2. A descoberta ☎️

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  Por incrível que pareça, a semana havia passado tranquilamente. A imprensa não veio atrás de mim, cancelei todas as reuniões, rejeitei contratos, pois eu precisava focar naquilo que sonhei para ser.
  Nesse período de "folga da mídia", consegui ajeitar o cronograma da empresa. Tive tempo para ouvir os funcionários. Críticas, ideias, etc. Fazia tempo que não seguia essa rotina.

Ah, paz.

Sinto meu celular vibrar no bolso da calça. Teresa. Bom, para ela estar me ligando é algo muito grave.

— Diga, mama. — sorri, mas logo fiquei preocupado ao ouvir gritos.

— Filho... Venha para casa de seu irmão. É urgente!

— Cala a merda da boca!

E ela desliga. Droga! Thalles deve ter descoberto a traição. Dei um pulo da cadeira, pegando minha pasta e saindo pela porta como um furacão.

— Vicky, vou precisar sair. Aconteceu alguma coisa com meu irmão. — digo sem parar de caminhar. — Cancele tudo que tenho hoje!

Apertei o botão freneticamente e logo as portas se abrem. Não daria tempo de ligar para Leopoldo. Tenho que ir de táxi mesmo.

Cerca de quinze minutos, cheguei no portão do condomínio. Paguei o motorista e corri em direção a casa. Da varanda era possível ouvir xingamentos e discussões. 

— VOCÊ É UMA VAGABUNDA! EU FIZ DE TUDO PELA NOSSA FAMÍLIA E VOCÊ DESTRUIU! VOCÊ TINHA TUDO QUE QUERIA. VIAGENS, COMPRAS, ROUPAS CARAS, DINHEIRO, ACIMA DE TODOS ESSES BENS, EU TE DAVA AMOR, MAS DECIDIU DESTRUIR! EU ODEIO VOCÊ! ODEIO!

  Leopoldo segurava os braços de meu irmão enquanto Teresa amparava a bruxa da minha ex cunhada. Dei graças ao céus que Kate estava na escola.
  Havia mais um homem na casa que parecia assutado com a cena. Suponho que seja o amante. Agora tudo estava claro. Meu irmão fez uma viagem de negócios, me representando. Eu sabia que voltaria hoje, mas pensei que iria passar primeiro na empresa. Suponho que queria fazer uma surpresa para a bruxa e acabou vendo o que não devia.

— Thalles... — a hipócrita chorava.

— NÃO USE MAIS O MEU NOME NA MERDA DA SUA BOCA! POR QUE NÃO ME CONTOU, ELIZA? ERA SIMPLES DIZER QUE NÃO ME AMAVA MAIS... — as lágrimas desciam de seu rosto. — Pode me soltar, Léo. Não tenho a coragem de bater nessa... Eu odeio você, Eliza. Não quero te ver nunca mais na minha vida. NUNCA MAIS! E você... — aponta para o rapaz que se manteve quieto. — Pode ficar. Vocês se merecem. — disse ríspido e subiu as escadas em passos largos.

  Não pensei duas vezes e fui atrás dele, mas fui impedido por minha mãe.

— Agora não! Se for, ele vai descontar toda raiva em você. Espere o mesmo digerir isso.

Olhei para a escada por alguns segundos e depois curvei a cabeça. Meu coração doía muito. Eu sentia isso pelo meu irmão. Assim como nunca suportou me ver tendo crises de estresses e quebrando tudo dentro de casa, também não suporto vê-lo dessa forma.

— Como ele descobriu? — encarei a bruxa que estava encolhida no sofá.

— Ele... Flagrou no ato. — o rapaz responde com a voz baixa. Em seu olhar carregava sentimentos. Ele parecia amá-la. — Não é querendo sair ileso, mas eu avisei a ela assim que descobri que era casada, que se não estava satisfeita com o casamento, era melhor dizer. Não vou negar que tenho muita culpa no cartório por continuar com esse relacionamento mesmo sabendo que ela já era comprometida... Mas só descobri quando me apaixonei.

Havia verdade e sinceridade em suas palavras. Eu não sabia qual é a sensação de estar apaixonado, mas consegui ver nos olhos dele.

— Sugiro que pegue suas coisas e vá para casa, depois você resolve com ela. Aliás, leve-a junto, porque meu irmão não vai querer descer sabendo que a mesma ainda está aqui. — falei e ele assentiu.

— Theodore? — chama-me, mas não consigo olhar em seu rosto. — Quero que leve minha filha para sua casa, depois eu volto para buscá-la. Creio que  quando Thalles estiver mais calmo,  vamos conversar sobre a guarda da menina.

— Eu não vou levar minha sobrinha porque você está pedindo, Eliza. Eu vou levar, porque ela não merece uma mãe como você. Ainda que seus cuidados para com ela seja grande.

  Deixei todos na sala e segui para o corredor que dava acesso ao quintal da casa. Aquela sensação ruim me cercou. Tentei respirar fundo, mas esqueci como se fazia aquilo. Chutei a lata de lixo e alcancei meu celular no bolso. Disquei o número da linha de ajuda e atenderam no segundo toque, mas não era ela. Repeti isso umas quinze vezes enquanto procurava mais coisas para chutar ou destruir.

Linha de ajuda, em que posso ser útil?

Era ela!

— Anjo? — meus ombros relaxam e automaticamente sou impedido de destruir com os brinquedos de minha sobrinha.

Oi, quanto tempo! — disse espontânea. — Em que posso ajudar?

— Anjo... Eu estou desesperado. Já é a décima quinta vez que ligo para o mesmo número até cair no seu ramal. Se você não tivesse atendido, eu acabaria de quebrar uma das coisas mais importantes de minha sobrinha. — sentei no chão e encostei minha cabeça na parede.

Tudo bem, sweetheart. Estou aqui.

— Você me chamou de... Amor? — sorri, fraco.

Coração... Doce? — ela parecia confusa. Eu ri da sugestão.

— Gostei do apelido. Acha que tenho um coração doce?

Sim. Você parece ser bem explosivo, mas se comove com coisas bonitas e simples. Sobre sua atitude de ligar e depois desligar, então... Não devia fazer isso.

— Eu sei, anjo. Mas se eu não ouvisse a sua voz, talvez continuaria a quebrar as coisas. Me desculpe. Pode me passar seu *ramal? — temi a resposta, mas sabia que era negativa.

Não posso fazer isso. — disse triste.

— Por favor, anjo. Eu converso com seu chefe caso ele queira lhe demitir. — implorei.

Por um acaso você é alguma autoridade e eu não sei?

— Se me disser seu nome, prometo dizer quem verdadeiramente sou. — insisti. — Vamos lá, anjo...

1588. Preciso desligar. Tchau.

1588.

Desde quando insisti tanto em uma mulher? É grave. Eu nem a conheço.

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“O que será que meu Deus pensava
quando criou você?”

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*Ramal: é uma rede telefônica privada.

188 - A DONA DA VOZWhere stories live. Discover now