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Quando tinha sete anos, meu pai matou, sem intenção, um coelho de estimação que havia ganho no meu aniversário algumas semanas antes. Não foi bem culpa dele, o coelho suicida que resolveu se jogar na frente do cortador de grama bem no momento em que papai passava distraidamente.

Naquele dia eu tive uma das piores sensações que uma criança com seus recém sete anos poderia sentir. Foi como ter o coração arrancando de seu peito, melhor definindo, foi como se alguém enfiasse a mão em seu peito e apertasse seu coração. Cada segundo sendo doloroso e a falta de ar sendo agonizante.

Quinze anos depois estava sentindo as mesmas sensações, mas por razões imensuravelmente diferentes. O ar e as batidas desfreadas em meu peito não era por estar vendo os restos de Pepe preso no cortador de grama, ou espalhados pelo jardim. Era por estar vendo a figura importante de alguém do meu passado parado em minha frente. Alguém que compartilhei, por alguns meses, a minha mais íntima vida e sentimento.

Depois de cinco longos anos, ele estava de volta. Trazendo consigo uma turbulenta confusão em meu peito.

"Oi Rosellyn" é um cacete...

A confusão que me cercou fez com que agisse sem muito discernimento. Talles por sua vez agiu rápido, cobrindo minha boca, impedindo que qualquer outra obscenidade saísse. A galeria estava cheia e eu poderia ser mandada embora por justa causa, era isso que seu olhar me alertava.

Meus olhos vagam de Talles para Jungkook parado atrás de si. Com a falta de ar sendo terrivelmente forte, me peguei delirando por segundos. Um sorriso nervoso se estendeu em meus lábios e eu apenas consegui dar meia volta e correr dali.

Não fui muito longe, afinal nem podia. Cheguei até o escritório escondido ao fundo da galeria e me enfiei lá dentro o mais rápido que pude. Contra a porta cobri minha boca, segurando o grito de pavor que suplicava para sair.

Talvez eu tenha começado aquela manhã de uma péssima maneira. Eu estava estremecida por lembranças passadas e agora gostaria de pedir mil desculpas para a mulher que no começo fui mal educada. Ela me ajudou muito, mesmo eu tendo sido uma vaca grosseira.

Mas com razão ao meu favor, ali iria colocar a culpa no rapaz que apareceu de repente. Ele era a origem daquelas minhas inconstantes mudanças de humor. E vê-lo novamente, depois de tanto tempo afastados, foi como se tivesse sido atinginda por um tsunami. Um enorme tsunami colorido e abarrotado de sentimentos confusos e antigos.

Sentindo-me um pouco tonta andei até a mesa, onde me curvei e respirei o mais fundo que pudesse e quantas vezes precisasse. Necessitava tentar colocar tudo em seu devido lugar.

— Ah, ele está aqui — murmurei em um estado trêmula.

Por estar estranhamente agitada desde o momento ao qual acordei, eu talvez tenha me expressado um tanto que errada. Apesar de ter se passado cinco anos, eu e ele ainda tentamos continuar mantendo contato. O desespero e o medo de ficar sem ele me fez tentar ao menos manter nem que fosse um insignificante contato com ele. Mas tudo isso durou por um mês e meio, porque as coisas entre a gente já não eram mais as mesmas.

Aos poucos o contanto foi diminuído, as ligações foram acabando, as chamadas por vídeo se tornando cada vez mais escassas, até que um dia já não tinha mais nada. Nenhuma mensagem, nenhuma ligação, nenhum e-mail, absolutamente nada. Eu demorei a entender que as coisas só iriam se complicar, porquê minha insistência queria ter mais dele do que eu poderia ter.

Consequentemente por culpa da insegurança que se instalou em nossa relação e da distância emocional que enfrentamos sem mesmo querer, acabamos nos afastando de vez. Acredito que eu deveria ter aceitado aquela situação com compreensibilidade, deveria pensar que minha relação que tive com ele foi como uma boa experiência na adolescência. Eu só não imaginava que seria tão complicado esquecer alguém que passou alguns meses em sua vida.

1 4 3 • jjkWhere stories live. Discover now