V i n g t - t r o i s

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Jungkook

A morte da minha mãe chegou quatro horas depois de eu a ter esperado do lado de fora do ginásio. Estava chovendo, todas as outras crianças já haviam ido embora com seus pais, e mesmo que a treinadora tenha se oferecido como carona, ou mesmo ficar ali comigo enquanto esperava, eu neguei. Depositava toda minha esperança de que minha mãe iria chegar a qualquer momento.

Ela não veio. Nem mesmo meu pai. Quem chegou foi Ryan Fogaz. Um homem que sorria enquanto me dava a notícia de que minha mãe havia morrido. Ele era um policial, mas sorria demais enquanto noticiava uma criança da morte da mãe.

A falta de lágrimas fez crescer em mim a vontade de socar a cara dele. Mesmo que minha força infantil fosse inútil perto da força dele, eu queria verdadeiramente me arriscar a tentar arrancar, nem que seja o mínimo, de sangue dele.

Enquanto na viatura, do caminho do ginásio até a delegacia, ele ficou a todo momento me questionando por qual razão não falava, ou mesmo porque não havia derramado uma lágrima sequer. Era o que eu mais queria fazer, confesso. Mas as lágrimas derramadas ali não seriam somente pela morte de Yoora. Seria por todo o resto. Temia que se caso começasse, não conseguiria parar tão facilmente. Era anos de lágrimas guardadas para serem despejadas enquanto na viatura de um filho da puta.

— Hey, garoto — Fogaz chamou enquanto olhava-me através do retrovisor. O sorriso ainda preso em seus lábios. — Eu conhecia sua mãe — disse ele usando um tom de voz que uma criança de 12 para 13 anos conseguia entender como humor malicioso.

Fogaz esperou por resposta, esperou tempo demais para que deixasse claro que fazia o tipo de homem que não costumava ser ignorado. Eu não me importava com qual era suas preferências, continuei em silêncio.

— Ela era uma vadia — disse ele desistindo de esperar por uma resposta minha. Me olhou por cima do ombro no meio tempo que o carro parou para um pedestre atravessar. — Mas você já sabe disso. Não é? — talvez meu silêncio passou a ser prazeroso para ele, já que sorriu com minha resposta muda.

Eu não precisava de um policial de merda me lembrando o quanto minha mãe era horrível tanto como mulher, tanto quanto mãe. E por mais que minha vontade seja em calar sua boca, talvez causar um acidente propositacional do carro acertando alguma árvore, ou mesmo caindo da ponte que agora passávamos, eu continuo em silêncio.

Já havia lutado muito contra minha própria mente em apagar os defeitos da minha mãe e apenas lembrar de seu lado bom, que estava cansado de tentar limpar sua imagem para qualquer outra pessoa que a conhecesse minimamente. Iria usar o luto como desculpa da falta de minhas palavras.

Quando na delegacia, após trinta minutos sentado em um banco gelado, eu tive que ficar esperando alguém ir à minha procura. Minha tia havia me ligado, eu recusei sua ligação. Ela estava em Vancouver, agora sem dúvidas vindo para Seattle. Provavelmente abdicar de sua vida para cuidar do sobrinho, já que seu irmão, nesse caso meu pai, não saberia como cuidar do próprio filho. Eu não queria que ela viesse, não queria que ninguém viesse.

Mas alguém veio. Izabela veio. Ela me abraçou, com força me apertando contra seu corpo, como se isso fosse aplacar minha dor. Fiquei sufocado, e precisei usar um pouco de força para lhe afastar. Izabela não me repreendeu do ato, pelo contrário, ela entendeu que eu precisava do meu espaço. Ela cuidou de mim ali, mas também cuidou de algum assunto em particular com Ryan.

Eu nunca soube se Izabela era ou não vilã da minha história. Ela era a babá que passou a ser amante do meu pai, e logo mais tarde mulher casada no papel. Meu pai não esperou mais que alguns meses para assumir Izabela. Passei a morar com eles, mesmo minha tia insistindo para que Hank permitisse que eu ficasse com ela. Ele negou, dizendo que o filho precisava permanecer com o pai, principalmente depois da morte da mãe. O problema, era que Hank não era um pai. Ele era tudo, menos pai.

1 4 3 • jjkWhere stories live. Discover now