan havia me dado, dizendo que eu era como aquela rosa azul em chamas que nunca se queimava. Já havia decorado cada detalhe, só faltava decorar o que havia escrito em seu verso.

       Na noite do velório, não consegui dormir novamente. Pensei em tocar piano, mas não queria acordar o resto da casa, se bem, que nem sei se eles haviam conseguido dormir também. Também havia me esquecido que estava em casa e não no colégio, então não tinha piano. Por isso, fiquei olhando o desenho e tentando me lembrar dos nossos momentos, pois, o medo de esquecer algum detalhe me deixava louca. Não podia e não queria esquecer nenhum detalhe do que havia vivido com Dylan e, não confiava na minha memória. Sabia que jamais esqueceria-o, assim como não deixaria de amá-lo. Mas, há alguns anos, iria lembrar dos detalhes como me lembro hoje? Muito provavelmente não ou sim, não fazia ideia de como funcionava a mente humana, só sabia que não podia esquecer. Então, me lembrei de um poema que lemos na sala de aula, não me lembrava do nome, nem do autor, só da parte "que seja infinito enquanto dure"; pesquisei e o encontrei "Soneto da Fidelidade", acabei escrevendo no verso do desenho.

       Nós iríamos ser infinitos, pois, mesmo que aparentemente tivessem acabado com sua morte, o amor que sentia viveria para sempre. Pensar aquilo foi meu único conforto durante a semana. Menos naquele dia, isso me fez segurar aquele desenho e continuar lendo o poema tentando encontrar um pouco de paz.

       Nunca havia passado meu aniversário sem ele. Já havia passado sem meus pais, pois tiveram que ir em uma reunião em outro estado. Mas sem ele... nunca. Quer dizer, agora sim.

       Suspirei e fechei os olhos, abraçando o desenho, para segundos depois ouvir passos se aproximando e, depois, uma mão em minha testa. Abri os olhos um pouco assustada e senti meu coração acelerar ao ver André. Nunca tinha prestado atenção em como seus olhos eram exatamente iguais aos do Dylan.

       - Oi. - abriu um pequeno sorriso e se sentou ao meu lado - Como você está?

       - Não sei. - engoli em seco e olhei para a pasta em suas mãos - Como vocês estão?

      - Sobrevivendo. - engoliu em seco - Thaís ainda não consegue levantar da cama dele e eu… eu tô tentando. Não posso desmoronar também, mas dói muito. Muito mesmo.

      - Entendo. - apontei para a pasta em suas mãos - Isso...

       - Sim. - me entregou - É do... era do Dylan. - engoliu em seco novamente e seus olhos se encheram de água.

       - Ele guardava os desenhos aqui. - acariciei a pasta, sentindo que poderia chorar a qualquer minuto.

       - Eu e Thaís estávamos vendo algumas coisas no quarto dele. - comprimiu os lábios - E achamos isso, como hoje é seu aniversário, concordamos que seria um ótimo presente.

       - Sim. - sorri, enquanto uma lágrima caía - É perfeito, mas, se vocês quiserem ficar, eu vou entender.

       - Pegamos uns dois. -  sorriu - Mas os outros pertencem a você.

       - Que bom. - suspirei aliviada - Falei que vocês poderiam ficar porque estava querendo ser compreensiva.

       - Imagino. - desviou os olhos para a piscina - Seu pai levou o quadro para o seu quarto também.

       - Quadro? - perguntei boquiaberta - Ele me disse que não tinha terminado.

       - Não terminou, um pouco da parte de baixo ainda está sem pintar. - enxugou uma lágrima que caiu - Ele seria um grande artista e, quando decidiu pintar seu primeiro e único quadro, pintou o rosto da garota que amava. O quadro também te pertence. Ele te amava muito.

       - Eu sempre vou amar ele, André. - lágrimas começaram cair de meus olhos - Queria ter dito isso mais vezes.

       - Ele sabia. - me olhou, colocou a mão em meu ombro e sorriu - E o bebê?

       - Ainda não chuta. - tentei brincar e sorri - Eu vou ter o bebê.

       - Você sabe que iremos te apoiar em qualquer decisão, certo? - colocou a mão em minha barriga - Quero muito ver o fruto do amor de vocês, mas, não quero que se sinta obrigada a isso.

       - Eu sei. - sorri e limpei minhas lágrimas - Nunca pensei que iria querer um bebê, mas eu quero esse.

       - Fico feliz. - sorriu, respirando fundo e se levantou - Vou ver como a Thaís está.

       - Muito obrigada, André. - mais lágrimas caíram de meus olhos, mas não de tristeza e sim de felicidade e gratidão - Significa muito para mim ter os desenhos e o quadro dele, muito obrigada mesmo.

       Então, ele apenas confirmou com a cabeça e saiu do jardim. Respirei fundo e abri a pasta. O primeiro desenho era de nós dois no baile da escola, com grandes sorrisos, depois vinha um do nosso lugar com as flores azuis, onde estávamos sentados de costas, seguido da minha imagem segurando um bebê e enrugando o nariz, um dele com o violão, em outro, eu estava sentada em frente ao piano, também havia um de nós na piscina e outro que me arrancou ainda mais lágrimas, um desenho de mim dormindo. Sorri, mesmo em meio às lágrimas, olhando para cada um dos desenhos e, senti meu medo de esquecer os detalhes desaparecer aos poucos. Aqueles desenhos eram muito melhores do que fotos, ou algum diário que eu pudesse escrever com todos os detalhes e, o fato de Dylan ter desenhado deixava aquilo infinitamente especial. Mais do que nunca, tive a certeza do quanto o que sentíamos era infinito.

       - Olha. - peguei o desenho do baile e coloquei em frente à minha barriga - Acho que você ainda não me ouve, mas, foi o papai que desenhou isso. Não precisa se preocupar, você vai conhecer ele, mesmo ele nunca podendo te pegar no colo ou... brincar com você. Você vai conhecer a essência dele e isso... porra. - arregalei um pouco os olhos - Acho que não posso falar palavrão. O que quero dizer é que a essência diz muito sobre um pessoa e, se ele estivesse aqui, eu sei que também te amaria.

Nem tudo é azulWhere stories live. Discover now