Q u i n z e

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— Onde está você... — minha voz rompeu o silêncio do quarto.

Horas haviam se passado desde o momento ao qual me sentei ao chão e me coloquei no árduo trabalho de encontrar os tais segredos escondidos por Yoora. Tendo as plavras de Jungkook presas em minha cabeça, não pude controlar os impulsos de ir atrás de respostas.

No entanto, estava perdida. Mesmo depois de horas não sabia o que estava fazendo enquanto sentada ao chão, encarando a mesma pintura.

Tinha em mente que procurava algum segredo de Yoora, mas também me perguntava se ela esperava ter a ex namorada do filho no alucinante trabalho de desenterrar seus segredos. Nada me tirava da cabeça que ela queria que seu filho fosse a pessoa responsável por descobri-los.

Mas ao ter me entregado o quadro, Jungkook deixou claro não querer ser perturbado por aquela pintura e o que ela possivelmente escondia. E se essa era sua decisão final, eu não seria contra.

Após um suspiro cansado eu me levanto, chegando mais perto do quadro. Realmente havia algo nele, eu sentia. Sua presença chamava-me como um imã. Observo com os olhos cansados o rosto borrado da mulher. Me pergunto por quais foram as coisas que Yoora passou para poder amar alguém em segredo. Provavelmente seu fantasma a fizesse feliz ao ponto de fazê-la se arriscar tanto assim.

Deslizo as pontas dos dedos sobre o rosto, querendo sentir através da textura o sentimento que ela usou para pintar aquilo. A única coisa que me vem em mente é Jungkook. Um garotinho inocente e sorridente assistindo a mãe pintar. Um garotinho que precisou esconder um grande segredo, sem mesmo imaginar o quão grande ele era.

Meus dedos se arriscam cada vez mais a explorar o quadro, sentindo em cada toque avançado um arrepiar intenso em minha espinha. Sem esforço algum me aprofundo em minha imaginação, materializando Yoora nos braços de Michael. Hank nos braços de Izabela, e Jungkook sozinho entre ambos. A cena causa em meu peito uma dor angustiante.

Entre toda aquela confusão, Jungkook certamente foi quem mais se feriu. Era apenas uma criança sendo obrigada a conviver ambos lados quebrados de uma família partida em duas.

Respiro fundo, desejando abraçar aquele pequeno garoto. Acalmar seus sentimentos confusos e frustrantes. Queria poder dizer que ele não estava sozinho. Eu estava ali para ele. Sempre estaria.

Abruptamente abro os olhos, sentindo falta de ar atingir meus pulmões. Havia avançado inconscientemente sobre a pintura, chegando próxima à moldura, onde umas das sombras observava com mais anseio o casal dançando. A sombra era mais densa entre todas as outras. Na primeira vez que vi, julguei que era apenas por culpa da posição que estava. Mas agora, com as pontas dos dedos sinto que havia muito mais camadas de tintas ali.

Certamente precisaria muito mais que toques para descobrir um segredo escondido entre tintas. Mas a densidade centralizada naquele fantasma reforçava meu pensamento de que Yoora pretendia deixar óbvio seu segredo para quem fosse minimamente mais atento.

— Achei — murmuro sentindo meu peito se agitar. Era precipitado, eu sei, mas tinha toda certeza de que havia achado. Me afasto da pintura, a encarando com orgulho me apoderando.

E então, de um minuto para o outro, e sem aviso algum, minha cabeça girou, deixando-me zonza e fraca. Demorou alguns segundos para entender que a culpa da tontura foi o pano úmido colocado contra minha boca e nariz.

Um corpo rígido e muito mais alto se pressionava contra o meu. Seu braço envolta da minha cintura, prendendo-me no lugar. A pessoa me segurou com força, enquanto esperava que o cheiro forte de clorofórmio me fizesse desmaiar em seus braços.

Certa vez papai havia me dito que era facilmente capaz de pensar rápido quando em situações de perigo. Tais palavras foram logo depois do acontecimento da casa assombrada. Onde os garotos mais velhos da rua me prenderam na casa supostamente abandonada do bairro. Mas ela era ocupada por um cachorro maltratado o suficiente para atacar qualquer coisa que entrasse em seu caminho. Meus instintos me fizeram correr e pular contra uma das janelas da casa, me salvado de ganhar ferimentos piores do que arranhões de vidro.

1 4 3 • jjkWhere stories live. Discover now