S e i z e

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Sinto meus olhos doerem enquanto aos poucos ia me acostumando com a claridade que engolia todo o quarto. A cortina da janela ao lado tentava realizar seu trabalho em proibir da luz fazer seu trabalho. O sol estava mais forte que a capacidade daquela cortina.

Aos poucos me sento. Meu corpo reagiu no mesmo instante que se sentou. Parecia estar fora de sintonia com qualquer outra coisa, era como se tivesse acabado de acordar de um longo e cansativo sonho que exigiu todas minhas forças físicas. Talvez tal sonha fosse na verdade um belo e assustador pesadelo.

Depois de longos segundos piscando e acostumando-me com a claridade, noto então que não conhecia aquele lugar. Não era meu quarto, ou qualquer outro quarto que já estive antes. Um quarto espaçoso, com a decoração simples, basicamente sem nada. Me lembrava quartos de hotéis. Com a diferença das cores predominantes cinza escuro e marrom. 

Por um tempo fecho os olhos, inspirando profundamente. O perfume impregnado no ar automaticamente me deixou ciente de quem aquele quarto pertencia. Como de costume tudo em sua vida parecia simples, sem cor, sem recordações boas. Apenas o minimalista e vazio.

Encaro minhas mãos para depois meu reflexo no espelho de corpo encostado ao canto entre a parede e a janela. Estava com a mesma roupa de ontem, não sabia dizer se o que tinha em minha cabeça era cabelo ou apenas um ninho, minha imagem naquele momento era o contrário do que gostaria. Me sentia fisicamente cansada e destruída.

Ainda meio zonza de sono me levanto, caminhando para a porta que levava ao banheiro. Penso que deveria me manter digna antes de encara-lo. Após o longo banho quente, me vi parada diante do espelho, novamente encarando meu reflexo.

Algo de estranho me perturbava no que via. Há dez horas atrás eu assisti alguém ser baleado em minha frente. Tinha preso em minhas memórias seu corpo no chão enquanto o sangue escorria de seu ombro. E apesar de tudo, não conseguia sentir nada em relação àquilo. Tudo parecia tão simples de ser aceito. Fecho os olhos querendo esquecer por um tempo de tudo o que aconteceu.

Seco meu cabelo e visto uma das camisa de Jungkook, não me importando com o que ele iria achar da minha ousadia em usar suas roupas sem mesmo perguntar. Agora o que via no espelho era uma imagem restauranda de mim mesma. Por mais que a única coisa em meu corpo seja a blusa dele, eu ainda sim estava com a confiança recuperada.

Desço as escadas, agitada enquanto procurava por ele. A sala minimalista e gelada estava engolida em silêncio. Olho ao meu redor, tentando saber que caminho deveria seguir. Por instinto vou para a cozinha, atravesso toda ela, saindo pela única porta ali. Levava ao jardim dos fundos. Tinha uma piscina e atrás dela um salão, onde suas paredes de vidro me permitia saber que era uma academia.

Jungkook estava lá.

Vou até ele. Entro silenciosamente e fico estática no lugar enquanto o observava se excirtar com o saco de pancada. Meus olhos não conseguiam ter outro foco a não ser ele e cada movimento realizado contra o objeto. Usava uma calça de moletom e regata. Me pego de boca aberta ao ver que seu braço tatuado havia ganhado mais tatuagens. Muito mais. Quando no colégio ele tinha poucas, mas agora seu braço estava repleto de desenhos aleatórios que eu daria de tudo para contornar com as pontas dos dedos.

Digo à mim mesma que deveria desviar o olhar, mas não posso. Não sabia explicar a razão, mas me sentia bem enquanto o observava fazer o que gostava. Foi assim na primeira vez que o vi jogar. Sempre sorria mais do que devia quando o assistia. Era um tipo de emoção diferente, a qual eu não sabia explicar, apenas sentir. Abro um sorriso involuntário, sendo fisgada pela vontade absurda de me aproximar.

1 4 3 • jjkWhere stories live. Discover now