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V i n g t - h u i t

Naquela manhã acordei com o som estridente do toque de algum celular tocando por todo quarto. Demorou um tempo para encontrar o aparelho, e então saber que eu era a dona do celular.

— Brad acabou de se entregar à polícia! — Foi o que a voz apressada e abafada de Talles gritou ao outro lado. E ele não foi o único a me ligar naquela manhã, Kris, Tânia e Yuri fizeram duas horas da minha manhã parecer cinco. Cada um com um questionamento diferente, Talles sendo o único a interrogar o que eu fiz para àquilo acontecer. No fim das ligações, quando me deitei de costas na cama, soltando toda minha respiração em um ato dolorido e exagerado, implorei para que algum milagre acontecesse naquele exaustivo dia. A necessidade de preencher minha cabeça com qualquer outro assunto era enorme, para não dizer absurda.

Apesar de ser satisfatório ligar a televisão e assistir jornais e mais jornais comentando sobre a súbita e inesperada confissão de Brad Davies e sua prisão, tudo me cansava. Era tudo muito exaustivo, e eu precisava urgentemente de um segundo de paz. Apenas esquecer de qualquer problema que minha vida vinhesse sendo sondada.

Foi então que o milagre aconteceu. Mas precisamente o número desconhecido me ligando que aconteceu. Inexplicavelmente era Sarang, a meia-irmã de Jungkook. Não houve tempo em perguntar como ela sabia meu número, ou por qual razão me tratou de maneira tão íntima, sendo que nunca chegamos a ficar frente a frente. Ela apenas agiu normalmente, como se fôssemos amigas de anos. E de fato, foi espantoso a leveza que a conversa fluiu.

Mas no fim, sua ligação animadora foi o milagre do meu dia, e a razão da minha primeira briga matinal com Jungkook. Um convite inesperado para uma partida não oficial de paintball foi o estopim. Bem provavelmente ele afirmaria que meu sim para o convite que era a razão da briga. Mas havia controvérsias.

— Pelo jeito você não entendeu na primeira vez, mas eu repito, nós não vamos — foi o que ele disse, e da maneira mais grosseira que podia. E quando ousei questionar o porquê, recebo a resposta que não devia. — Byeol vai estar lá, e o que menos quero são vocês duas no mesmo ambiente.

— Está protegendo quem? — minha pergunta oscilava entre armadilha e desapontamento, ele apenas percebeu o lado da armadilha.

— Byeol — foi o que disse após o silêncio corrosivo que me matou a cada segundo por dentro.

— Resposta errada, Jungkook.

O fim da minha manhã foi entre notícias boas, oscilações de sentimentos, brigas e olhares furtivos. Já o começo da tarde, entre o almoço e o café da tarde, eu acabei, sem a mínima intenção de Jungkook, no campo que seria usado para a partida de Paintball. Uma hora após tudo dar início eu me encontrava caminhando ao lado de Sarang, surpreendentemente envolvida em uma conversa divertida e tranquila.

— Ele é uma cobra! Sempre quando jogávamos juntos ele vencia! Nunca consegui ganhar dele — E o assunto era Jungkook e seu péssimo comportamento competitivo. Junto com ela eu ri um pouco, gostando da maneira que ela falava dele. Apesar de estar reclamando, não exilava o carinho pelo irmão. — Ele é ardiloso, quando você pensa que está ganhando, de repente ele surge e acaba com todas seus planos.

— Sei bem como é — concordo não querendo concordar. — Já jogou damas com ele? Eu nunca achei que era possível perder tantas vezes em damas, mas eu perdi vinte vezes seguidas.

— Você ainda foi insistente, eu desisti na quinta — soltou um suspiro e ajeitou a marcadora pendurada em seu ombro. Olhei de canto para ela. Sarang parecia bem mais velha do que sua idade deixava ser. Para uma garota de dezessete anos ela era bem mais madura do que eu fui. Mas ainda sim, o brilho de uma jovem que apenas buscava viver o lado leve da vida brilhava em seus olhos escuros.