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— Uiui, Alyssa! — alguma das mulheres que estavam sentadas, conversando, se manifesta. — Quem é esse pitelzinho? Eu sabia que tu não era fácil.

— Oxente, Cleide, cuida da tua vida. — outra reclama.

— Gente, esse é meu amigo do exterior. Théo, essas são minhas vizinhas abençoadas. — Alyssa carregava uma certa ironia na voz.

— Oi garotas. — cumprimentei-as.

Eai gato! Satisfação. — a tal Cleide se levanta, caminhando sedutoramente até a mim. — Pode me chamar de "ide"; irei até você, com certeza. — disse, fazendo suas amigas gargalharem, inclusive Alyssa. Por um momento achei que a mesma sentiria ciúmes, mas lembrei que ela é uma mulher diferente. — Ficou sem palavras né? Eu, realmente, causo esse efeito nas pessoas.

— Tá bom, já chega amada. Não espanta o rapaz e tampouco manche a nossa reputação como brasileira e baiana. — Al protesta.

— Pouco me importa o que as pessoas de fora irão achar de nós. O povo baiano já carrega uma má fama da vida, imagine se eu que escolhi evoluir...

— Evoluir? Para trás né, nega? — outra mulher interrompe.

Aooooonde? Se não der em cima de alguém quem é que vai dar em cima de mim? Odeio esperar, quando vejo uma oportunidade tenho que correr atrás. É óbvio que tenho consciência suficiente para saber diferenciar um solteiro de um comprometido, mas tenho certeza que esse gatinho da América não namora a nossa queridinha Aly. Todos nós sabemos o quanto é difícil.

Percebi que aquele comentário, por mais que fosse com tom de brincadeira, afetou a baixinha do meu lado.

— É, ela não facilita. — disse sem pensar, fazendo com que as garotas gritassem e aplaudissem.

Vish, Alyssa, pelo amor de Deus! Tu tá perdendo um homem desse, mulé!  — outra se aproxima, batendo palma.

Não sei se meu ouvido está limpo demais, pois elas gritam ao invés de conversar.

— Gente, vamos cortar as brincadeiras e cada um tomar conta da sua própria vida. — cruza os braços.

— Também acho, pessoal. Fecha cara todo mundo e vamos ter mais respeito com nossa colega. — Cleide é irônica. — Me perdoe, gostoso, por minha inconveniência.

As meninas riem.
Saímos do local debaixo de comentários e chacotas. Se bem que não entendi a maior parte do que elas estavam falando.

— Vá se acostumando com pessoal da vila. Elas não sabem conversar baixo e só falam batendo palma. Mais conhecidas como "barraqueiras". — comentou, rindo.

— O bom é que muitas coisas que foram ditas não consegui compreender por causa das gírias, acredito eu. Mas você está bem?

— Sim, apesar dos pesares, elas que ajudaram minha mãe na minha criação e sempre me defendiam das garotas gigantes da creche que queriam me fazer de capacho. — parece recordar de momentos. — Para elas não importava o tamanho do adversário, faziam questão de ir até o portão da creche para brigar com as mães das meninas. — contou, rindo.

— Nossa, o que mais admiro em você é que não usa essas coisas ao seu favor. Não aprendeu a ser igual a elas.

— Quando me converti, aprendi muitas coisas com Deus. "Não ande com quem você não seria." É difícil de eu ser influenciada por algo ou alguém. Consulto a meu Pai primeiro.

Uma semana depois...

 

  Três dias de recém convertido. Eu estou amando essa experiência e me pergunto como não tomei essa decisão antes? Foi uma escolha própria, ninguém me forçou, aceitei de coração. E ao lado de uma excelente professora espiritual, tenho chegado mais próximo a Deus.

  Sinto que hoje era o grande dia de pedir Alyssa em namoro. Como a mesma gosta de coisas simples, levei-a de olhos vendados até o pequeno monte. Sorte que a lua iluminava a maior parte do caminho, mas deixei algumas letras iluminadas por lá.

— Bom, não é surpresa saber onde está me levando. — a baixinha diz.

— O lugar não importa, o que tem nele é mais importante. Cuidado. — alertei.

— Sei subir esse monte mesmo de olhos vendados, querido.

Ao chegarmos no topo, perguntei se a mesma estava preparada para as coisas que iria contemplar.

— Não imagino o que seja, mas estou com um frio na barriga. — disse. — Talvez seja algo bom.

Tirei a venda e deixei a mesma ter suas próprias conclusões. Alyssa demorou alguns segundos para entender e depois olhou para mim, espantada.

— É sério?! — exclama.

— Sim, muito.

— Meu Deus, Théo! Claro que aceito namorar com você. — avançou em minha direção, abraçando-me. — É tudo que sempre quis, desde quando compreendi que era você. Sempre foi você.

Segurei as lágrimas, afastando a mesma de mim. Tirei a caixinha do bolso e me ajoelhei, pegando o anel e encaixando em seu dedo.

— Depois pode reparar que ele tem um código secreto que só nós dois entendemos. — comentei. Alyssa se ajoelha, pega o meu anel e coloca no meu dedo.

— Nosso número cento e oitenta e oito. — leu o anel, em seguida nossos olhos se encontraram. Talvez aquele seria o momento. Segurei seu rosto com delicadeza como se a mesma fosse porcelana.

A dona da voz mais linda que já ouvi. Terei o imenso prazer de acordar todos os dias ao seu lado e poder ouvir conselhos da parte de Deus vindo de seus lábios. Eu te amo, anjo. — confessei.

— Também te amo, sweetheart.

E eu tomei a atitude com sua permissão. Juntei nossos lábios com beijo apaixonado.

— Talvez eu não saiba tanto assim, mas eu sei que isto é verdade:
eu fui abençoado, porque fui amado por você. — falei após finalizar com um selinho.

FIM!

188 - A DONA DA VOZOnde histórias criam vida. Descubra agora