T r e n t e

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A imagem borrada e fraca que refletia no espelho à minha frente não era a imagem que mais temia encarar. O que de fato me matava era o sangue em minhas mãos que assistia ser levado pela água gelada, trazendo consigo um desconforto que doía tanto, que chegava a ser sentido em todo meu corpo em uma intensidade esmagadora.

Mesmo respirando fundo inúmeras vezes, era como se o ar não encontrasse o caminho para meus pulmões, e se caso encontrasse, não era o bastante para me fazer sentir viva. Me escoro na pia, sentindo meu corpo cansado de todas aquelas horas já passadas em uma tortura que não aguentava mais. E quando minha cintura foi tocada por mãos firmes que procuravam me manter em pé, eu quis derramar as lágrimas que segurava desde o momento ao qual acordei.

— Não me toque! — em abrupta me viro, acertando seu rosto com o dorso da mão. Segundos se passaram com ele encarando o chão, o rosto virado na posição ao qual o tapa o deixou. Então, um sorriso em seus lábios se formou. Não necessariamente irado, talvez compreensível. Não importava, eu o odiava de qualquer maneira.

— Ele está bem — voltou a dizer o mesmo que me disse quase que repetidamente nas últimas três horas. — Jungkook está fora de perigo, Rosellyn — Por mais vezes que fossem repetidas, tais palavras vindas da boca de Joshua não significavam nada.

— Vá pro inferno, Joshua — sorriu enquanto ajoelhando-se em minha frente, limpando no chão o respingo de água com sangue. A posição a qual estava, próximo ao meu joelho, permitiu minha imaginação ir além do que devia. Acerta-lo e fugir me parecia fácil enquanto não colocado em prática.

Mas então, bastou olhar à minha volta para entender que nada seria fácil. Estava presa em um quarto onde a decoração simplista me confundia, me levando a acreditar que possivelmente estava em um hotel. No entanto, o silêncio fulminante que cercava meu mundo naquele instante estourava qualquer balão de esperança que tivesse. 

As janelas, cobertas por suas cortinas escuras e pesadas, e que me foram proibidas de chegar perto, poderiam ser um caminho à minha liberdade. Mas chegar até elas não era o complicado. O que havia do outro lado era o que me jogava para o fundo do poço do medo e de incertezas. Até onde sabia, permanecer ali era o mais sensato a se fazer. Mas, até quando?

— Se isso vai melhorar seu humor, pode fazer o que está pensando. Mas já garanto, da porta você não passa — declarou se colocando de pé. Em meio ao ato tocando sutilmente meu joelho, sendo ousado e deslizando a ponta do dedo um pouco mais acima, subindo a barra do vestido. — Agora que está muito bem acordada, preciso revista-lá — a mão que antes tocava minha pele se afastou no momento ao qual a acerto com a minha.

— Você é um homem morto se me tocar novamente.

Com as mãos na altura da cabeça ele recuou até a porta. Não demorou para que em seus lábios um sorriso imoral surgisse, exibindo o que de pior havia dentro dele. Caso não estivesse naquela situação, teria me debruçado sobre a pia, batido minha testa algumas vezes no mármore, em raiva por ter acreditado o mínimo naquele homem e suas mentiras bem contadas.

A situação desde o início me pediu para que fosse cautelosa em quem confiava, mas a idiota acreditou que Joshua poderia ser apenas uma vítima em busca de libertação. Mas estava diante de uma farsa absurda. Joshua não era vítima. Nunca foi, e nunca será.

— Não sou esse tipo de homem — alegou em seriedade. — Sou um lixo, mas não à esse nível.

— Lixo não tem diferença, são todos podres da mesma maneira.

— E pensar que não muito tempo atrás você teria ido pra cama comigo.

— Vá para o inferno — repito, causando nele humor. O toque de seu celular preencheu o silêncio do quarto, roubando nossas atenções. Verificando a mensagem recém chegada, Joshua esbanjou seu melhor sorriso. O qual não carregou paz alguma em meu estado de espírito.

1 4 3 • jjkWhere stories live. Discover now