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   Subi as escadas com um pouco de receio. Logo estava no corredor e ouvi um estrondo não muito forte. Me aproximei do quarto de meu irmão. A porta estava entreaberta. Espionei pela brecha e o mesmo jogava as roupas de Eliza sobre a cama. As gavetas que continham peças dela foram arrancadas e os cabides vazios.

Abri a porta devagar e suspirei. Ele não me parecia nervoso. Seu semblante era pacífico, apenas o assoar de seu nariz que fazia um barulho irritante.

— Eliza me disse que você sabia. — fungou, tentando encaixar a gaveta no lugar. — Por que não me contou? — sua voz era séria e carregava mágoa.

— Eu tive medo. Medo de não acreditar em mim. — dei mais alguns passos, mas ele estendeu sua mão em sinal de pare.

— Não se aproxime. Não quero te bater.

Engoli o seco. Depois de conseguir colocar o objeto no guarda-roupa, ele finalmente me encara com seus olhos inchados e vermelhos.

— Desde pequeno eu te ensinei que entre nós dois deveria existir fidelidade. — sua voz estava trêmula.

— Thalles...

— Não! Eu odeio ser interrompido quando estou na razão. Se eu não tivesse na razão, jamais impediria de você se justificar. — disse, ríspido. — Talvez eu não acreditasse, mas ficaria com uma pulga atrás da orelha, porque sei que não mente para mim. Porém ao invés disso, preferiu deixar o palhaço ser a atração do circo. Teresa sabia, vocês sabiam! Minha família são vocês e esconderam isso de mim! Na verdade, não tenho mágoa de Teresa, porque sempre quando se referia a Eliza, seu semblante não negava que queria me dizer algo. Ela falava por parábolas, mas não tenho paciência com mistérios. Estava sendo traído esse tempo todo dentro da minha própria casa! Corno! Esse é o meu nome! Aquela... Olha, eu tenho vontade de xingá-la de todos os piores nomes possíveis! Eu vou me divorciar daquela piranha. Não quero carregar comigo o peso do nome dela. Vou brigar na justiça para que minha filha fique comigo e ainda que o juiz dê a guarda a ela, farei de tudo para que a criação da minha Katherine seja a melhor possível!  — ele volta a pegar outra gaveta e encaixa no lugar.

— Thalles...

— Théo, eu prefiro não olhar na sua cara tão cedo. Me deixa sozinho. Me deixa em paz. Você traiu a minha confiança, deixou que eu fosse atração do circo enquanto todos riam pelas minhas costas!

— Não fala isso. — as lágrimas desciam ardendo sobre meu rosto.

— SAI DAQUI! — gritou.

— Irmão...

— Theodore, eu não quero te bater. — fecha o punho. — Por favor... Saia desse quarto. AGORA!

Me assustei com a última palavra e então fui me afastando até cair no chão do corredor e ouvir a porta sendo fechada a força em minha frente.
Uma ardência tomava meu peito que achei que iria morrer ali. Nunca brigamos dessa forma. O que seria de mim sem o meu irmão?

— Filho? — sinto as mãos de Teresa me levantarem. — Vamos para casa.

  A crise... Eu estava com falta de ar. Depois não vi mais nada. Só a escuridão.

Ouvi alguns murmúrios que me fizeram acordar. Meu quarto parecia estranho. Acredito que devo estar sobre o efeito de algum remédio. O relógio, na parede, indicava ser noite. Levantei e logo ouvir um barulho como vidro se partir.

— Eu odeio minha vida. — a voz da pessoa estava embargada.

Abri a porta do quarto e segui para onde estava o barulho. A cena é nova para mim: Thalles estava bêbado e jogado sobre o sofá, enquanto Teresa chorava, recolhendo os trilhaços espalhados pela sala.

188 - A DONA DA VOZDonde viven las historias. Descúbrelo ahora