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  Continuei colocando os ingredientes dentro do carrinho. Mas uma garota baixinha, cabelo negro me chamou atenção. Encontrei! Ela estava tentando pegar a latinha de azeite na prateleira que estava alta demais. Ri da cena e me aproximei.

— Desvantagem em ser curta no tamanho. — pego o objeto e entrego a ela que vira-se assustada.

— Ah... Obrigada. — sorri, tímida. Depois me analisa de cima a baixo, emite uma expressão de surpresa. — Totalmente diferente desde a última vez que te encontrei. Quem diria que um chefe totalmente renomado usaria sandálias. E, vejamos, está sem as ataduras. — coloca o ingrediente dentro do carrinho e sai andando.

Essa mulher gosta de fugir.

— Ei! — segui seus passos junto com o carrinho. A mesma me ignora, observando as prateleiras. — Você tem uma mania muito feia em deixar as pessoas falando só.

— Você não me conhece. Gosto muito de ajudar as pessoas, mas tenho certeza que dentre todas as que conheço, você deve me odiar. — me olha, sugestiva e depois volta sua atenção nas prateleiras.

— Admito que sim. Só não como deveria. Tem uma coisa que você me disse naquela segunda-feira que me deixou bastante intrigado. Procurei por ti, mas não obtive retornos. — confesso e ela volta a me olhar.

— Eu li seu comportamento. Não há nada de impressionante nisto. O que quer? — crispa os olhos.

— Bom... — eu estava nervoso. Droga! O que essa menina tem?! — Digamos que é a primeira pessoa que me deixa sem palavras e se disponibilizou a me... Limpar?

— Seja específico. Sei que as pessoas a quem se refere são as mulheres. Minha atitude se chama humildade e educação. Humilde em reconhecer que errei e educada ao oferecer ajuda. Tudo de bom que você faz a alguém, o universo lhe devolve em dobro.

— Você é como uma incógnita para mim. — digo e ela continua com a expressão confusa, o que me deixa irritado. — Se gosta de ajudar as pessoas, por que foge quando estou falando contigo? Talvez eu... precise de ajuda.

— Olha, eu não sei como se chama. Não trabalho com nomes. Também não faço ideia de quem seja, mas pude perceber que é alguém muito conhecido. Vi quando chegou na feira de exposições, ouvi comentários de diversas mulheres sobre seu físico e aparência, vi quando aquela senhora pediu para tirar uma foto com você...

— Tem medo de aparecer nas revistas? — perguntei em divertimento, porém a mesma fechou a cara.

— Não faço questão disso e não preciso. Talvez seja por isso que para você, sou uma incógnita. — puxa seu carrinho e segue andando, lentamente.

  Inferno de mulher difícil! Qual o problema dela? E por que ainda faço questão de insistir em conversar com ela? Foi então que me lembrei do pedido que fiz a Deus mais cedo. Senhor, será que é um sinal? Será que ela já fez parte da minha vida? Me dê mais um sinal, Paizinho. É isso que dá pedir coisas difíceis a Deus.

— Me disse no banheiro que estuda o comportamento humano. Devo admitir que é a psicóloga mais ignorante que já conheci. — falei. Eu estava afim de irritá-la. Jamais admitiria que uma mulher me dominasse. Não nasci pra isso.

— Então, verdadeiramente, ficou pensando em tudo que lhe disse. Parabéns, não é todos os homens que têm esse dom.

Ela não me olhava. Tá, admito que ela é uma profissional em tirar alguém do sério.

— Qual o seu problema em conversar olhando nos olhos das pessoas? — pergunto, irritado.

— Duas garrafas de óleo... — pega o ingrediente e põe no meu carrinho. Encarei minha lista e me surpreendi ao ver que estava escrito a mesma quantidade que ela colocou. — Tem que prestar atenção nas coisas, mocinho. — e abre um sorriso que me matou. É a primeira vez que vejo seu verdadeiro sorriso. Que garota... Meu Deus, o que significa tudo isso?

— Então... — pigarreio. — Onde está seu namorado?

Decidi entrar no jogo dela: não olhar nos olhos.

— Essa é uma de suas formas de tentar conhecer alguém? Que ridículo. — murmura, rindo.

— Já respondeu minha pergunta, moça. Tenho certeza que não tem. Afinal, como deve ser conviver contigo? Ignorante desse jeito... Deus, defenda essa nação. — falei em divertimento e a mesma gargalhou, chamando atenção de algumas pessoas.

Por mais irritante que a mesma seja, admito que estou me sentindo muito bem ao seu lado. Com certeza é um tipo de companhia que iria adorar.

Foquei em minha lista enquanto ela fazia o mesmo. No momento em que percebi que a incógnita estava distante, tratei de me juntar, novamente. Eu não vou perder esse sinal de Deus. De jeito nenhum!

— Gosta de sardinha? — questiona me olhando, mas tratei de encontrar qualquer outra coisa pra não olhar em seus olhos.

— Não faço ideia do que seja. — encaro minhas unhas e finjo morder.

— Ah, já entendi. — ri. — Leve quatro e quando a gente se encontrar por acaso, você me conta. — disse colocando os ingredientes no carrinho.

E quem disse que vou esperar todo esse tempo para achá-la?

— O que não tem de tamanho, tem de ousadia. — falei e ela riu. Era um tortura não poder olhar em seu rosto.

— E de fome. — a vejo massagear a barriga. — Sabe do que estou com desejo? De comer um sanduíche gorduroso, acompanhando de batatas fritas e refrigerante.

— Eca! Isso não é saudável, moça. Não deveria comer tantas besteiras. Esse é um tipo de alimento que pode lhe trazer diversos problemas...

— Blá blá blá. —  já estava pronto para olhar em seus olhos e lhe dizer umas verdades, pois odeio ser ignorado, porém sou interrompido ao vê-la pegar alguma coisa na área de frios. Seus cabelos estavam ondulados e caído sobre seu peito enquanto a mesma se inclinava e escolhia a besteira que iria levar pra casa. — Gosta de nuggets?

Levanta a cabeça e olha pra mim. Engraçado que tudo que ela fazia eu achava bonito.

— An?

— O que você come? — questiona, indignada.

— Gosto de comida japonesa e pratos diferentes. — dou os ombros. Ela revira os olhos.

— Eu tenho que te apresentar os pratos brasileiros. Você vai amar o purê de batata com calabresa frita, arroz , feijão e salada. Hummmmm. — passa a língua nos lábios.

Tá, isso não foi sensual para mim. Ela não sabe fazer isto.

— Aceito o convite. — sorri. Eu estava adorando seu lado espontâneo.

— Não te convidei. — meu sorriso morre. — Ainda. Não sei se estou pronta psicologicamente para sair com um cara extremamente rico e famoso. E que não gosta de mim. Não sou fã desse tipo de coisas. Foi criada para ser reservada e prezo por isto.

— Posso te convidar para um lugar mais reservado? — pergunto e a mesma me olha espantada. — Não! Calma. Eu entendi que você tem princípios. Acho isso... — procurei palavras.

— Uma incógnita. — ri e eu acompanho sua risada.

— É. Digo reservado pela questão da mídia. Posso pensar direito, mas como você disse "não sabemos qual o próximo dia em que o destino irá cruzar nossos caminhos".

— E lembrando que não é um encontro. Só quero mostrar que a comida brasileira é muito melhor do que experimentar  caracóis. Aquilo enche sua barriga?

— Bom... "Aquilo" se chama Escargot. E não enche minha barriga.

— Entendi.

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“Ah, eu prometo te fazer mais feliz
e ser tudo que você sempre quis.”

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188 - A DONA DA VOZWhere stories live. Discover now