17° capítulo

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Maria

Dias foram e dias vinham, e eu mal tocava o Henrique por medo. Senti enjoos constantes, oque deixou daddy muito preocupado, mas eu estava bem, disse pra ele que era apenas por causa do excesso de chocolate e graças a Deus ele acreditou.. só que cortou o meu chocolate.

- o grande dia chegou. - disse Luuh baixinho do meu lado. Eu estava parada em frente a escola, com as mãos no bolso do boletom e olhando atentamente pra dentro do pátio onde tinha poucos alunos por estar cedo, pedi a daddy para me deixar cedo aqui e para Luuh vir cedo, os dois concordaram.

- eu sei. - falei em resposta sem ânimo. Ela se aproximou olhando pro mesmo lugar que eu.

- vai dar certo e se não der.. bom eu..

- não! Luuh, você não precisa ficar comigo, se der merda você vai se ferrar. - ela riu e negou.

- somos amigas, nunca vou te deixar sozinha. - respirei fundo assentindo e ela me puxou. - vem, vamos.

E lá fomos nós. Andamos muito mais chegamos em um bairro meio pobre, tinha muito lixo e lama pelo chão, oque não me surpreendeu nem um pouco, as casas eram todas comuns e algumas um pouco acima das demais, sendo mais bonita e mais estruturada.

- é ali. - tinha outra esquina com uma casa bem localizada ali, com um muro baixo e um portãozinho. A casa era razoável e tinha algumas pessoas sentadas em alguns bancos ali.. ou melhor, eram meninas, novas!

- ok, vamos. - respirei fundo criando coragem.

Andamos até lá, e assim que entramos de fato dentro da casa eu me arrependi mas Luuh pegou o meu braço e me olhou com confiança me fazendo crer que aquilo era o melhor.

Meu deus! Havia uma menina de mais ou menos 11 ou 12 anos sentada em uma das cadeiras com um rapaz de uns 19 anos, ambos davam as mãos e a menina tinha uma pequena barriga. O menino tava nervoso e ela com a blusa levantada passando a mão sobre a mesma.

- para de olhar. - Luuh sussurrou e logo me dei conta do que fazia.

- tudo bem meu amor? Vai ficar tudo bem ok? - olhei nervosa e confusa pro lado vendo uma mulher toda de branco, usando luvas brancas nas mãos. - eu vou te ajudar, você vai ficar bem ok? - eu não respondia, é óbvio que todo mundo vem aqui pra abortar um bebê mas ela era muito esquisita.

- sim. - falei apenas.

- venha, eu vou te ajudar. - Luuh assentiu pra mim ficando com a minha mochila.

A moça me levou pra um quarto, era realmente um quarto, com aparelhos hospitalares e coisas que há em um quarto normal.

- moça é que.. isso não é arriscado? - ela sorriu me olhando. Logo mais duas moças entraram.

- primeiro o pagamento. - tirei imediatamente de dentro do bolso do moletom, um bolinho de dinheiro, o equivalente aos 500 reais. - certo, agora tire a roupa e se deite na cama.

Assim o fiz, com medo mas fiz. Fiquei só de calcinha e sutiã e me deitei na cama, elas me deram uma injeção dolorosa que me fez apagar e não sentir e nem ver mais nada.

Abro os olhos com lentidão, não era a minha cama e nem a minha casa, provavelmente eu nunca vi esse lugar. Era tudo branco, não havia nada em outra cor.

- por que você fez isso? - me assusto com muito tremor ao ouvir uma voz fina e doce. - você me tirou? - olho pro lado, havia uma criança sentada em uma poltrona. Logo me dou conta de que estava em um quarto de hospital.

- e-eu, eu sou muito nova. - quem é ele?

- mais eu já te amava, você cuidava de mim. - começo a chorar profundamente, meus olhos pareciam torneiras quebradas, que só poderiam ser paradas de espirrar água para todos os lados se fossem desligadas diretamente da fonte.

- desculpa, me desculpa!

Henrique

Saio correndo do serviço, com toda a minha velocidade. Acabei de receber um telefonema de uma enfermeira, conhecida minha, ela disse que a ambulância veio com uma menina gravemente ferida.. era a minha Maria, minha Maria!

- oi eu sou o responsável por uma paciente, o nome dela é Maria Clara! - digo ao chegar na recepção.

Meu coração estava tão acelerado que eu estava quase dizendo que estava tendo um ataque cardíaco mas tudo que me importa agora é o bem estar da minha mulher.

- Henrique? - olho pro lado vendo Cida, a enfermeira que me conhece, só ela sabe de mim e Maria.

- Cida, por favor, cadê ela? - eu estava quase chorando.

- se acalme, por favor. - respirei fundo mas não dava, eu deixei ela na frente da escola, eu vi ela entrando no portão, eu sempre confiro se ela entrou Maria não é de matar aula. - vem, você precisa saber de algo.

Segui ela corredor a frente e subimos de elevador até o terceiro andar, lá ela me levou pra um quarto onde tinha apenas duas cama, uma vazia e outra ocupada pela Maria.

- meu deus! - comecei a chorar. Ela estava toda entubada, tinha sangue por ela toda.

- eu sinto muito Henrique. - olho para Cida.

- sente oque?! Ela tá bem não tá? - vou até Maria, o aparelho ligado a ela mostra que o seu coração bate, ela tá viva.

- calma Henrique. - ficou do outro lado da cama.

- eu juro que vou atrás de quem fez isso meu amor. - beijei a sua testa.

- não vai ter necessidade. - olho pra Cida confuso. - Maria foi atrás deles.

- deles quem? - falo preocupado com o seu tom de voz.

- uma clínica clandestina. - fico em silêncio, tentando assimilar oque ela dizia.

- não, por que? Maria não faria isso ela nem tá..

Logo me lembro de tudo, dela chorando, ficando na dela, vomitando e nem me chegando perto de mim. Nesse momento me permiti chorar, nunca havia chorado daquele jeito, a culpa é minha, eu fiz um bebê nela e antes disso eu sempre enchi a cabeça dela com merda sobre o nosso amor proibido. A culpa é minha.

- calma Henrique, a boa notícia é que ela tá bem, tínhamos o sangue do mesmo tipo sanguíneo que o dela, da última doação de sangue.

- e a má notícia? - peguei na mão da Maria, estava gelada.

- o bebê não resistiu aos procedimentos ilegais daquela clínica e Maria perdeu muito sangue por causa disso. Ela foi achada na esquina de uma rua próximo a avenida. - passei as mãos no rosto não acreditando que ela fez isso e nem que aqueles filho de uma puta tiveram a coragem de fazer isso.

- ela vai acordar quando? - Cida olhou alguns papéis.

- em algumas horas, fizemos uma cirurgia para costurar pequena partes internas que se romperam e demos um medicamento pra ela descansar. - concordei segurando o choro. Eu me sentia um bebezão daquele jeito mas Maria é tudo que eu tenho, é tudo que eu preciso pra sobreviver. - Henrique. - olhei pra ela. - como não era eu que estava cuidando dela e sim outros médicos que estavam na emergência, alguns deles ligaram pra polícia, não sabiam oque fazer e ela é menor de idade, tem carinha de 13 anos. - respirei fundo assentindo. - você vai ter que falar com a polícia.

- não posso Cida, eu sou o namorado dela, maior de idade e se descobrirem sobre isso eu nunca mais vou vê-la.

Nesse momento o meu corpo todo parecia ter levado um varal de tiros, pela primeira vez na vida eu senti como era perder alguém, perder alguém que eu amo. Maria estava viva mas foi por um triz e ainda por cima a culpa é minha. Ela tirou o nosso próprio filho pra proteger o nosso amor, ela sabia que alguém poderia foder com a nossa vida se descobrissem que eu a engravidei.. se o pai dela descobrisse.

• ʙᴀʙʏ ɢɪʀʟ 1Where stories live. Discover now