Capítulo 73

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Jorge não conseguiu gritar ao enxergar sua perna há uns metros do seu corpo, pois nem dor estava sentindo; talvez fosse a adrenalina ou o fato de que vários outros soldados a sua volta estavam mortos após as duas granadas que haviam explodido ao seu lado. Porém, enquanto ele não gritava, tudo à sua volta era repleto do som excruciante. O homem estava no meio do caos, porém não tinha forças para se mover até a trincheira mais próxima.

— Jorge?!

O homem conhecia aquela voz, tanto que sorriu para o som da sua noiva, mas nunca conseguiu responder, pois no instante seguinte, duas flechas atravessaram o seu peito; assim o monarca tossiu duas vezes antes de cair para trás e morrer.

***

A guerra havia começado há dois dias.

Assim que Seokjin e sua comitiva chegara no lugar das batalhas, um certo ar de ironia tomou a atmosfera, afinal velhos veículos e prédios faziam parte da paisagem; marcas de uma antiga guerra que matara a muitos e havia instaurado uma nova ordem política e social. E, agora, poderia ocorrer o mesmo, ainda mais dependendo de quem saísse vencedor daquele conflito armado. Definitivamente, era uma brincadeira do universo.

As trincheiras foram logo cavadas pelos soldados do lado da Aliança que foram os primeiros a chegarem, enquanto os de Hyungteo ainda atravessavam a Ponte de Vidro. Aquilo era bom, Seokjin concluiu antes de mais uma vez juntar com os participantes para confirmar o plano pensado.

— Você não vai lutar! — Suran lembrava de ter gritado com Jorge, batendo com força em ombro. — Reis não lutam, ou comemoram ou fogem, mas não lutam.

— Querida, meu sangue mexicano não me deixa parado.

— Idiota!

O diálogo agora ia e voltava na cabeça da salamandra, que tinha um copo de água na mão e Somin com a mão na sua cabeça, tentando de alguma forma passar certa calma para a outra mulher.

— Jungkook chegou? — a rainha Jeon perguntou assim que avistou Hyunwoo entrando na tenda em que estavam. Já era noite.

— Ainda não — disse o tritão, buscando água e a bebendo rapidamente. Seu rosto estava todo sujo de terra e suas mãos de sangue, afinal ele estava ajudando nos cuidados médicos dos homens feridos. Era sua habilidade como um ser do mar. — Eu soube que a estrada foi fechada.

— Será que devo mandar alguns soldados atrás dele? Yoongi talvez?

— Ou... talvez ele não veio? — O tritão ponderou, jogando um pouco da água no rosto. — Talvez seja melhor assim...

— Kookie é teimoso. Claro que ele veio.

— Salve seu irmão. — A voz da outra mulher fez Somin a fitar surpresa, afinal ela não falava nada há umas horas. — Olha pra mim... Carregando um filho de um homem morto. Salve seu irmão enquanto ainda há tempo.

Suran era apenas a sombra da mulher forte e autoritária, após ver Jorge morrer diante de seus olhos. A rainha das salamandras estava devastada pela perda.

— Suran... — Hyunwoo chamou se aproximando da mulher a passos lentos. — Jorge foi um bom homem e um bom rei e nesse momento você gera uma parte dele, talvez a mais importante. É difícil, mas não é aqui lugar e hora para se deixar abater desse jeito. Jorge jamais concordaria com isso e você sabe. — O homem expirou com força. — Nós faremos um funeral digno e nos despediremos, mas não agora, não enquanto essa guerra não estiver acabada.

— Eu não quero um funeral, eu quero a ele.

O tritão suspirou fundo e balançou a cabeça negativamente para Somin, recebendo um aceno positivo da rainha. Ele então saiu da tenda, pois não estava com cabeça para consolo naquele momento, afinal havia feito amizade com Jorge naquele último mês e por mais que afoito e pronto para lutar, o mexicano tinha um grande coração e estava realmente apaixonado por Suran. Era triste demais saber como os dois nunca chegaram a terem seus finais felizes. O pensamento fez o rei dos mares vagar até Jungkook; como estaria o garoto? Esperava que bem, pois não conseguiria manter a pose de forte se algo tivesse acontecido com o Jeon mais novo.

Glass BridgeWhere stories live. Discover now