7. Crise ☎️

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   Nem notei o tempo passar com minha  distração. Perdi duas horas do dia olhando para o nada e a mente trabalhando sem cessar. Levantei depressa, caminhando para fora da casa. Al sorria feito boba ao ler algo em seu smartphone.
Aquilo me deixou incomodado. Quem seria o motivo do seu melhor sorriso?

— Esse alguém deve ser bastante especial. — coloquei as minhas duas mãos no bolso. A mesma me olha assustada e depois guarda o celular.

— É, alguém que precisa muito de Deus. — sorriu. — Tive uma ideia.

— Qual seria essa ideia?

— Vamos precisar do seu carro. Sabe do que estou com desejo? De um hambúrguer bem gorduroso. — confessa com os olhos brilhando.

— Lhe pago se fazer o que eu pedir, depois. — usei minhas armas.

— Combinado, mas não se acostuma. — alertou-me. Fomos para o carro. O caminho até a lanchonete é uns quinze minutos da fazenda. — Al, não desconfia que alguém da sua congregação goste de você?

— Sim, já me disseram. — deu os ombros e prendeu o cinto. — Até que ele é fofinho.

— E por quê não dá uma chance? — prendi o meu cinto e dei a partida.

— Sou muito exigente e deve ser por isso que estou solteira até hoje, mas não quer dizer que é uma coisa ruim. Não existe uma idade certa para todos encontrarem um amor verdadeiro. Estar solteiro não é o fim do mundo, pelo contrário, sem expectativas, sem promessas, liberdade...!

Ela pensa exatamente como eu. Meu Deus, ainda não entendi o Teu sinal. O que essa garota representou ou representará em minha vida?

— É exatamente isso. Expectativas é sentir demais para mim, meu coração é muito pequeno para tanta coisa.

De soslaio, a vejo rir.

— O que foi?

— Nada. Me conta sobre você. Quais suas furadas em questão de relacionamento?

— Não tenho nada para contar. Já tentei ficar preso a Victory, na adolescência, mas a tentação por outras garotas falou mais alto. Só então descobri que nem sirvo para relacionamentos. Não tenho tempo, meu trabalho é corrido, tenho pena de quem for tentar assimilar. — expliquei-lhe.

— Não é questão de tempo, é questão de prioridade. Se o manual da vida diz que em tudo há um tempo determinado, significa que cada compartimento tem sua prioridade. Primeiro: Deus. Segundo: família. Terceiro: trabalho ou Igreja (isso, pois alguns praticam a fé.) Me entende? A gente escolhe a quem iremos dar prioridade em um determinado tempo do nosso dia, porque tem tempo pra tudo.

Eu mereço? Tomar surras de garota? Deus, já me arrependi amargamente.

— Tenho um desafio para você: me conta uma mentira que já me disse nesse pouco tempo que nos conhecemos. Não gosto de descobrir as coisas no final da história.

Pensei em nossos momentos juntos.

— Ah, lembrei! Aquela história dos paparazzis na minha zona de conforto. — confessei.

— Eu sabia! Não sei se quis me fazer de boba, mas nem acontece comigo. Nem tente, de novo.

Olha, temos um progresso ou será que está alimentando minhas expectativas de que nossa amizade pode se estender?

— Sua vez.

— Querido, sou extremamente original, sem máscaras, formada em sinceridade e em confronto. Amante de justiça e sensibilidade.

— Formada, também, em tirar minha paciência e extorquir meu bolso com suas chantagens. — fingi, indignação.

— Até parece que não gosta. Então significa que a qualquer momento posso aparecer numa capa de revista só por estar ao seu lado?

Não sei se ela estava preocupada ou alegre.

— Sim, normalmente esses sites de fofocas não têm visibilidade da mídia.

Chegamos em uma lanchonete bastante conhecida em Montana.

— Aqui não parece produzir lanches gordurosos. — encara a faixada do estabelecimento.

— Eu quem vou pagar, então monte seu prato. — peguei em sua mão e adentramos no lugar quase vazio. Estava quase chegando a noite e na hora do café isso aqui estará repleto de pessoas. Sentamos em uma mesa afastada da porta e verificamos o cardápio.

— Uau! Acho melhor preparar seu cartão de débito, pois vou querer experimentar várias coisinhas diferentes. — comenta empolgada ao olhar as opções. Revirei os olhos.

Ao nosso lado havia uma pequena esteira que traziam os pedidos e uma máquina onde clicamos na opção escolhida.

— Prontinho. — disse, colocando o cardápio sobre a mesa e digitando as opções escolhidas. — Não vai comer nada?

— Vou pedir um suco de laranja natural.

— Tudo bem, até acredito que não deva ser desse planeta, pois comer é uma coisa que todo ser humano gosta. — gesticula. — Tive um sonho muito interessante, veja se consegue chegar no mesmo raciocínio que eu: um homem corria contra o tempo. Ele vivia com um relógio colado na sua testa e no seu pulso. Tudo era cronometrado, até mesmo suas ações. Mas ele queria ser liberto daquilo, pois precisava fazer algo. Eu entendi que ele era uma pessoa muito ansiosa e a ansiedade faz com que o cronômetro corra e diminua seu tempo.

Crispei os olhos, confuso.

— Quando você me disse que o que é nascido da carne, só entende as coisas da carne, então não posso discernir algo que tem uma probabilidade de ser do espírito. — cruzei os braços sobre a mesa.

— Uau! Eu não tenho a definição correta desse sonho, mas tenho certeza que tem a ver com alguém que tem ansiedade. Vou orar por essa pessoa.

Sorri, desconcertado.
Nosso pedidos chegaram e o silêncio reinou em nosso meio, só se ouvia o barulho do plástico que protegia o hambúrguer da baixinha.

— Hummm... Muito bom. — disse de boca cheia. — Não é melhor do que eu sempre como, mas lembra.

Eu havia mudado de humor e só percebi agora. Não sei o que está acontecendo, estou estranho e completamente confuso, com medo...

"O mundo não gira ao seu redor, Theodore."

"Você precisa correr."

— Vou no banheiro e já volto. — levantei depressa procurando minha saída. Liguei a torneira e levei a água até meu rosto. - Droga! Esqueci o remédio.

Isso nunca havia acontecido perto de Al. Não consigo entender.
Sentei no chão, abraçando meu corpo e respirando fundo. Essa tempestade tem que passar.

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Hoje é real aquele sonho meu...

🎶😍♥️

188 - A DONA DA VOZTempat cerita menjadi hidup. Temukan sekarang