188 - A DONA DA VOZ

7.3 ☎️

///////////////////

  Nem me atrevo a perguntar quais essas coisas. Uma pessoa que não tem paciência com suspenses. Prazer, eu. Vou me conformar com essa nossa aproximação sem título.

— Preciso ir. — diz, após bocejar. —Amanhã será um outro dia. Será que posso fazer uma oração com você antes de dormir?

Pisquei os olhos diversas vezes ao ouvir aquela pergunta. Nenhuma outra mulher além de minha mãe me fez um pedido tão inusitado como aquele.

— Claro.

Al fecha os olhos e curva a sua cabeça. Não consegui fazer o mesmo pois meus olhos estavam vidrados em seus movimentos. Eu queria pegar cada detalhe dessa cena e questionar a Deus, depois.

— [...] Obrigada pelo dia de hoje, obrigada pelo alimento de cada dia...

É bem comum ouvir das mulheres que eu as beije antes de dormir, que eu durma de conchinha com elas. Nenhuma nunca me pediu para orar.

— Amém. — disse, abrindo os olhos.

— Amém. — sorri.

— Boa noite, durma com Deus.

(...) ♥️

  Eu não poderia ter acordado tão bem quanto hoje. Exceto o fato de que meu nariz está entupido, fora isso, tudo sobre controle. Tive uma noite de sono bastante confortável e parece até mágica confessar uma coisa dessa.

  Levantei e fiz minha higiene rotineira, acabei tomando um banho quente mesmo estando calor em Montana.

   Hoje, estou disposto a descobrir mais coisas sobre Al. Tudo que sei não é o suficiente para que eu me sinta confortável. E se um dia a mesma ir embora? Como encontrarei rastros seus? Não posso obedecer suas limitações sendo que corro contra o tempo. Vivo correndo atrás dele sem saber para onde vai. De uma coisa é certa: não posso parar de correr.

  Nessas férias até o relógio se deu folga. O tempo para quando ela está junto de mim, mas tenho que me preparar psicologicamente para o término disto, pois a realidade está do lado de fora, me esperando. Eu só quero que Deus me responda o que significa nossa aproximação.

— Filho, está melhor? — mamãe adentra no quarto.

— Sim, sua sopa é milagrosa. Mas ganhei de brinde o nariz entupido.

— Homens. — revira os olhos. — Qualquer dorzinha é o fim do mundo.

— Mulheres, tudo que vocês mais dizem é que o sexo oposto não suportam dores.

— Falamos apenas a verdade por mais absurda que ela seja. Advinha quem está fazendo comida baiana? Está sentindo esse cheiro?

Apontei para o meu nariz e ela riu. Depois, seguimos para a cozinha. Tive uma vista super agradável com Al e Léo gargalhando de algo. Ela tem um lindo sorriso.

— Querida, esse cheiro está maravilhoso. — mamãe comenta.

— Olha, não é porque estou fazendo, mas concordo com a senhora.

— Queria poder concordar com vocês, porém meu nariz não está me ajudando. — roubei uma maçã da mesa.

— Tivemos que sair bem cedinho para encontrar algum departamento brasileiro aqui em Montana, caso contrário nosso almoço teria que ser substituído. E olhem que morei pouco tempo no Brasil e até hoje não consigo me acostumar com os pratos típicos de Nova Iorque.

   Sentei na cadeira e abri meu notebook, minha caixa de email estava lotada e o que mais me chamou atenção foi o nome de Thalles. São as fotos dos dois em Orlando. Minha sobrinha estava com um sorriso enorme no rosto, abraçando o pescoço do pai.

   Depois entrei no meu Instagram pelo celular e fiquei vendo alguns stories, inclusive o de Vicky. Ela havia saído ontem com Fagner, porém não mostrou o rosto dele. Comentei: "ciúmes".

— Filho, maçã não enche barriga.

— Me sinto indisposto quando estou gripado, mamãe. Meu corpo só pede cama.

(...) ✨

  A comida estava deliciosa, nós rimos bastante com as confissões de Léo e algumas histórias fantásticas de Al.
Pela tarde a baixinha me convidou para explorar as montanhas, afinal essa era a atração do Estado, mas eu não podia devido a gripe. Então, ficamos em frente ao lago mesmo.

— Quero descobrir mais coisas sobre você. — admiti.

— Para ser meu amigo não precisa saber tudo sobre mim. Se você se sente bem ao meu lado, já é uma grande conquista.

— Admiro sua personalidade forte, porém as coisas não giram em torno de suas ideias.

— Ninguém é obrigado a permanecer, querido.

2 semanas depois...

  O carro estacionou em frente a mansão. Posso dizer que foi incrível todos os momentos vividos por lá, mas no final das contas tive que tomar uma decisão muito importante.

Deixamos a baixinha em uma rua que — no dizer dela — daria em sua casa. Nossa ''despedida'' foi tão estranha, era como um adeus. Tudo isso pois meu corpo, mente e alma começaram a reagir diferente a nossa aproximação. Não faço ideia do que aquilo significava, mas precisava dar um fim. Borboletas no estômago tem um significado e prefiro não saber qual.

   Mamãe não entendeu meu afastamento, porém creio que já supôs em sua mente e não vai tocar nesse assunto, porque sabe que me irritaria.

— TIO! — vejo Kate descer os pequenos degraus as pressas para me abraçar.

— Oi, minha linda. — carreguei-a em meu colo, abraçando em seguida. — Hum, como estava com saudades da minha princesa.

— Tio, eu tenho muitas novidades para contar: acredita que conheci várias princesas da Disney? Sabia que elas não parecem nem um pouco como na tv? Que absurdo!

Todos riram de seu desabafo.

— Seu pai se comportou direitinho? Sabe me dizer se paquerou alguma mulher? — sussurrei em seu ouvido. Ela ri, sapeca.

— Teve uma loira que ficou enrolando o cabelo todas as vezes que olhava para ele.

— Então seu tio mandou a senhorita me espionar? Vai ficar sem assistir Barbie durante um mês. — Thalles brinca. — Vá abraçar sua avó.

Coloquei Kate no chão e ela correu para os braços de mamãe, enquanto meu irmão me puxava para um abraço confortante. Aquele gesto não me era estranho, pelo contrário, ele fazia aquilo sempre que passávamos muito tempo longe um do outro. Desde garotinhos, Thalles sempre fez questão de fazer seu papel.

— Senti sua falta. — deixa um beijo na minha testa e bagunça meu cabelo. As lágrimas estavam presas nos olhos, implorando para sair.

— Também. — murmurei. — Te amo, irmão.

— Eu amo mais e você sabe disso. — torna a bagunçar meu cabelo.

📞
📞
📞

"Quando estou contigo eu
sou tão feliz..."

♥️