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  Não consegui descobrir muita coisa sobre Al. Ela sempre se limitava falar sobre sua vida pessoal e isso me deixava um pouco preocupado, me levando a pensar que talvez ela não tivesse em boas condições financeiras ou morava em um bairro muito pobre ou tem vergonha de sua origem. Talvez não. Ela é muito transparente para sentir vergonha de algo.

— Eu preciso ir. Amanhã estarei em sua casa, ás dez.

— Costuma vir aqui? — questionei.

— Não, eu estava na loja de minha mãe e acabei te vendo de longe.

— Loja? — olhei em volta. — Onde é?

— Muita coisa minha não lhe interessa, mas garanto que se você se esforçar posso te apresentar a ela. Garanto que vai amar te conhecer pessoalmente. — assegurou. Meu peito aqueceu-se.

— Ela...

— Sim, mas não foi pela televisão. — pisca e vira as costas. — Até amanhã, querido. — segue seu caminho e some de minha vista.

(...) 💙

  Oito da manhã e eu já estava de pé, rondando pela casa a espera de Al. Estava brigando contra mim mesmo para não poder ficar olhando o ponteiro do relógio. Que missão impossível!

— Théo, quer afundar o chão? — mamãe questiona.

Ela não sabe que Al viria hoje. Não quero que crie expectativas.

— A senhora vai sair?

— Sim, vou na feira com Odete comprar umas verduras, prometo que não vou demorar. — pega sua bolsinha e solta um beijinho no ar.

Quando mamãe se retirou, verifiquei se estava tudo certo com minha aparência, apesar de que ela nunca iria reparar. Ela não se importa com isso. Então, para chamar sua atenção e ser tão comum quanto a mesma, coloquei minha calça e blusa moletom do Batman.

Procurei meu remédio antes que surtasse de vez.

10am

— Senhor, tem uma moça lá fora querendo entrar. — Léo avisa-me. Dei um pulo do sofá e corri até o portão. Al me olha de cima a baixo e suspende a sombrancelha.

— Nada mal. — sorriu.

— Obrigado, você está linda. — elogiei a garota que vestia uma blusa de lã, manga curta e uma saia rodada. Tímida, ela curva a cabeça. — Olha, então quer dizer que reage aos elogios? — cruzei os braços em divertimento.

— Dá para abrir logo esse portão ou quer que eu vá embora? — rola os olhos.

Abri o portão e dei passagem a mesma. Al cumprimentava todos os empregados que via em sua frente. Não são tantos, mas o suficiente para cuidar da mansão.

— Ei, qual o nome dessa flor? — pergunta ao jardineiro.

— Camélia. É uma planta que requer muito cuidado, porque não se adapta tão bem ao sol. — ele explica e Al se aproxima da muda de flores.

— Gosto de desenhá-las, porém nunca vi algo tão bonito quanto essa. — disse tirando o celular do bolso, abrindo a câmera e batendo a foto.

Tudo que ela fazia eu achava bonito. Estou virando um tremendo pateta.
Minutos depois de bater um papo sobre algo qualquer das plantas, adentramos na mansão. A baixinha admirava cada canto até chegarmos na cozinha.

— Se quiser, lhe apresento os outros cômodos depois.

— Ok. — tira alguns ingredientes da sacola e eu a ajudo. — Pode ter certeza que esse prato é simples. Eu não sei se isso é típico do Brasil, só sei que sempre quando estava sozinha em casa, preparava esse cardápio. Sempre.

— Então você é brasileira mesmo?

— Sim. Nascida e criada na roça. Eu morava no interior da Bahia. — explica. Ela tinha um pouquinho de sotaque, mas não era tão visível. — Então meu pai vendia seus produtos para diversos países e teve a oportunidade de trabalhar aqui. Ficou durante quatro meses, minha mãe e eu administrava a roça. Então meu herói viu que aqui tinha muitas oportunidades para eu crescer. E logo me mudei para cá junto com minha mãe. Sempre quando pode, meu pai volta e sempre quando dá, voltamos para o Brasil. As coleguinhas da escola duvidavam que uma baiana moraria em outro país.

— Qual seu passatempo preferido?

— Desenhar. Eu gosto de expressar de uma forma profunda o que vejo, mas isso só acontece quando Deus se revela a mim. Intimidade é tudo. Eu não estudo psicologia, mas costumo pesquisar sempre sobre o comportamento humano.

Nem tenho palavras para dizer. Eu me sentia um nada do lado de uma mulher tão incrível.

— Pode fazer o suco?

— É... Não faço ideia de como...

— Sério? — pergunta, espantada.  — Eu até entendo que homens tem muita dificuldade em exercer a tarefa doméstica, mas não saber fazer um suco? Você deveria ter vergonha nesse seu rostinho de... criança. Vou te ensinar. — vai até a sacola e tira umas frutinhas vermelhas.

— Qual o nome dessas frutas?

— Acerola. Você vai gostar. Pega o liquidificador para mim. — pediu e assim fiz. — Agora coloca essas frutas aí dentro. Depois ponha água e quatro colheres de açúcar.

— Pra quê tudo isso? — questionei.

— Porque ela é azedinha.

💙

  O almoço estava com uma cara ótima. Nem havia me lembrado de mamãe enquanto conversava com Al. Ela me fazia esquecer tantas coisas.

— Al, quero que conheça minha mãe.

Vira-se de frente e abre um sorriso ao vê-la. Pareciam até se conhecer de algum lugar.

— Oh Deus! — mamãe diz emocionada e abraça a baixinha. — Você não é aquela menina que pregou no congresso da sede?

— Isso. — confirmou desfazendo o abraço. — Acho que já me esbarrei com a senhora algumas vezes quando visitei sua congregação.

— Querida, aquela ministração ficou marcada na minha memória. Tantos jovens choravam, pareciam estar sendo renovados com cada palavra que saia de seus lábios.

Automaticamente me lembrei da garota que chorava horrores no dia da feira de exposições.

— Deus é bom. Preparei uma comida bem simples que eu fazia quando morava no Brasil.

  Os pratos foram postos a mesa e logo sentamos para saborear. O purê de batata eu conhecia, assim como o feijão e arroz. Mas aquelas rodelas de... esqueci o nome, nunca havia provado antes.
  Levei minha primeira garfada até a boca. Meu paladar amou o que sentiu. O feijão é completamente diferente do de minha mãe, porém mais gostoso e este purê está sensacional!

— Faltou isso. — pega a farinha e despeja no meu prato, em seguida no prato de Teresa. — Uma comida do Brasil sem farinha, não é comida.

— Querida, estou com inveja desse prato. Está magnífico! — Teresa exclama.

Eu nem queria conversar, deixei as duas batendo papo enquanto repetia a dose. Nunca fui de comer tanto, mas não poderia desperdiçar aquela saborosa comida. 

— Filho, não se esqueça que temos mais visitas na casa. — mamãe repreende.

— Me esqueci totalmente dos jardineiros. É que está gostoso demais. E esse suco... Hummm.

Elas riram.

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“Acho que é amor. O que sinto
tomou conta de mim e não pediu
licença.”

♥️♥️♥️

188 - A DONA DA VOZWhere stories live. Discover now