6. Nem tão bem quanto parece

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Soo-ho estava mais uma vez sendo encurralado no caminho de volta para casa. Enquanto os valentões derrubavam as coisas dele no chão, ele pensava se revidava ou se simplesmente continuava aguentando como vinha fazendo desde o início do ano letivo. A vida dele nunca foi fácil, ele era bom em aguentar as coisas.

Os garotos começavam a empurrar Soo-ho tentando intimidá-lo. Ele não iria revidar, mas se também não o fizesse, eles não parariam nunca.

— Cadê o nosso trabalho, hein?

— Eu não vou mais fazer nada para vocês.

— Vamos ver se não... — um dos rapazes levantou a mão para bater em Soo-ho, mas no momento exato foi impedido por outra pessoa.

— Seus pais não te ensinaram que três baterem em um é covardia? — Rang disse segurando o garoto pela gola da camisa, o deixando ficar quase na ponta dos pés.

Assim que ele o soltou, os três valentões saíram correndo.

— Você está bem? Você se machucou? — Rang perguntou segurando Soo-ho pelos ombros. Tal gesto o fez lembrar da vez que pensou que ele havia sumido e como tinha se sentido preocupado.

— Estou. — Soo-ho disse se desvencilhando das mãos de Rang — Mas eu não preciso de você para lidar com os meus problemas.

Soo-ho pegou as coisas dele do chão e foi embora sem trocar mais uma palavra com Rang.

Yu-na observou toda a cena do carro, viu o namorado dar um leve suspiro quando o garotinho foi embora. Não conseguia distinguir a expressão que via no rosto de Jihoon, estaria ele triste? Desapontado?

— Você conhece aquele garoto? — ela pergunta curiosa.

— Não, só quis ajudá-lo. — Rang respondeu, sério. Por mais que soubesse que Soo-ho não fazia ideia que era ele, ouvir o garoto dizendo que não precisava de sua ajuda, o deixou angustiado.

Rang havia notado que agora ele sentia um pouco mais as emoções, mesmo que tivesse a personalidade de sempre, o fato de ser inteiramente humano o fazia sentir mais, e isso o irritava, era bem melhor quando pouca coisa o abalava.

Yu-na o observava, o namorado apoiava o braço engessado na janela enquanto dirigia, pensativo. Estaria sentindo alguma dor? Ou era por conta do que havia acabado de acontecer? O silêncio a estava deixando desconfortável, até os joguinhos e brincadeiras dele eram melhores do que isso.

— Eu vou pegar um curativo para pôr na sua mão, espera um pouco ok? — Yu-na disse quando eles pararam na porta de sua casa. Ele assentiu sem dizer nada.

Em poucos minutos ela volta com uma caixinha de primeiros socorros e uma compressa.

— Não prec... — o rapaz começou mas foi interrompido com ela já colocando uma pomada nos machucados da mão.

Depois dos primeiros cuidados, Yu-na envolveu a mão dele em uma atadura, e pôs a compressa na maça de seu rosto, a pele branca já mostrava os sinais de um leve hematoma.

Rang ficou ali durante alguns minutos fazendo a vontade da garota. Enquanto isso, pensava se Soo-ho estava realmente bem, e se os garotos tivessem esperado ele ir embora para ameaça-lo novamente? Ele começou a ficar ansioso, precisava checar com os próprios olhos.

Segurou a mão de Yu-na que estava colocando a compressa e a afastou do seu rosto.

— Eu preciso ir agora.

— Coloca mais gelo quando chegar em casa, e passa essa pomada, para evitar ficar tão roxo. — ela disse colocando a pomada no porta luva do carro. Acenou com a cabeça e saiu do carro.

Rang estava tão preocupado que esqueceu que tinha que cumprimenta-la antes de sair, apenas arrancou com o carro e saiu rumo a sua antiga casa.

Ele estacionou o carro próximo a entrada do seu apartamento, não podia entrar, mas dali poderia observar Soo-ho entrando ou saindo de casa a qualquer momento.

O que Rang não contava era que veria os três. Yu-ri e Shin-joo vinham do que parecia ser do mercado, pois carregavam algumas sacolas; Soo-ho vinha do lado oposto com uma cara extremamente emburrada.

Apertou firme a mão no volante para conter a vontade de correr até eles, daria tudo para saber o que tinham dito ao garoto, para que ele abrisse o sorriso e entrasse saltitante junto com os dois.

Rang pode voltar para casa um pouco mais tranquilo, por mais que Soo-ho estivesse tendo um mal tempo na escola, ele tinha uma família boa para ele agora. Escapou um sorriso ao lembrar de Yu-ri, como ela estaria levando essa vida de casada? Muito provavelmente, Shin-joo estaria fazendo todas as suas vontades.

A ex raposa poderia ir para casa agora, os três estavam conseguindo viver bem, sem ele.

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Yeon preparava o mingau de Mi-rae enquanto pensava numa forma de conseguir fazer com que a filha entendesse o que precisava ser dito. Colocou um pouco do mingau na costa da mão e deixou escapar um "hmmm", estava realmente muito bom. Finalmente havia pegado o jeito, foram necessárias várias aulas com a mãe de Ji-ah para que ele soubesse o ponto certo. Mi-rae brincava no quarto, Yeon foi até ela e a pegou no colo.

— O papai quer contar uma coisa para você, filha. — ele disse a colocando no colo, Mi-rae pegou a mamadeira da mão de Yeon, e se esparramou nos braços dele, de forma que seus olhos grandes e brilhantes pudessem encará-lo. — Sabe filha, antes de você nascer, o papai e a mamãe passaram por um momento muito difícil. Um cara malvado queria levar a sua mãe de mim.

— E você deixou?

— Claro que não. O papai brigou com ele, — Yeon parou de falar pensando em como continuar. — mas me machuquei. Aí o tio Rang fez um trato para curar o dodói do papai, e teve que ir embora.

— Entendi. — Mi-rae olhou para o pai pensativa, inclinou a cabeça fazendo uma pequena careta com a boca. — Então o tio Rang salvou o seu dodói? E teve que ir embora? Que chato. — a garotinha assoprou a sua franjinha, revoltada. — Mas por que me contou essa história?

— Chegou a vez do papai ajudar o tio Rang. E eu preciso da sua ajuda.

Mi-rae saiu do colo do pai.

— Minha?

— Sim, preciso que me ajude e não conte para a sua que eu vou ajudar o tio Rang.

— Mas a mamãe disse que é feio mentir.

Yeon sentiu o coração pesar por estar fazendo a filha passar por esse dilema.

— O papai precisa ajudar o tio Rang, mas se a mamãe souber ela não vai deixar. Por causa daquele dodói antigo né? Ela tem medo de dodóis. Tudo bem, eu não vou falar para ela. Mas só se você não se machucar, papai.

— O papai promete que não vai se machucar, filha. Vem cá.

Yeon agarrou sua filha e a encheu de beijinhos. Quando conheceu Rang, ele já era um garoto, não pode vê-lo crescer desde bebê, agora ver o desenvolvimento de Mi-rae o deixava fascinado. Ela entendia as coisas muito rápido para a idade dela, e até a própria fala era um pouco mais desenvolvida do que das crianças normais. Começava a se perguntar se o crescimento físico seria afetado também.

Viu o seu celular vibrar em cima da mesa, era uma mensagem de Taluipa, contendo a localização da primeira alma. Dessa vez Yeon que assoprou o cabelo, o desafio ia finalmente começar.

Yeon teve essa conversa com a filha, mas não conseguiu evitar que ela chorasse quando disse que a iria deixar na casa de Shin-joo.

— Porque você não pede para a vovó ir no seu lugar? — Yeon riu ao ouvir o que a filha havia dito. Ela tinha visto Taluipa apenas uma vez, e nunca mais esqueceu da feição carrancuda dela.

— Não Mi-rae, é o papai quem deve resolver isso. Agora vamos, o tio Shin-joo está esperando a gente.

I'll be there: uma segunda chanceDove le storie prendono vita. Scoprilo ora