D o u z e

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Quinze minutos depois eu estava na casa de Joshua, ou melhor dizendo, na casa de seu pai. Não zombaria a estranheza de Joshua ainda morar com o pai, ou a estúpida ideia de trazer mulheres para a casa, afinal, tal coincidência foi o estopim pelo qual estava fazendo tudo aquilo.

Então, lá estava eu, há cinco minutos e meio parada diante de um enorme quadro pendurado na parede solitária que separava a sala da cozinha. Não sabendo como reagir ao que meus olhos viam.

— Conhece esse? — perguntou Joshua saindo da cozinha e parando ao meu lado com duas taças de vinho em mãos. Ignoro a taça de vinho e volto meus olhos ao quadro.

Um fantasma dançava sob a luz da lua, na companhia de uma mulher onde o rosto estava borrado. À sua volta havia sombras, parecidas com pessoas observando o casal dançar. Pintado nas cores predominantes preto, violeta, cinza e azul. Era um quadro interessante, embora intrigante.

— Não. Nunca o vi — assumo. Joshua passou a língua entre os lábios e se virou para o quadro, também o observando com mais atenção.

— Provavelmente seja porque ele nunca foi exibido em lugar algum — algo naquele quadro me incomodava. Não sabia dizer se era as cores, o fantasma ou a mulher. Mas tinha algo naquela pintura que deixava uma sensação esquisita em meu estômago.

— Qual o nome?

Le Péché Du Fantôme — murmurou em uma voz profunda, olhando-me como se esperasse alguma reação diferente. Finjo não saber francês, e espero que ele mesmo traduza o nome. — O pecado do fantasma, o título é francês, embora a artista não seja.

— Ah — passei os olhos nervosamente pela pintura. Joshua ainda esperava por alguma reação minha, e eu não sabia exatamente qual ele queria. Então eu sorri. Disfarçando qualquer coisa que estivesse sentindo. — É bonito, apesar de exótico — Eu disse, arrancando dele uma risada baixa e rápida.

— Tem alguma interpretação a dar? — de repente ele estava interessado demais em quadros e deixando o sexo de lado. Não que essa última coisa fosse realmente acontecer.

— Não sou boa em interpretações.

— Mas suas notas em histórias não eram as melhores quando no colégio? E na galeria é considerada a melhor para explicar a interpretação de algum quadro — bebeu um pouco de seu vinho. Engulo em seco, de repente sentido meu corpo ficar rígido.

— Como sabe disso? — noto arrependimento reverberar em seus olhos. Foi coisa rápida, ele até conseguiu se recuperar logo. Mas eu vi.

— Você me disse no caminho para cá — Não, eu não havia dito nada. Nem mesmo uma mísera menção de trabalhar em uma galeria de arte.

Sem controle encaro a porta. Me passou na cabeça a possibilidade de sair correndo, querendo fugir dele. Mas claramente não podia abandonar o plano, logo agora que estava prestes a começar. Abro um outro sorriso, escondendo o nervoso.

— Acho que foi, devo ter bebido muito — pego a taça e bebo todo o vinho de uma vez só. Prefiro manter a ignorância do que fugir. Mais tarde resolveria aquele enigma.— Por que tantos quadros? — troco o assunto.

Limpo o rastro de vinho em meus lábios com o dorso da mão e saio andando pela sala. O lugar tinha um quadro a cada canto que você olhasse. Sem dizer nas esculturas bizarras. O que a proporção enorme de espaço possibilitava ter muito mais do que o recomendado.

— Meu pai é colecionador — explicou ele, seguindo-me com mais lentidão do que de antes.

— Um hobby bem caro — resmungo olhando minha taça vazia. Precisava de mais vinho, de muito mais. 

1 4 3 • jjkOnde as histórias ganham vida. Descobre agora