H u i t

3.5K 411 142
                                    

Jungkook
14 anos atrás

Jungkook — a voz suave de mamãe soou pelo lugar. Por cima do ombro a encaro. Ela sorria enquanto me chamava para perto. Me aproximei dela, acochegando-me em seus braços. — Está bonito? — aquela pergunta já havia sido respondida inúmeras vezes. Em algumas vezes com sinceridade demais, foi o que ela me disse, e em outras com admiração excessiva. A admiração ela aceitava.

— Está estranho — Não que estivesse feio, a questão era que a figura retratada ali não era exatamente o que eu poderia denominar como bonito. Mamãe riu, apertando-me contra ela.

As grandes banhistas, esse é o nome — explicou ela, feliz com sua obra recém finalizada. — É de Paul Cézanne, mas não acho que isso seja interessante à você.

— E não é — apertou meus ombros e me virou de frente para ela.

— Meu pequeno menino sempre tão sincero — seus olhos encarava-me fixamente, seu sorriso era pequeno, apesar de verdadeiro, e ela parecia cansada. Talvez exausta. — Continue sempre assim, fiel à você, nunca uma cópia do seu verdadeiro.

— Por que não posso ser a cópia sendo que a cópia é o mesmo que meu eu verdadeiro

— Porque mesmo que sejam uma representação do seu verdadeiro, ainda continuam falsas, e perdem seu valor assim que descobertas — encarei o quadro ao meu lado. O cheiro de tinta fresca não era agradável, a pintura ali não era bonita, ao menos para uma criança de dez anos. Mas aquilo tudo fazia mamãe feliz, imitar aqueles quadros a deixava feliz. Se era bom para mamãe, não via problema em ser bom para mim. 

— Assim como eles...? — apontei para o quadro, e logo em seguida me lembro de suas palavras, sobre controlar a maneira como a qual era sincero demais. Tive receio de ser repreendido por mais uma vez estar comentando sobre seus quadros, mas ela sorriu, dessa vez não se importando.

— Sim, assim como eles. Mas eles têm o seu valor — encarou a pintura. — Um valor alto suficinete para te dar aquele computador que você tanto queria, não só isso, mas também tudo o que você quiser — seu humor mudou em instante. Me pegou ao colo enquanto se levantava. Começou me dizendo que iriamos comer fora hoje à noite, para comemorar sua jornada encerrada no mais novo quadro.

Enquanto nos afastavamos fiquei a encarar por cima de seu ombro o quadro. Não entendia o que mamãe dizia em relação dele ser valioso o suficiente para comprar coisas, mas as lembranças dos diversos dias que passei com ela ali, naquele canto único e especial para ela, foram os melhores, pois era as únicas vezes que podia ficar próximo à ela sem papai me dizer que estava a atrapalhando.

Subimos as escadas, saindo pela última porta do corredor. Nunca gostei daquela parte da casa, era escura e silenciosa demais. A coisa mais interessante, no fundo divertida, do lugar, era a porta pela qual precisávamos passar para entrar no estúdio de mamãe. Uma porta que não era exatamente uma porta, e sim um enorme quadro, que recentemente, descobri pertencer a mamãe, e somente à ela. Não era mais um dos quadros os quais ela copiava de outras pessoas, que assustadoramente já estavam mortas.

Yoora, ele já tem dez anos. Já está grandinho o suficiente para andar sozinho — Papai repreendeu mamãe assim que nos encontramos com ele na sala principal. Mamãe desviou dele, quando o mesmo tentou me pegar de seu colo.

— Ainda continua sendo meu bebê — argumentou ela novamente abraçando-me. Papai bufou, demonstrando estar de mal humor.

— Nós precisamos resolver algumas coisas antes do jantar. Deixe-o com a empregada e vamos para sala de reunião — avisou impaciente. Antes de qualquer movimento de mamãe, deito a cabeça em seu pescoço, fechando os olhos e bocejando falsamente.

1 4 3 • jjkOnde as histórias ganham vida. Descobre agora