T r e n t e - s e p t

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A taça de champanhe em minha mão estava pela metade. O tempo levado para beber o mínimo se estendia por muito mais de meia hora, tornando o líquido quente e sem gás. Havia deixado de sentir seu o sabor há um tempo atrás, quando primeiro experimentei da taça de Talles. A insistência de que ficaria melhor se prolongou por mais duas taças, ambas tendo seu líquido jogado em um vaso qualquer que encontrava ao decorrer do caminho no salão.

Não saberia apontar se o problema era eu, ou o quanto um líquido tão conhecido passou a ser desinteressante. Mas beirava ao ridículo a forma como a qual deixou de ser interessante ao meu paladar. E no raso do fundo, sabia que a insistência em mantê-lo por perto ao longo de todo tempo passado, era por desejar estar bêbada, almejando o propósito de não viver àquela noite com tanta lucidez.

Quando na vigésima tentativa de engolir o líquido, minha mão parou em meio ao ato de levar a taça direção meus lábios. Em meu olhar o salão na parte debaixo brilhava ao encontrar a presença do casal que tão bem conhecia.

Respiro fundo, inalado o doce cheiro da trama noturna que começava a embalar o território minado. Porém, antes de qualquer ato, volto meu olhar ao rapaz que caminhava em minha direção. Talles me sorriu de lado enquanto se aproximava.

— Esse é o vestido que usa em momentos onde a morte está presente — foi o que disse.

— Ele é novo — mostro meu sorriso ordinário.

— Você entendeu o que quis dizer.

— Não tem com o que se preocupar, não haverá mais noites como essa — asseguro em um olhar de canto.

— Verdadeiramente espero que não — O tom de reprovação me fez sorrir.

— E o que está usando não seria o seu famoso terno de funeral? — pergunto em provocação.

— Recuperado do fundo do guarda-roupa — brincou em um suspiro baixo. — Me sinto agitado — revelou. Não sei se devo afirmar me sentir da mesma maneira, um de nós precisava exalar segurança. E entre nós, eu sou a infeliz escolhida.

— Não tem com o que se preocupar. Vou fazer as coisas acontecerem conforme deve ser.

— E estamos prontos?

A pergunta era vaga. Prontos para exatamente o quê? Havia muitos possíveis acontecimentos indesejados rondando o clima hostil daquela noite, e não sabíamos em que momento exatamente tudo daria início. E muito menos saberia dizer se a palavra pronto deveria ser usada para definir algo naquela noite. Resumidamente, nunca estaremos prontos até o momento chegar. 

— Até certo ponto — É o que escolho como resposta.

— Noite inapropriada para ser limitada.

— Tenho poucas escolhas do que ser.

— Que tal: "O fruto proibido" de Jeon Jungkook? — acompanhou meu corpo dos pés a cabeça com os olhos, insinuado no olhar que minhas vestes eram dignas do título. — É assim que pretende mata-lo?

— É assim que pretendo enlouquece-lo — Sorrindo um pouco mais levo a taça uma última vez em meus lábios, saboreando, ou tentando, o líquido quente.

— Deus salve o rei, porquê a rainha está decidida a mata-lo — Devolvendo o sorriso, Talles voltou ao seu lugar de antes, permanecendo visível apenas para quem ele queria.

Voltando meu olhar ao salão encaro a movimentação. Cada vez mais convidados iam chegando, tornando o espaço menor e mais sufocante. Não tenho muita escolha para onde ir, é basicamente um caminho reto. Bem estabilizada sobre meus saltos eu entro em ação, deixando o topo das escadas para trás e adentrando na bagunça de pessoas. Uma das minhas intenções era me aproximar lentamente do primeiro alvo, no entanto, ela própria encurtou o tempo.

1 4 3 • jjkOnde as histórias ganham vida. Descobre agora