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   A ansiedade tomou conta de mim. Estava aguardando ansiosamente a mensagem da baixinha sobre poder buscá-la. Seria apenas um passeio casual, nada de jantar e estou dessa forma.
   Finalmente a notificação, peguei a chave do meu carro e sai em disparada em direção a garagem. Em questão de vinte minutos a encontrei em frente a uma loja de produtos brasileiros.

— Oi? — sussurrei quando seus olhos encontraram os meus. Ela sorri sutilmente, caminhando até o carro.

— Para onde iremos? — questionou, curiosa, adentrando no veículo.

— Já, já a senhorita vai saber.

A viagem foi um completo silêncio entre nós, a única coisa que se ouvia era o barulho da embalagem em que Al estava comendo.

Ao estacionar em frente ao prédio, a baixinha me olhou com os olhos arregalados, como se quisesse me perguntar se era realmente verdade.

— Pier 17?! — exclamou. — Nããoo!

Ri de sua reação, manejando a cabeça levemente.

— Sim, comprei os ingressos pelo site. Vamos?

  A pista de patinação do Pier 17 fica no topo de um prédio e tem uma vista privilegiada da ponte do Brooklyn, Empire State Building do rio East River. Ainda estou querendo entender o porquê a trouxe para esse lugar com um clima tão romântico. Normalmente, os casais é quem frequentam.

— Já patinou no gelo alguma vez? — perguntei enquanto subíamos.

Panda me levou na Pista do Rockefeller Center, é bem movimentado, mas eu curti bastante. Aprendi bastante coisa e truques para me manter de pé sobre o patins. — explicou me fazendo sentir-se incomodado ao falar do tal "panda".

— Esse garoto tem nome? — revirei os olhos, visivelmente incomodado.

— Alexander. — respondeu, simples. — Tem esse apelido, pois levou um murro no olho após defender uma amiga minha. O formato do hematoma ficou idêntico ao do animal. Isso já tem anos.

— Então ele gostava da garota que defendeu?

— Não... — parecia estar em dúvida se continuava ou não. — Ele gosta de mim. É ele em que o pessoal da Igreja tenta fazer com que eu me apaixone.


Engoli o seco.

— Percebi isso ao chegar lá, ontem. E... — hesitei. — Você gosta? — pigarreei, nervoso.

— Não! — respondeu de imediato, fazendo com que meus ombros relaxassem. — O tenho como um irmão.

Ri, vitorioso por dentro.
Ice Queen. — murmurei e ela me deu um tapa no braço. — Au! Agressiva. — reclamei, massageando a região.

— Acho bom colocar seu disfarce, não quero sair na capa dos jornais, amanhã. "O príncipe encantado das garotas novaioquinas é flagrado, patinando ao lado de uma jovem muito bela. Os dois sorriam alegremente um para o outro e trocavam olhares curiosos. E aí? O que acham? Será que Batchelli encontrou sua cara metade?" — falou teatralmente. Gargalhei de como meu sobrenome foi mencionado.

— Meu Deus! — limpei os resquícios de lágrimas que saiam de meus olhos. — Faz tanto tempo que eu não ria assim. Não se preocupe baixinha, já providenciei meu disfarce. — tirei a touca do bolso e meu óculos de descanso.

— Nada mal. — disse ela.

  As portas do elevador se abriram dando a vista para o piso de gelo. Aluguei nossos patins, sentamos para colocá-los e logo estávamos de pé. Já havia meses que não praticava esse passa tempo.
  Al colocou seu braço entre o meu. Gesto estranho para mim e muito confortável para as borboletinhas que faziam a festa dentro do estômago.

— Você me surpreende. — falei.

— Eu disse que sou boa em tudo que faço e minha especialidade é surpreender. Deveria se acostumar. Mas esse gesto significa apenas uma coisa: se eu cair, você vai junto. — disse me fazendo rir alto. — Posso confessar uma coisa?

— Quantas quiser. — dei os ombros.

— O som da sua risada é gostoso de se ouvir. — confessa me olhando. Pela primeira vez fiquei sem jeito diante de uma mulher. Sim, mulher. Al só tem me provado que não é uma simples garotinha, pelo contrário, uma grande mulher.  — Dois a um para mim. — comemorou.

— Prometo que não darei chance para você empatar o jogo.

— Mas isso não é um jogo, Batchelli. — confessou com uma profundidade na frase.

  Não sei que tipo de aproximação é esta. Só sei que temos uma coisa profunda um com outro, não é nada artificial, é o que busca a realidade.
  Patinávamos no gelo com uma facilidade incomum até ela perceber que não dava mais para ficar com o braço enganchado no meu, foi então que algo inesperado e surreal aconteceu: Al segurou na minha mão.

O choque foi rápido e intenso. Meu corpo inteiro recebeu esse comando de que borboletas reuniram sua manada para voarem dentro de mim. Coisa que nenhuma outra mulher conseguiu fazer, mas o que significa tudo isso? Se for amor, parece ser legal, mas eu tenho medo. Pois é isso que a ansiedade faz; ela faz com que você tenha medo das coisas darem certo.

  Depois de tanto me impressionar com aquela atitude, apertei mais forte a sua pequena mãozinha. Segurei como se fosse algo frágil e precioso que eu não podia perder para ninguém. E eu não posso. Não posso perder esse contato, não posso perder essa sensação que me faz bem, porque me ativa e faz com que o tempo pare para sentir, pois, às vezes, não tenho oportunidade de experimentar algo. Pois a hora não espera, pois o ponteiro não para, pois o sol não estaciona para que eu corra atrás de experimentos. A minha vida não tem pausas, ela não me espera, por isso não posso olhar para direita, nem para esquerda tampouco para trás. Mas com essa garota é diferente, parece que ela pede a Deus que me deixe viver sem ter que correr e não saber para onde. Com ela não existe ansiedade. Sua voz acalma minha alma, é dona da voz mais confortante que já ouvi.

— Não sei quantas coisas terei que fazer para que você possa me pegar desprevenido. — falei, torcendo para que a mesma não soltasse minha mão.

— Apenas sinta, querido. Eu só queria que você sentisse a metade do que estou sentindo, porque O Soberano está presente. Consigo ver um selo... Essa madrugada sonhei com este mesmo selo. — seus olhos fixaram num ponto morto.

— Talvez você sonhou com uma pessoa e esse sonho quis dizer que o futuro dela está sendo selado com uma coisa boa. Acertei?

— Acho que você já está começando a entender as coisas do espírito.

Maneei a cabeça em negação e rindo por dentro.
— Tudo isso parece um conto de fadas e eu acho que você é a bruxa, não me leve a mal.

Al me olha, surpresa.
— Acho que você anda assistindo muito desenho infantil. Você alega tanto que é uma coisa ridícula. Eu até concordo, mas saiba que todo príncipe tem um coração bom. Será que você não é um?

Essa história de coração bom está indo muito longe. Sweetheart.

Não, Theodore, isso é coisa de sua mente.

— Posso te provar isso se permanecer na minha vida. — falei sem pensar. Ela parou sua patinação me obrigando a fazer o mesmo, porém a minha queda veio de brinde, arrancando uma gargalhada de seus lábios.

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"Quando chegar o dia a gente vai saber que as mãos têm o encaixe perfeito."

🎶♥️

188 - A DONA DA VOZWhere stories live. Discover now