T r e n t e - s i x

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Já era de madrugada quando destranco a porta do apartamento que conhecia tão bem. Mesmo não sendo mais uma das moradoras dali, me permiti ficar com a chave. Para casos de urgência, essa era a desculpa. Mas, mesmo que fosse só uma desculpa, era a verdade. Afinal, minha presença ali era um motivo de urgência.

A luz estava acesa, e Talles andava de um lado para o outro na pequena sala. Mordendo a ponta do dedo, num evidente sinal de nervosismo. Quando me viu passar pela porta foi como ver a solução de todos seus problemas entrar. Por pouco não assistimos a preocupação em matéria densa fluir de seu corpo.

— Santo Deus, até que enfim! Eu estava a ponto de surtar! Você apenas ligou jogando a bomba e não deu mais sinal de vida — reclamou apertando-me contra seu corpo rígido, mas ainda macio.

— Acabou a bateria.

— Mandasse sinal de fumaça! — poderia ser malvado, mas adorava ver seu estado de preocupação atacar.

— Seria apropriação cultural.

— Rosellyn!

— Tudo bem, dá próxima vez mando um pombo correio.

— Não vai ter próxima — me puxou para dentro e trancou a porta com todas as voltas que a chave podia dar. Precaução, foi o que seu olhar disse. — Kris está dormindo, tomou remédio para alergia e só acorda amanhã. Temos privacidade para conversar — avisou.

Antes que alguma outra conversa pudesse surgir, me pego distraída encarando a silhueta escorada na entrada do corredor que levava aos quartos. De braços cruzados e um olhar cerrado ele apontou para a bochecha ainda vermelha. Vergonha me predominou no mesmo instante.

— Me desculpa — Sorrindo envergonhada vou até ele. — Me deixei levar pela emoção da atuação. Eu juro que não queria ter te estapeado tão forte. 

— Você bem que gostou, não minta. Me acertou com toda força que podia — alegou Jungkook envolvendo minha cintura com o braço e me puxando para si. — Já que servi de saco de pancadas, você poderia me recompensar pela brutalidade gratuita.

— Eu não ter dado outro tapa já é uma grande recompensa — mesmo assim, eu beijo sua bochecha acertada. Não era exatamente ali que gostaria de ter sido beijado, mas aceitou sem pestanejar. — Aliás, bom trabalho com a Byeol. As imagens ficaram bem convincentes — me perco entre sentir ciúmes e bancar a profissional.

— Você tá irritada? Foi você mesma que sugeriu usar ela — se defendeu.

— Não é só porque eu sugiro as coisas que você precisa fazer.

— Você tem probleminhas, Cooper — a alegação me fez sorrir involuntária. 

— Enfim — exclamou Talles puxando nossa atenção. Me afasto de Jungkook, notando que nossa aproximação física não agradou o moreno. — Yoora acreditou?

— Até mesmo meus sentimentos se confundiram com a atuação — começo dizendo. — Não querendo ser arrogante e nem nada, mas, é óbvio que ela acreditou.

Jungkook às vezes conseguia ser um pouco assustador se tratando de algumas ideias. Mas essa em questão, de enganar Yoora com todo um drama romântico, fez meus olhos brilharem em excitação. Foi uma ideia arriscada, e ainda está sendo. Mas por Deus, só de saber que Yoora acreditou já era um ganho enorme para nossos planos.

— Você é incrível — alegou Talles. — Mas eu ainda quero te matar por ter aceitado.

A cena de hoje de manhã entraria para as coisas mais arriscadas que já havia feito em toda minha vida, e por razões óbvias aceitaria a ameaça de Talles. Entretanto, iria me lembrar do dia de hoje para sempre com muito orgulho. Nunca em minha vida havia atuado tão maravilhosamente. Atuei em um nível que até mesmo meus sentimentos acreditaram e por pouco não me fizeram sentir verdade no que fingia.

1 4 3 • jjkWhere stories live. Discover now