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— Três porções, uma de não sei o que estou fazendo, a outra de estou me metendo em confusão e a última de não consigo me desapegar do passado — Pediu Talles ao atendente do outro lado do balcão, apontando para o cardápio, como se aquelas opções realmente estivessem gravadas ali. O pobre rapaz ficou sem reação.

— Três expressos para viagem, por favor — corrigi seu pedido. Fui para a mesa encostada na janela, esperar que as bebidas ficassem prontas. Talles me seguiu. — Sei o que estou fazendo — comento após me sentar. Revirou os olhos.

— Não sabe não. Caso soubesse, não teria concordado em ajudá-lo — Escorreguei na cadeira. — Não faça esse comportamento de criança frustrada por não ter ganho um celular novo! Eu estou dizendo a verdade.

— Sua verdade não me agrada.

— Não se chamaria verdade se seu propósito fosse ser agradável — podia ver o veneno escorrer pelo canto de seus lábios. Ele se inclinou sobre a mesa oval, fazendo-me ser obrigada a encara-lo mais de perto. — Você é uma idiota. Ter aceitado ajudá-lo é o mesmo que escancarar que ainda sente algo por ele.

— E eu ainda sinto — suspirei baixo, detestando precisar assumir aquilo. — Mas não foi por tal motivo que aceitei ajudá-lo — explico.

— Certo — se jogou no encosto da cadeira, sorrindo-me malvado. — Diga-me a razão de ter aceitado ajudar o cara que te abandonou, que não fez questão alguma de se esforçar para manter ao menos um simples contato com você. Sem dúvidas deve ser uma maravilhosa razão.

Tê-lo jogando fatos verídicos em minha cara machucava. Não tinha o que dizer, nem mesmo poderia usar palavras decentes para rebater. Coagida, briquei com a embalagem de açúcar, rasgando as extremidades.

— Não tenho — Eu disse após os longos dois minutos em silêncio. — Eu simplesmente quero. Só isso — Dei de ombros, não tendo nada melhor para dizer. Talles afundou na cadeira, respirando fundo e massageando as têmporas.

— Não posso fazer nada contra sua vontade — começou dizendo. — Mas lembre-se: São as nossas escolhas as que melhor definem o que somos, muito mais que nossas habilidades.

Não consigo controlar o instinto de soltar um gemido frustrado e jogar a cabeça para trás.

Recentemente Talles releu toda saga de Harry Potter. Um costume que criou há um ano atrás, por culpa de uma briga que teve com a mãe, sobre ela não o permitir sair fantasiado de preservativo. Ele acreditava que Harry Potter elevava seu nível de inteligência para debater sobre qualquer assunto. Sobre qualquer assunto mesmo.

Desde o momento ao qual, literalmente, caí da cama, ele usava de sua experiência com os livros para rebater qualquer palavra minha, até a mais insignificante. A cada dez palavras minha, ele usava quinze frases retirada de algum livro da saga.

— Mais uma frase de Harry Potter, e eu soco sua cara — aviso. Deu de ombros, como se não fosse capaz de controlar. — Acho que deixei de fora um pequeno detalhe da minha conversa com ele, mas ambos deixamos claro que não haveria tentativa alguma de reatar o que tivemos no passado. Não existe possibilidade de voltarmos a ser um casal.

— Sendo sincero, isso é o que menos me preocupa.

— O que quer dizer com isso?

— Eu sei que você está brava comigo e com toda essa minha insistência, mas você precisa concordar comigo, Jungkook não é o mesmo garoto do colegial — explicou. — Aquele garoto que você namorou por alguns meses, não é o homem que apareceu ontem à noite. Eu não sei o que aconteceu, mas foi coisa suficiente para muda-lo completamente. E é isso que me soa mais perigoso para você.

1 4 3 • jjkOnde as histórias ganham vida. Descobre agora