70° capítulo

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Henrique.

Dias se passaram e nada do meu pai vir, tive que usar Maria pra saber quando ele viria, mas nada de mais, ela apenas mandou uma mensagem pra Beatriz por que nem eu e nem a minha mãe conseguíamos falar com ela e muito menos com o Pedro.

Hoje é outra semana, ontem Maria tirou os pontos e hoje era aquele dia terrível pra mim.

Eu achava que conforme o tempo ela esquecesse ou sei lá, isso acabaria mas não. Maria teve várias paralisias do sono e não é que "ah, não tem motivo pra levar no psicólogo", mas o assunto já tá ficando muito além de uma crise.

Maria tá estranha, eu não sei se é por conta do meu estresse em relação ao meu pai mas eu não quero que isso afete ela. Conversei com Luh e ela disse que Maria não falou nada pra ela, que continuava mandando mensagem normais mas quando ligava ela tinha a voz bem estranha.

Talvez seja culpa minha.

Tenho a sensação que seja.

- eu... Só não quero te perder. - me sento ao seu lado na cama, observando a sua concentração em por uma tala no pulso. A dois dias ela teve uma pequena queda do parquinho e acabou torcendo o pulso que ela machucou lá nos Estados Unidos e eu achei melhor que usasse a tala por alguns dias. Além disso Cida também disse que achava melhor. - sei que tá indo no psicólogo por conta das paralisias do sono mas... - ela não olhava pra mim, tava distante. - eu me sinto tão culpado e sinto que te machuquei a ponto de...

- daddy eu tô bem. - me olhou séria, o ar de... Adolescente... - você tá com medo que eu diga algo pro psicólogo que não pode? - não, ela estava ainda agindo como criança.

A sua doçura não mudou.

- não é isso é só...

- daddy, eu quero ir, eu quero que ele me ajude com os pesadelos e os sonhos e talvez... Me ajude a encarar tudo isso. - tudo isso. - tudo bem você estar preocupado com os seus irmãos e a sua mãe mas isso tá me afetando. - eu tinha ódio, queria socar a cara do meu pai por ter feito isso. - eu amo.. - colocou a mãozinha no meu rosto olhando fundo nos meus olhos. - eu amo quando você se preocupa com pessoas que ama, isso é a sua maior qualidade. - sorriu, segurei a sua mão no meu rosto. - mas eu também não gosto de ver as suas discussões e não gosto de agir normal e correr pro quarto com medo. - seu olhar ficou triste. - não estou dizendo que eu tô indo no psicólogo pra reclamar de você, eu só quero dizer a ele que eu quero ser forte e que quando isso acontecer eu saber lidar. Eles são pagos pra isso. - me soltou e colocou um pé sobre a cama, conferindo se o cadarço estava bem preso.

- tem raiva de mim? - negou imediatamente, se virando pra mim após devolver o pé pro chão. Ela não teve nem tempo em pensar na resposta, disse não tão rápido, talvez seja um sinal bom.

- nem um pouquinho... Daddy...

- hum.

- eu não queria te falar, por que guardar a raiva pra si mesmo é horrível e você vai fazer isso.

- como assim? - fiquei confuso.

- quando você discute no telefone, ou surta no corredor do nosso quarto ou até mesmo quando grita com a sua mãe por ela dizer que o seu pai não é tão ruim assim e que ele pode levar seus irmãos com ele pra Alemanha, eu me lembro de quando eu era pequena e ouvia o meu pai discutir com a minha mãe depois dele vir na nossa casa pra.. sei la, ele sempre dizia que a minha mãe tinha uma dívida com ele e que se ela não cumprisse com a sua parte me pegaria pra ir morar com ele. E você lembra, ele fez isso. Toda vez que você grita eu lembro da minha mãe pedindo pra ele parar. Eu só quero poder lidar com isso, apenas lidar.

• ʙᴀʙʏ ɢɪʀʟ 1Onde histórias criam vida. Descubra agora