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POV Theodore

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— THEODORE, NÃO! — ouço meu irmão gritar após a cadeira do escritório ser lançada contra a parede, levando cada partícula para um lugar diferente. — THÉO!

  Ninguém teria tanta coragem em se  aproximar de mim transformado desse jeito. NINGUÉM! 
  O ódio me possuía de uma forma que nem eu mesmo podia me reconhecer. Destruir as coisas era como uma terapia. Aliviava!

Peguei os livros das prateleiras e arremessei contra a porta onde Thalles se mantinha, desesperado.

— THEODORE, PARA! — gritou, mas ignorei. Gritar não adianta muita coisa. Só me deixa mais nervoso. Tudo que estava em minha frente, jogava pelo cômodo. Estava prestes a quebrar o jarro de porcelana comprado por meu pai. Ele deu de presente a minha mãe no aniversário de casamento. Minha mãe amava fazer coleções de porcelana. Mas ela me deixou e isso não significava tanto para mim. Quando minha mão iria tocar o objeto, Teresa surgiu atrás dele com os olhos vermelhos e pacífico.
  Eu podia ver as caixas dos meus peitos subirem e descerem com velocidade. Meu olhar de fúria se transformou em arrependimento e medo. Medo de mim! O que eu estava fazendo? O que aconteceu? As lágrimas desciam queimando junto com o suor. 

— Mamãe me deixou quando mais precisei. — limpei o rosto bruscamente, mas elas estavam lá; caindo sem cessar. — Ela... Levou consigo cada... Cada pedacinho de mim.

Teresa fechou os olhos e suspirou fundo enquanto suas lágrimas, também, desciam.

— Eu... Sou um monstro. 

— Não! — ela sussurrou de imediato e abriu os olhos. — Théo, você não é o que acabou de dizer. É só uma fase que ainda não conseguiu superar.

— Mamãe disse que eu... — curvei a cabeça e abri as mãos devagar. Meu punho estava fechado por causa da fúria. — Mamãe disse que... — suspirei. — Ela sempre cantarolava uma música. Se estivesse cozinhando, aquela música estava lá. — minha voz saiu mais baixa do que o normal. — O tempo passou tão rápido, Teresa. Só  não esqueço o rosto dela, porque os quadros estão espalhados pela casa, mas a voz, o tom da voz... Não me recordo.

— "¹Você é jóia rara aos olhos do pai. — cantarola e ao lembrar desse frase, levantei minha cabeça. — É pedra preciosa. Desistir jamais. Se o mundo quis matar o que você sonhou, Ele realiza e te faz vencedor.
Chega de comer o pão que o outro amassou, levante a cabeça,
esquece o que passou. Chega de declarar que é um derrotado. Você é mais que vencedor, Deus esta do teu lado. "

— Era essa. — sussurrei.

— É. — limpa suas lágrimas. — Sua mãe gostava de cantar essa música quando estava triste. Parece estranho falar isso, mas quando a canção saia seus lábios, vinha junto com o sorriso. Ela não gostava de demonstrar a vocês dois que estava passando por um momento difícil.

Eu não queria me lembrar das palavras dela. O quanto a mesma dizia que me amava e que nunca iria me deixar. Ela mentiu pra mim!

“Filho, sabia que os super-heróis, às vezes, precisa mentir para proteger quem ama?”

“Não, mamãe. Todos os super-heróis?! Por que?”  — perguntei, tristonho.

“É uma forma muito arriscada, porém vale a pena.”

“Por que está falando isso, mamãe?”
 
  Agora entendo o que significava aquele sorriso fraco, sem mostrar os dentes. Sempre quando a mesma fazia aquilo, significava que as coisas não estavam bem.  Mamãe sempre que sorria, mostrava seus dentes perfeitamente alinhados e branquíssimos!

“Por nada, filho. Talvez, algum dia, você veja esse ato secreto ser executado por alguém que você tanto ama.”

— ELA SABIA! — gritei, assustando Teresa. — Ela me dizia aquelas coisas estranhas de super-heróis, de atos de amor... ELA SABIA QUE IA MORRER!

E com apenas um chute, derrubei o vaso de porcelana. Sinto meu corpo ser puxado para trás. Eu me joguei no chão e logo fui abraçado por Thalles.

— Vai ficar tudo bem. — assegurou.

— Você disse que me odeia.

— Não! Eu te amo muito, irmão. Eu estava nervoso, me desculpe. Agora entendo que quis proteger a Kate. Sinto muito pelas minhas palavras. Te amo tanto. — me apertou mais ainda contra seus braços. Fechei os olhos e tentei me acalmar. É certo que contar até três não resolveria nada, mas eu precisava tentar.
  Minhas pálpebras pesavam e foi através dessa deixa que aproveitei para ceder.

Acordei sentindo minhas mãos pesadas. Abri os olhos de imediato e encarei a mesma que estava enfaixada com atadura. Levei outro susto ao ver dois pares de olhos claros me encarando, sentado na poltrona.

— Se machucou enquanto quebrava as coisas. — disse.

— Me desculpa. — minha garganta estava muito seca.

— Eu quem devo pedir desculpas. — levanta e pega um copo de água que estava no criado mudo. — Beba. — me oferece junto com o remédio. Rivotril. Odeio! — Espero não te ver mais transformado daquele jeito. Imagine se Kate estivesse aqui. Você precisa aprender controlar suas emoções, Théo. Continua ligando para a linha de ajuda que te indiquei?

— Sim. Não ajuda em muita coisa, mas quebra um galho. Aquela linha é para quem é dependente químico.

— Eles oferecem mais do que esse serviço. Segunda-feira temos um evento a noite. É como se fosse uma feira de exposições. Nossa empresa foi convidada para expor nossos serviços e conhecer os de outras empresas. Já conversei com Fagner. Ele vai organizar uma pequena equipe para levar nossos computadores e outros eletrônicos para venda. Com certeza será um sucesso, pois haverá muita gente rica por lá.

— Não estou com cabeça para falar de negócios. — resmunguei, apertando os olhos. — Onde está Kate?

— Com a mãe.

Seu semblante mudava para ríspido quando precisava se referir a sua ex.

— Vocês já combinaram o dia de cada um ficar?

— Não. Dei entrada no divórcio e logo isso será decidido pelo juíz. Por enquanto, a vejo todos os dias quando vou buscar na escola. Kate me contou que tem um homem morando com sua mãe. — suspirou.

— Como Kate lidou com isso?

— Bem. A mãe e a vó deu um jeito de explicar as coisas. Por incrível que pareça, gosto muito da minha ex-sogra. Ela é diferente. Não vou ficar pelos cantos chorando porque fui traído. Pelo contrário, vou me divertir. — assegurou.

— Me lembro da última vez que disse essa palavra. Naquela mesma noite você engravidou Eliza. — falei e o mesmo riu.

— Foi uma das melhores coisas que aconteceu na minha vida. Minha filha é um dos meus bens mais precioso, fora a parte em que sou obrigado a assistir Barbie todas as vezes em que estamos juntos.

Gargalhei.

— E, também, quando inventa de fazer penteados femininos no meu cabelo. É impossível negar com aquele rostinho tão meigo.

— Bom, pelo menos pentear meu cabelo como descreveu, ela não faz. Graças ao meu bom Deus! Temos que dar um jeito de apresentar outro desenho a ela. Estou quase ao ponto de acreditar que elefantes, cavalos, pavão, porcos falam.

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“Se Deus me acordar de madrugada
pra orar por você, eu vou.”

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¹ Jóia rara - Mara Maravilha

188 - A DONA DA VOZTahanan ng mga kuwento. Tumuklas ngayon