C i n q

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Joshua Cavan não era exatamente a última bolacha do pacote. Se fosse preciso colocar em alguma posição, talvez levaria o terceiro lugar. As capas de revistas e tabloides sempre exageravam em engrandecer a beleza dele. Mas, em uma coisa a qual eles sempre amavam ressaltar no rapaz, e com razão, apesar da beleza de terceiro lugar, era por ele não ser nada além de um filhinho de papai mimado que chorava até conseguir o que queria.

Não importava seu pai carregar nas costas o título de subprefeito, Joshua fazia o possível, e o impossível, para sujar a imagem que seu pai vendia do filho prodígio. E quando descobri que Karla estava tendo um caso com o rapaz, logo imaginei que nada de bom poderia surgir daquela relação. O encontro de um playboy com uma interesseira não poderia resultar em bons frutos. Nunca estive tão certa em minha vida.

— Um completo idiota! — explanou Karla com a mais pura raiva brilhando em seus olhos azuis. — A beleza não supera o caráter medíocre, para não dizer outra coisa — continuou a detratar Joshua.

Talles e eu trocamos olhares, em anonimato um dizendo ao outro para não sorrir. Nossos empregos dependiam do nosso silêncio e bom comportamento para com nossa gerente desiludida do encontro fracassado da noite de ontem.

— Tão ruim assim? — Talles perguntou na defensiva. Mordo o interior de minha bochecha, cada vez mais me coçando para dizer o que não devia e o que levaria meu ganha pão embora. — Achei que por ser bonito, ao menos seria elegante.

— E é — disse Karla. — Até você acordar no outro dia, nua na cama dele, e o cretino jogar na sua cara que o que aconteceu não passou de uma atração física sendo resolvida! — a caneta em sua mão pedia socorro, em mais alguns segundos viraria duas.

— Os bonitos são sempre os piores — continuou Talles, dando uma pequena moral para nossa gerente.

— E o filho da mãe teve a ousadia de me dar a condução para ir embora! E se você pensa que foi para um táxi, tá errado! Me deu o dinheiro do ônibus! Joshua Cavan me deu alguns trocado para pegar ônibus! Eu, Karla Guirrian, recebendo trocado para ônibus! — meus ouvidos zuniam com os gritos constantes e histéricos que ela cismava em dar.

— Suponho que não rolou nada de interessante além da passagem de ônibus, então? — questionei me balançando sobre os saltos. Não demorou muito para que fosse fuzilada por olhos azuis irados. Não era por querer provocar, a questão da minha pergunta era bem simples, eu precisava saber algum fato mais interessante de Joshua Cavan, do que o quanto ele é pão duro.

— O que exatamente você quer dizer com interessante? — sua voz abaixou algumas escalas, se tornando um aviso perfeito de que eu deveria tomar cuidado com minhas próximas palavras.

— Ah, sei lá, talvez a casa dele. Tinha alguma coisa de interessante lá? Pensa bem, caso se lembre de algo ridiculamente estúpido que viu na casa, poderá guardar essa lembrança para sempre. E ao invés de se lembrar de Joshua Cavan como o cara que te deu alguns trocados para passagem de ônibus, se lembre dele como um idiota que tinha em sua casa, por exemplo, um coelho de pelúcia rosa gigante.

— Não, não tinha nenhum coelho de pelúcia rosa gigante, e sabe por quê? — neguei com a cabeça ao perceber que a pergunta não era retórica. — Porque ele me levou para um motel! Motel, Rosellyn!

— Pelo menos foi um motel cinco estrela? — Talles argumentou por brincadeira, deixando escapar um sorrisinho malicioso. Karla não perdoou.

— Saiam da minha frente, antes que o salário de vocês sejam reduzidos à salário de formiga! — Não existia coerência em sua ameaça, mas a deixamos em paz assim mesmo. Mesmos sendo uma ameaça sem sentido, ainda sim continuava sendo ameaça.

1 4 3 • jjkOnde as histórias ganham vida. Descobre agora