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  Continuamos com as compras enquanto ela me fazia diversas perguntas difíceis de responder e acabávamos discutindo. Alfinetadas leves.

— Um absurdo! — exclamei, chamando atenção dela. Segurei um pedaço de queijo que tinha, mais ou menos, novecentos gramas. Trinta reais?!

— Realmente. Achei que não se importava com preços. — me olha, incrédula.

— O que?! Reconheço que sou quase um milionário, mas adoro uma promoção. Odeio ter que abrir mão de minhas notas para pagar algo tão caro. Sem necessidade!

— O que é promoção para você? — cruza os braços e franze o cenho.

— Quando é anunciada uma coisa que de setenta reais, passou a ser dez reais. Isso é promoção. Tem rico que se surpreende tanto com descontos, mas quando vou ver o "tal" desconto, eu caio para trás. Exemplo: uma blusa de cento e vinte passa a ser noventa e cinco. Isso é promoção? Eu discordo! — deixei o ingrediente de volta em seu lugar. Fico extremamente irritado com esse tipo de coisa, está a cada dia mais difícil conviver neste mundo.

— Uau!

Seguimos para a fila do caixa que não estava cheio. A baixinha foi a primeira e recusou minha ajuda em retirar as coisas do carro. Menina teimosa.
Assim que suas compras foram embaladas, coloco as minhas sobre o caixa.

— Quem diria? Theodore Baccelli, dono de uma das melhores empresas de softwares fazendo compras. — a garota do caixa se pronuncia.

— É... Não deixo de ser um humano por causa das características profissionais, certo?

— Não. Mas acredito que tenha diversas empregadas para fazer isso por você.

— Sim, mas o expediente delas terminaram. Não vejo problemas com esse tipo de rotina. Foi até... — olhei para a baixinha que revirava os olhos. — divertido. — sorri, mas ela fez careta.

Ainda bem que a mulher do caixa não me pediu uma foto, senão a estressadinha iria fugir de mim. O que me é estranho.

— Quer uma carona? — perguntei.

— Não. Vou de Uber. Não insista.

— Tudo bem, mas já ouvi sua barriga roncar duas vezes enquanto estávamos lá dentro. Quero pagar o que queria comer. Por favor! — implorei antes que a mesma interrompesse.

— Só pelo fato de meu estômago estar brigando com os outros órgãos. Só por isso! Você é um irritante.

— Tudo bem. — levanto as mãos em sinal de rendição. — Deixe suas compras dentro do meu carro e quando voltarmos, você pode pegar um Uber.

— Tenho uma ideia melhor. Conheço um lugar que costumo comer sempre esses lanches, então você pode me levar  com o seu carro e lá mesmo chamo o Uber. — sugeriu e assenti. Quem sou eu para contradizer essa bravinha?

  Ela me passou a localização e seguimos em repleto silêncio. Nada agonizante. Foi até bom. Apertei o botão do som e um sertanejo ecoa no veículo. Bati os dedos no volante, acompanhando o ritmo, mas logo percebo um dedo atrevido mudar de estação.

— Isso que é música. — disse e se acomoda no banco. Fiz uma careta e tentei mudar, mas seu tapa brusco impediu. — Não se atreva. Sou uma garota de respeito, não escuto esse tipo de música, porque não me edifica, então, faça-me o favor de respeitar.

— Mas você está no meu carro!

— Exatamente. Onde eu estiver, tem que haver respeito. — entendi aquilo como ponto final da história. Então deixei a menina da voz suave cantar para nós. A música é de categoria religiosa pelo que pude perceber.

188 - A DONA DA VOZWhere stories live. Discover now