𝘗 𝘳 𝘰 𝘭 𝘰 𝘨 𝘶 𝘦

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Nunca entendi a arte. Confessava que no fundo admirava um pouco as demais pessoas que conseguiam ver sentimentos até mesmo nos mínimos traços pincelados. Eu apenas via tinta. E mesmo assim, não entendendo nada desse mundo, acabei me envolvendo com ele. Não que fosse meus planos acabar ali, apenas aconteceu.

E eu continuava não entendendo nada.

Um calafrio estranho percorre minha espinha, enquanto com os olhos avalio atentamente a pintura denominada como Saudade, de Almeida Junior. Mesmo passando bons minutos a encarando, eu não conseguia ver o que muitos diziam sobre a pintura, não conseguia enxergar o sentimento que ela carregava. Apenas o nome da obra que me deixava equivocada.

Saudade. Era ridículo o quanto um título simplista teve a capacidade de me deixar estranhamente afetada. Entretanto, aquele não era um bom momento para divagar no quanto me sentia estranha com o sentimento saudade ecoando em meu peito.

Já se passaram cinco anos desde que ele me deixou. Eu deveria ter me acostumado com esse idiota sentimento. Mas era quase que impossível, mesmos depois de tanto tempo.

— Você é a Rosellyn, não é? — fui abordada por um senhor alto, grisalho e com um insistente sorriso de canto. Como disse, eu não deveria estar pensando em assuntos fúteis naquele momento. Pois a vida de adulto era a preferência ali.

— Sim, sou eu — respondi apontando para o pequeno broche de identificação. O homem em minha frente alargou o sorriso, demonstrando alívio por ter tido a certeza de algo.

— Essa não é minha primeira vez aqui — confessou ele. É, amigo, eu mais do que ninguém sabia disso. — Mas em todas as vezes em que venho aqui, sem controle fico te observando, me perguntando o que faz uma moça tão bela trabalhando. A oportunidade de ter tudo o que quiser sem se esforçar não lhe parece tentadora? — seu sorriso deixava bem claro que tipo de oportunidade ele oferecia.

Ah, eu estava cansada. Cansada daquela irritante rotina de trabalho e de velhos que acreditavam poder conseguir algo com alguém mais nova. Não conseguia acreditar que aquele foi meu destino depois de ter acabadao a universidade, se bem que não estava reclamando do trabalho, e sim das pessoas que era obrigada a suportar.

— Me perdoe senhor, mas se caso não for comprar nada, não me incomode — Em um movimento brusco meu braço foi agarrado. Fui retirada do campo de visão do senhor e escondida atrás do corpo de minha gerente.

— Eu me desculpo pela grosseria da minha funcionária, ela não está em seus melhores dias — disse ela ao homem, que aceitou as palavras e se afastou. Invejava ela por saber distribuir sorrisos amigáveis quando na verdade seu desejo era espancar todos ali. — Garota? Já falamos sobre esse seu comportamento. A cada dia você parece estar pior, minha vontade é de te mandar embora.

— Sem mim aqui esse lugar vai direto à falência — declarei sorrindo, sabendo que ela não poderia negar minhas palavras.

— Use essa sua audácia para vender e não me provocar, e lembre-se, mas uma de suas atitudes grosseiras e terá desconto no pagamento.

— Oh não, meu salário não. Farei o meu melhor para ser uma boa vendedora — Não se importando com meu sarcasmo, ela apenas seguiu seu caminho, como se não tivesse acabado de deixar uma exemplar funcionária ainda mais em nervos.

— Não se importando com clientes milionários? Quem é você e o que fizeste com minha melhor amiga? — Brincou Talles em uma tentativa fajuta de me animar.

1 4 3 • jjkOnde as histórias ganham vida. Descobre agora