14. A verdade dói

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O caminho para casa nunca foi tão longo. Yeon pensou em puxar conversa com Ji-ah, mas achava que a indiferença dela seria ainda pior que o silêncio. A humana permanecia imóvel olhando para o lado de fora do carro. Ele suspirou e mesmo que tentasse, não conseguia supor o que aconteceria quando chegasse em casa.

Ji-ah percebeu que Yeon estava aflito, por mais que ele tivesse alguns milhares de anos, perto dela  dificilmente conseguia esconder suas emoções. Quando pararam no estacionamento antes que dissesse algo, ela desceu para pegar as coisas na parte de trás, um bolo começava a se formar em sua garganta, sentia que ia chorar a qualquer momento.

— Deixa que eu levo a Mi-rae. — Yeon disse com um tom quase esperançoso na voz.

Ela olhou para ele e assentiu, enquanto Yeon desafivelava a filha da cadeirinha, ela organizava as sacolas para levar para cima. Os dois levantaram ao mesmo instante, e assim que o marido carregou Mi-rae, Ji-ah o viu reclamar como se algo tivesse doendo. Ela nunca foi de ignorar o que a incomodava, e dessa vez teve que se segurar para não questionar Yeon ali mesmo.

Foi inevitável para Yeon não soltar um grunhido quando carregou a filha, pois assim que a colocou no colo, seu pé bateu em cheio no corte. Foi andando para o elevador sentindo o olhar de Ji-ah em suas costas, já era ele quem queria evita-la, e assim que a porta do elevador se abriu, saiu rapidamente e digitou a senha da porta a deixando aberta para que ela pudesse passar logo em seguida.

Quando Yeon voltou do quarto de Mi-rae, Ji-ah já havia colocado as sacolas na cozinha e o esperava na sala, com os braços cruzados, seus olhos grandes estavam cheios de água, andava de um lado para o outro, pensando em como começar a conversa.

— Yeon. — ela começou, não sabia como tinha conseguido respirar e não deixar as lágrimas caírem ainda. — O que aconteceu?

— Ji-ah... — Yeon começou a falar, mas as palavras se perderam no caminho.

Ji-ah respirou fundo, sabia o que viria a seguir, mas não estava pronta para ouvir, desde que Yeon havia voltado, tinha vivido uma vida plena e feliz e só de pensar que tudo poderia ruir a qualquer momento, sentia o ar faltar. Olhou para ele e sacudiu a cabeça, foi atravessando a sala em direção a sacada, teria cem por cento de certeza de tudo ali na sacada, como fez da primeira vez.

Yeon quase não teve tempo de impedir, assim que Ji-ah alcançou a metade da sala pisou em um brinquedo de Mi-rae e escorregou, a raposa só teve reflexo de ir rapidamente ao seu encontro e segurou sua cabeça evitando que ela batesse na quina da mesa de centro. Ele não esqueceria o olhar de Ji-ah tão cedo, seus olhos agora o fitavam numa mistura de tristeza e decepção.

— Então de fato, você ainda é uma raposa.

Ela o afastou para que pudesse levantar, e o viu colocar a mão onde ela supôs que tivesse machucado. Sem dizer uma palavra Ji-ah sai da sala por alguns instantes e volta com a maleta de primeiros socorros.

Ainda em silêncio, ela o ajudou a levantar e o sentou no sofá, posicionou a caixa de primeiros socorros na mesa de centro em que quase bateu a cabeça instantes atrás. Sentou- se na beira da mesa e sem esboçar nenhuma expressão começou o trabalho que ela pensou que nunca mais fosse precisar fazer. Não por esse motivo.

Ji-ah ajudou Yeon a tirar a camisa e quase soltou uma expressão de surpresa ao ver o estado do marido. O curativo estava encharcado de sangue e fora ele ainda tinha alguns arranhões no tórax e no antebraço. O ferimento maior era o que mais a afligia, provavelmente precisaria de pontos, o corte não era linear e seguia quase que em zigue-zague por uma extensão de dez centímetros. Mas ele não era um humano normal como pensava, ainda era uma raposa e conseguia se curar sozinho, no entanto, por mais que isso acontecesse, era inevitável que ela o visse naquele estado e não fizesse alguma coisa a respeito.

I'll be there: uma segunda chanceOnde as histórias ganham vida. Descobre agora