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Deixem estrelinhas
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  Acordei com o som da natureza e o barulho da briga de minha mãe com as panelas. Isso só pode ser brincadeira: em plenas férias, mamãe resolver brigar com objetos que não tem culpa de seu humor.

Levantei e segui para o banheiro para fazer a minha higiene matinal. Depois, fui até a cozinha.

— Bom dia, belo adormecido.

— Bom dia, mamãe. Se bem que para senhora parece ser um dia tão ruim, né? Já acorda brigando com as panelas como se elas tivessem culpa de alguma coisa. — murmurei, sentando-se.

— Oh, me desculpe. Al acordou bem cedo já foi procurar algo para desenhar. Devo confessar que tem um jeito diferente de passar as coisas para o papel. Me ajudou a colher algumas frutas, alimentamos os esquilos e os patos, no lago. Ela é a garota que pedi a Deus.

Ignorei sua confissão antes que tomasse outro rumo.

Depois do café, escovei os dentes e fui à procura da baixinha ignorante. De longe, pude vê-la pintando uma tela. Decidi, apenas, observar. Não queria atrapalhar sua concentração.

— Não hesite em se aproximar. — aumenta a voz por conta da distância.

— Como sabia?

— Deus conhece o coração de todos nós. Sinto cheiro de alguém que está em paz, de longe.

Cheguei mais perto e me admirei com a pintura que retratava, exatamente, a mesma coisa do mundo real.

— Isso está incrível! Deveria investir em sua carreira Al.

— Farei isto, mas não agora. Tenho coisas a resolver antes. Acordou tarde, einh?

— Não mereço? Gosto muito do meu trabalho, mas ele me cansa. E o pior de tudo é o cansaço psicológico. — expliquei.

— Sua empresa não tem funcionários? Eu não acredito que seu trabalho lhe dê tanta dor de cabeça. Pelo tamanho da sua casa, o organograma da sua empresa deva ser alto, ou seja, muito lucro.

— Te dou um mês para aprender tudo que faço e deixo trabalhar para mim por uma semana. Depois me conta como foi sua experiência. — desafiei. Ela me olha com deboche.

— Eu topo. A mulher no poder fica mais emocionante. — e volta a pintar sua tela. Tenho que confessar que nunca havia conhecido uma pessoa tão segura de si. Ela me confronta. Não gosto disso. — Você é machista?

— Não, nunca duvidei da capacidade de uma mulher. Só fico impressionado que devo ter dormido muito para não perceber o quanto algumas nasceram afrontosas, dispostas a destruir com um homem, verbalmente. — falei, impressionado.

— Alguns deles são babacas, então nós tivemos que acordar para vida. O mundo já está ruim para se nascer e com homens possessivos, pior ainda. Me diz, quantas vezes já namorou?

— Nunca. — respondi simples. Ela me olha espantada.

— Eu sabia. Você não tem sensibilidade ao se expressar. Faz pouco caso de muitas coisas da vida. O ser humano vive todos os dias, amado. A morte é uma só. Já parou pra pensar em quantos corações são feridos por dia? Eu acordo perguntando a Deus: quem o Senhor quer curar, hoje? Fomos criados para sermos amados, só que... — suspirou. — Estão todos se atacando.

— Interessante seu discurso, mas não faço pouco caso da vida. Eu só não quero viver num conto de fadas. A realidade é bruta demais.

— Que parte da vida é um conto de fadas? — larga seus pincéis sobre um suporte, cruza os braços e me olha. Me fez uma pergunta que nem sequer sabia responder.

— Qual é, Al? Nem todo mundo nasceu para amar alguém. Se o amor fosse tão bom como dizem, nós não veríamos essas catástrofes que acontecem em relacionamentos.

— O que você sente em relação ao amor?

— Medo, raiva, repulsa...! — passei a mão no cabelo, impaciente.

— Medo? — franziu o cenho. — Então, do que têm coragem?

— Eu não tenho medo...

— Você disse. Foi a primeira resposta. — me interrompeu.

— Tá, o amor é uma incógnita para mim, mas o verdadeiro medo é de como as pessoas "amam". Quer saber? Ninguém pode me forçar a me apaixonar por alguém, Al. Eu não sou obrigado a nada nessa vida.

— É da paixão que você deveria ter medo. Ela, sim, constrói uma catástrofe. No amor não existe isso. — vira as costas e volta a pintar.

Graças a Deus que não estávamos alterados, senão eu nem dormiria hoje.

— E eu não disse que você faz pouco caso da vida, mas se a carapuça serviu... — deixou a frase no ar.

  Inconformado, peguei outro pincel, mergulhei no vaso de tinta e passei no rosto dela. Depois, sai correndo pelos pastos verdes, sendo abraçado pelo vento e pelos xingamentos religiosos da baixinha. Ela parecia minha mãe.

— Volta aqui seu atribulado!

— Vamos lá, baixinha. Acho que sua língua é mais ágil do que as pernas curtas. — zombei.

— Minhas mãos, também, são ágeis para alcançar essa sua carinha de cão abandonado, idiota! — exclamou, irritada.

— Eu amoooo quando você me chama de idiota! Me sinto importante, pois sei o que, realmente, deseja dizer. — gritei.

— Quer saber? Eu não ver perder meu tempo correndo atrás de um imaturo.

Parei atrás da árvore.

— Ué, quer dizer que correr, agora, é imaturidade? — suspirei fundo.

— Atrás de um adulto idiota? Sim! — cruzou seus braços, controlando sua respiração. — Pode vim limpar o que você sujou.

— Com muito prazer, desde que a senhorita não me faça algum dano. Promete? — tentei negociar, porém a mesma virou as costas e saiu. Qual o problema dessa menina?  — Ei! Falei algo de errado?

— Não preciso de seus favores.

(...) 🌻

  A tarde caiu tão rápido que nem percebermos. Depois do almoço, fomos descansar. Consegui tirar um cochilo e ao acordar, encontrei Leopoldo e mamãe trocando olhares carinhosos enquanto cuidavam da plantação. Até flagrei o mesmo oferecendo uma rosa a ela. Sorri com a cena.

  A perna curta estava sentada, próximo ao lago com um livro em mãos. Não iria atrapalhar. Eu prometi que daria descanso a mesma e a mim, também.

Voltei para o quarto, peguei meu notebook e escrevi um texto para anjo que dizia:

"Oi, meu anjo. Estou mandando esse e-mail para dizer que estou me sentindo muito bem aqui em Montana. Espero que também esteja onde se encontra. Gostaria de poder ouvir sua voz, agora, mas nem tudo podemos ter. Sabe aquela história do ponteiro do relógio? Então, aqui não existe isso. O tempo, realmente, para quando Al está por perto. Com ela, meus pensamentos não me atropelam, com ela, não tropeço em meus próprios passos, com ela, dá certo. Eu deixei meu lado pessimista em casa, estou conhecendo um sweetheart otimista, anjo. A ansiedade não mora aqui."

Enviado.

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"...Eu encontrei um amor para carregar mais do que apenas meus segredos..."

💕🌺😍🥰

Muita fofura!!! Sabe aquele lance de não criar expectativas? Então, acho que tô criando... 😍😍

188 - A DONA DA VOZOnde histórias criam vida. Descubra agora