Capítulo 3 - Ecos (parte 2)

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Olá olá!

Com um pequeno atraso, mas enfim temos aqui a 2 parte do capítulo 3!

E se gostar do capítulo, não esquece de dar o votinho <3

Mas agora vamos ao que interessa, né?

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O porta-retrato quase cai no chão com meu sobressalto. Com o coração disparado na boca, me viro em direção a porta no instante em que mamãe a está fechando.

Ela já está arrumada para o jantar, claro. O vestido azul-cobalto de saia drapeada se molda ao largo corpo curvilíneo e harmoniza com a pele porcelana; o cabelo escuro e cheio cascateia em ondas, apenas uma parte presa no topo para sustentar a tiara.

E, ao me ver na cama, franze a testa.

— Não acredito que ainda está de roupão! Esperava que ao menos estivesse terminando com o cabelo... Onde está Brigitta?

— Eu precisava ficar sozinha.

— O que esteve fazendo esse tempo todo em vez de... — Ela se interrompe quando, ao passar do sofá, encontra a resposta na bagunça de dardos e vidro. Balança a cabeça num suspiro cansado. — Nem sei por que ainda enviam esses vasos para cá.

Resmungo sem dizer nada, devolvendo o porta-retrato ao seu lugar de segurança. Quando me volto para ela, mamãe tem a cabeça levemente inclinada, as íris verde-mar me analisando à distância.

— Ainda está de mau-humor ou pode ir se vestir para o jantar?

Mau-humor? — Arquejo, saltando da cama. — Acha que estou apenas mal-humorada?

Ela nem pisca.

— Conheço você o suficiente para saber que não — diz, segurando as mãos diante do diafragma numa pose solene. — Mas se for esperar até que pare de remoer suas queixas, ficaremos por horas aqui. Então diga de uma vez o que quer dizer e venha se trocar. Aristides acha que está se atrasando novamente apenas para irritá-lo e uma veia está para estourar na testa dele.

Mamãe tem uma tranquilidade quase fria ao falar. O tom reservado para reuniões diplomáticas com nobres problemáticos. Mas ouvi-la usar esse tom – o da rainha Roxanne, em vez da mãe – em vez de me apaziguar, é outra flecha em chamas, reavivando as brasas em meu peito.

— Ele não vai morrer se esperar mais alguns minutos. É justo, considerando todo o tempo em que me escondeu esse noivado e por ter contado da forma mais ridícula!

Mamãe me lança um de seus olhares gelados.

— Não fale dessa forma tão leviana quando conhece o estado dele. Entendo que esteja irritada, mas isso não justifi-

— Irritada ainda é pouco para o que estou agora! — retruco, avançando até a ponta da cama. — E como pode dizer que entende? Como pode achar que entende ou chegar perto disso? Ninguém a obrigou a se casar! Se realmente tentasse ao menos imaginar, teria... — Bufo uma risada amarga, balançando a cabeça e seguro com força a pilastra à minha direita. — Vocês me permitiram namorar o Gustav. Como puderam fazer isso? Que tipo de sadismo é esse, me deixar criar a ilusão de que eu poderia escolher com quem me relacionar só para me mostrar que na verdade nunca pude? E agora acha que é só vir aqui com toda sua condescendência dizer que entende eu estar irritada e vou esquecer?!

O ar frio entrando pela varanda é insignificante quando a flecha em chamas transformou meu coração numa caldeira novamente, fervendo o sangue, as lágrimas e as palavras que vomito. Mamãe, por sua vez...

Tratado de VidroWhere stories live. Discover now