11. Um dia bom para recordar

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Quando Rang viu o irmão conversando com Hyun Eui-ong no dia anterior, ficou muito receoso sobre quais eram os planos reais de Yeon ao procurar as almas. Não fazia ideia do que tinha acontecido ao irmão quando voltou do submundo. Sabia que o irmão estava fazendo isso para Taluipa, mas com qual intenção? Se o encontrasse o devolveria para aquele lugar de novo? Eram muitas as dúvidas e inseguranças dentro de sua cabeça, e não podia arriscar de forma alguma aparecer para  Lee Yeon sem saber o que o irmão estava fazendo.

Assim, quando os primeiros raios da manhã de outono apontavam no céu, Rang já estava com o carro estacionado em frente ao prédio de Yeon. Ia seguir os passos do irmão, para que assim que entendesse suas reais intenções  e poder se revelar com segurança no momento exato.

Saiu do carro quando viu o irmão na portaria segurando o seu mini exemplar pela mão. A garotinha dava pulinhos animados, enquanto o pai falava alguma coisa para ela. A uma distância segura, foi acompanhando pai e filha, vendo como Yeon estava realizando bem a missão de ser pai. Lembrou de quando ele mesmo era um garoto, e era carregado nos ombros pelo o irmão dessa mesma forma que fazia agora.

O destino final dos dois era o parquinho, onde Yeon colocou Mi-rae no pula-pula e sentou num banco próximo. O desenvolvimento da filha estava ficando cada dia mais evidente, ela já conseguia andar sem cambalear, e tinha crescido mais alguns centímetros durante a última semana.

— Não precisa ter medo filha, pode pular, o papai está aqui para pegar você... — seu telefone toca. — Ah, oi Hyun Eui-ong! Como está o humor da vovó hoje?

Rang não conseguia ouvir o que Hyun Eui-ong falava do outro lado da linha, então tinha que se contentar com as respostas quase monossilábicas de Yeon.

— Sim, já encontrei a segunda... Eu também me preocupo... Não, ainda não tive notícias dele, mas vou encontrá-lo.

Silêncio. Yeon ficou calado por longos minutos, Rang estava quase espiando por cima do arbusto em que se escondia para ver o que estava acontecendo, quando viu o irmão se levantar abruptamente.

— Não! O Rang vai ficar aqui. Eu vou garantir isso.

Rang levou um pequeno susto ao ouvir o irmão falar o seu nome. Se sentiu aliviado ao ouvir que o irmão estava procurando por ele e não o mandaria de volta. Ao que parecia, Yeon tinha refeito o trato com Taluipa e precisava fazer o trabalho de capturar as almas para ela, em troca de algo. Por um momento Rang se compadeceu do irmão, se tivesse ao seu lado poderia ajudá-lo a acabar com tudo o mais rápido possível. No entanto, ele não era mais uma raposa, e não poderia se considerar um humano também, tendo em vista o seu estado atual.

Antes de voltar para onde havia estacionado o carro, deu mais uma olhada no irmão, que nesse momento ajudava sua menina a descer no escorregador. O dia de se reencontrarem ia chegar.

A caminho do carro sentiu seu celular tocar, era uma mensagem de Yu-na perguntando o porquê de ele ter faltado a aula, sorriu e respondeu com gracejos, perguntando se a garota havia sentido sua falta. Foi interrompido de seu flerte com um garoto esbarrando nele com toda força e se Rang não o tivesse segurado ele teria caído no chão.

— Desculpa.

Ele olhou para o garoto e sobressaltou-se, era Soo-oh. Ele limpava o nariz escorrendo e já se virava para ir embora quando Rang por impulso o chama de volta.

— Te desculpo se formos tomar um sorvete, o que acha?

— Você é o ahjussi daquela outra vez, não é? — Rang confirmou. — Por que você quer tomar sorvete? Eu não o conheço.

— Eu fui com a sua cara, mas se não quiser tudo bem, eu tomo sozinho.

O garoto olhou para ele pensativo, tinha uma sensação estranha de que conhecia aquele homem de algum lugar, mas não sabia de onde. Deu de ombros e resolveu aceitar o convite do estranho.

Rang teve que se conter a todo momento para não falar demais, ver Geumdong ali na sua frente, contente se deliciando com uma taça enorme de sorvete, era algo que não imaginou fazer quando saiu de casa.

Como era de se esperar, depois de quebrar o gelo, os dois conversaram bastante, e Rang pode saber um pouco do que aconteceu com o garoto depois que ele se foi. Ele queria poder parar o tempo para que o momento durasse mais um pouco. Ouvir a risada de Soo-oh outra vez aqueceu seu coração, era irritante o tanto que ele gostava daquele garoto.

— Obrigado pelo sorvete. — Soo-oh disse quando terminou o sorvete, Rang deu um guardanapo para ele se limpar.

Infelizmente o tempo havia se esgotado, os dois se levantaram e foram rumo a porta, Rang não queria ter que se despedir. Quando chegaram na porta e estavam prestes a cada um seguir o seu caminho, Soo-oh pega a mão de Rang com as duas mãos e diz:

— Sabe ahjussi, você me lembra uma pessoa que eu gosto muito. — dito isso, o garoto se despede e vai embora.

Quando Rang finalmente voltou para o carro, deitou a cabeça no volante e uma lágrima solitária escorreu pelo seu rosto.

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O dia estava bastante agitado, era o aniversário da mãe de Ji-ah e por mais que fosse um jantar para poucas pessoas, cada um tinha alguma demanda para resolver. Ji-ah teria que passar a manhã no trabalho finalizando um roteiro, já Yeon tentava conter a filha que estava extremamente animada para ir para a casa da avó. Ele a distraía arrumando as coisas que iam levar para lá quando ouviu o "bip" do celular, se levantou para ver e engoliu seco ao ler o nome Anciã na tela.

Yeon praguejou ao ver que havia recebido a localização, sim, ele poderia deixar para outro dia, mas provavelmente o boato de que ele estava caçando as almas já teria se espalhado, e não poderia perder uma de vista. Suspirou ao se dar conta que teria que mentir para Ji-ah outra vez.

— Amor, vou deixar a Mi-rae com seus pais mais cedo. — ele balançava a cabeça negativamente enquanto falava com ela ao telefone. — Houve um problema na licença da clínica do Shin-joo e ele pediu que eu fosse lá ajuda-lo.

— Tudo bem, eu vou sair mais cedo e vou direto pra lá ficar com ela. Não demora. — ele desligou o telefone, Mi-rae o encarava com os bracinhos cruzados.

— Isso não é verdade, não é?

Yeon se abaixou para ficar na altura da filha, desejou que ela não compreendesse as coisas assim com tanta rapidez, agora Mi-rae o olhava levemente desapontada.

— O papai precisa procurar o tio Rang, lembra? Já está acabando filha, eu prometo.

Mi-rae o encarou, sentiu que o pai por mais que estivesse contando tudo aquilo, não estava nem um pouco feliz em fazê-lo. Ela segurou o rosto de Yeon com as mãos pequeninas e disse:

— Tudo bem papai. Vai ficar tudo bem. Só não se machuque, eu fico triste quando você tem um dodói.

Lee Yeon sabia que pais e filhos tinham uma ligação forte, já tinha visto alguns casos de humanos serem um pouco mais sensitivos e terem uma percepção maior das coisas que acontecem, mas jamais imaginou que fosse vivenciar isso com Mi-rae. Shin-joo conversou com ele sobre o que aconteceu depois do incidente com a primeira alma e Yeon refletiu muito. Agora por saber que a filha poderia pressentir que algo errado aconteceria com ele, tinha que ter um cuidado redobrado, não queria deixa-la angustiada, era apenas um bebê, e por mais que seja bastante racional, ainda é muita coisa para ela lidar sozinha.

I'll be there: uma segunda chanceWhere stories live. Discover now