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Capítulo 16

Miguel pov.

Pleno domingo e eu tenho que trabalhar. Vida de policial é assim, não existe semana e nem fim de semana. Existe dia de trabalho e dia de folga.
Mas hoje eu só irei trabalhar depois do almoço e vou ficar até amanhã de tarde.

Aproveitando esse tempo livre pela manhã, vou fazer compras, porque meus armários e geladeira já estão ficando vazios. Saio de casa e já coloco minha farda dentro do carro.

Chego no mercado e faço uma compra pesada mesmo, pelo menos vai durar o mês todo. Eu tenho um dieta que preciso seguir a risca, mas obviamente eu saio dela sempre que posso. Vou até a sessão de doces também e pego os que mais gosto. Caminho até o caixa, passo minhas compras e pago o atendente.

Pego minhas compras e com a ajuda de um funcionário coloco tudo no meu carro. E agora parando pra pensar, eu fui meio burro em colocar a farda no carro, sendo que irei ter de passar na minha casa para por as compras.
Vou pra casa e deixo as coisas em cima da mesa, guardo apenas os frios para que não estrague. O resto da pra guardar amanhã quando eu chegar. Visto minha farda que peguei no carro antes de subir para não precisar trocar de roupa na delegacia.

Quando estou saindo de casa, João me liga avisando que alguns funcionários estavam suspeitando que iria ocorrer um roubo no mercado. Entro no meu carro as pressas e volto para o mercado em que estive há pouco tempo atrás.
Chego e vejo João no estacionamento conversando com uma mulher loira. Desço do meu carro e vou até eles.

João: Mas a senhora não pode acusar ninguém sem provas.

Miguel: Está tudo bem aqui?

João: Ainda bem que chegou, eu preciso adiantar algumas coisas da delegacia. Tenta resolver isso aí - ele sai as pressas e eu nem questiono, afinal eu mesmo tinha o colocado para fazer coisas importantes pra mim.

Miguel: O que houve, senhora? - Pergunto me direcionando a mulher loira que aparentemente tem uns 35 anos.

Mulher: Doutor, entrou um homem no mercado extremamente suspeito e eu acho que ele irá roubar. Avisei os funcionários e eles ligaram para a delegacia.

Miguel: Entendo, sabe me dizer se esse homem ainda está no mercado?

Mulher: Sim, por isso estou aqui fora. Só entro quando ele sair - ela olha para a entrada do mercado - Ali doutor, é ele. - Ela aponta para um homem negro que saia com suas sacolas, ele estava se vestindo simplesmente. Usava apenas uma bermuda, uma regata e chinelos.

Miguel: Como a senhora pode ver, ele fez suas compras. Não é porque uma pessoa é preta que ela é injusta. Olha o que vemos aqui, uma mulher branca, loira, totalmente dentro dos padrões acusando um homem de roubo pela sua cor.

Mulher: Não doutor, olha pra ele. É óbvio que ele iria roubar o mercado - direciono meu olhar para o homem e o reconheço, ele é um dos empresários mais sucedidos do Rio de Janeiro! Um homem de bom coração. Ela continua o acompanhando com o olhar e se espanta ao vê-lo entrar em sua BMW.

Miguel: A senhora foi racista e isso é uma coisa que eu não admito. Por favor, me acompanhe.

Mulher: Onde o senhor pensa que vai me levar?

Miguel: Pra delegacia. Não sei se sabe, mas racismo é crime. - Eu termino de falar e ela tenta correr, mas eu a seguro rapidamente. Seguro seus pulsos fortemente com uma das mãos, enquanto com a outra ligo para a delegacia para trazerem uma viatura. Não vou levá-la no meu carro porque seria antiético e eu também não quero carregar um troço desses comigo.
Eu nunca senti e nem vou sentir na pele o que as pessoas pretas passam por pessoas como essa mulher, mas eu tenho um papel de autoridade e o que eu puder fazer para mudar um pouquinho que seja desse país, eu farei. Pessoas merecem respeito independente de cor, raça, gênero, sexualidade, religião... E se não aprende a respeitar o próximo por bem, vai aprender por mal.

Em menos de cinco minutos a viatura chega, a mulher é algemada e colocada no carro. Explico o caso para os policiais e digo que ao chegarem na delegacia dispobilizem a ela uma ligação conforme o protocolo e depois podem a colocar direto na cela.
Eles saem com ela e eu vou em direção ao mercado pedindo para falar com o gerente. Ele chega até mim.

Gerente: Boa tarde, senhor delegado.

Miguel: Boa tarde? Hoje presenciei mais um episódio de racismo dentro do seu mercado, já é a terceira vez nesse mês que sou chamado aqui porque uma pessoa branca pensou que seria assaltada pelo simples fato de um preto adentrar em seu mercado para também fazer compras. Essa rede é conhecida nacionalmente por tantos episódios de racismo, negligência e até maus tratos a animais. Eu realmente acho melhor que os cidadãos pretos, que são pessoas como qualquer outra, sejam muitos bem tratados aqui dentro. Porque se não eu mesmo irei tomar providências.
E quando eu quero, eu faço. Esse mercado pode fechar em um estalar de dedos e aqui eu não coloco mais meus pés. Passar bem! - Não deixo ele falar se quer uma palavra e me retiro do local. Esse povo é nojento.

...

O expediente acabou e eu finalmente estou indo pra casa. João me disse ontem que Luna esteve no mercado, queria eu ter dado a sorte de encontrar com ela. E sobre a conversa que tivemos a poucos dias em sua casa, eu contei a ele sobre a possibilidade de Luna ser sua irmã e o mesmo decidiu não criar expectativas sobre isso.

A mulher que eu prendi no mercado será solta daqui a três dias por pagar fiança. Racimo pra mim deveria ser um crime sem direito a fiança, mas infelizmente isso eu não posso resolver.
A mulher tem dinheiro, ou seja, tem influencia nessa justiça corrupta do Brasil. Mas se ela voltar a cometer racismo ou fizer qualquer tipo de preconceito com alguém, eu faço questão de a prender novamente.

Chego em casa e guardo logo as compras, porque se eu deixasse para fazer depois de tomar banho, eu não iria fazer.
Tomo um banho e mando uma mensagem pra Luna, estou com saudades daquela perfeição em forma de mulher. Nós conversamos um pouco e marcamos de almoçarmos juntos amanhã depois de sua aula na faculdade.

Vou para o meu quarto, ligo o ar e deito na minha cama vendo que ainda são 18 horas da tarde. Mas com esse cansaço que eu estou, só acordo amanhã...