Capítulo 8 - Protocolos (parte 1)

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Olá olá! Finalmente voltamos para mais um capítulo... e dos grandes!

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Os ponteiros do relógio se arrastam.

Cinco minutos levaram décadas para passar e ainda restam outros cinco para me liberarem.

Embora mamãe e as damas da corte tenham frisado exaustivamente sobre como o "baile de maioridade de uma dama é um grande marco por si só e ganha mais importância quando se trata da herdeira ao trono", ainda me é o cúmulo do absurdo ficar confinada nessa minúscula antessala até ser anunciada no salão.

É impossível relaxar.

Basta ficar um segundo parada que os pensamentos voltam numa torrente — como aconteceu de madrugada, me impedindo de dormir por serem mais barulhentos que a tempestade desabando. E, ao mesmo tempo, não posso ficar andando de um lado para outro para não me desarrumar nem cansar antes da hora.

Me deixo cair mais uma vez no banco acolchoado próximo a porta do salão e a ampla saia roda se espalha ao meu redor.

O coração bombeia frio. A tiara pesa com todas as expectativas sobre esse baile... com o que todos os convidados que vieram me prestigiar esperam encontrar... com as infinitas possibilidades de como poderei estragar tudo dessa vez...

Hoje não será como há quatro anos, tento garantir a mim mesma.

Tem certeza? A corte não mudou e há mais pessoas para cumprimentar... Acha que é capaz disso?

O eco da torre ressoa como saindo das paredes, como se eu mesma estivesse numa prisão dentro dela. Lampejos do desastre que foi meu primeiro baile, quão rápido minha paciência se esgotou e de que forma "as grandes expectativas" se concretizaram...

Cerro os lábios e balanço a cabeça, num esforço para bloquear os ecos da torre.

Levo a mão à garganta institivamente, mas em vez da medalhinha ou do anel, esbarro na fria pedra de berilo vermelho incrustada no pesado colar de ouro entre minha clavícula.

Claro, por ser um evento formal, não poderia estar com meus amuletos.

Sem poder me agarrar ao conforto familiar, meus pés voltam a bater no piso, fora do ritmo da música orquestrada que passa por baixo da porta. Tento me concentrar nela e respirar fundo, girando com os polegares os anéis de berilo em meus dedos médios — bem onde termina as mangas do vestido.

No começo, tentei me distrair contando as folhinhas outonais bordadas com pedrarias ao longo da manga de tule translúcido, espiralando pelos braços desde os ombros — onde se concentram como mangas caídas — até se amotinarem nos pulsos, mas logo perdi a paciência. Agora, tento me concentrar na música. No movimento dos pés. No girar dos anéis. Na brisa fria vinda da única janela, me acariciando o rosto com dedos finos e invisíveis. No aroma de morangos soprando as lembranças de quatro anos atrás para longe... trazendo uma lembrança melhor para me agarrar.

Uma mais recente, dessa mesma manhã: Hector aparecendo em meu quarto às nove horas, escancarando janelas e batendo palmas, me acordando com uma cantoria dos infernos — que logo se transformou numa risada incrédula quando minhas ameaças de morte grunhidas contra o travesseiro se transformaram num choro patético assim que ergui a cabeça e o vi. Não era acordada dessa forma desde os oito anos, meu último aniversário em que Alexander esteve bem.

Por um momento, quando vi Hector, foi como se Axl estivesse ao seu lado, como costumava ser, tentando tocar a flauta doce entre risadas enquanto Hector me esfaqueava os ouvidos ao cantar propositalmente mais desafinado que o normal.

Tratado de VidroWhere stories live. Discover now