Capítulo 33 - Tempestade

35 2 0
                                    

⚠️ Aviso de conteúdo: esse capítulo aborda uma severa crise de ansiedade com falta de ar e passagem de autoflagelo.

Se esses conteúdos causam gatilho em você, por favor,  priorize sua saúde mental e espere pelo resumo do capítulo na semana que vem; sempre faço um resumo do capítulo anterior nas edições da minha newsletter Rouxinovel.

Mas, se estiver bem com esses conteúdos, vamos ao capítulo.

♕♕♕♕♕♕♕♕♕♕♕♕♕♕♕♕♕♕♕♕♕♕♕♕♕♕♕♕♕♕

E agora, o que faço?

Agora que estraguei minha melhor — e provavelmente a única — chance de me aproximar das damas... que arruinei até mesmo o progresso anterior...

O que eu faço?

A pergunta ronda e ronda num redemoinho e meus passos fazem o mesmo.

Ao ouvir a aproximação de Thereezee e outras damas, me retirei da sala de imediato, sem dar chance de outra resposta para Annabella. Não quis esperar a entrada de Thereezee, dar-lhe a chance de se intrometer, como certamente faria. Passei reto pelas damas no corredor, ignorando o espanto e inquisições por me verem ali.

A essa altura, enquanto meus pés descalços esmagam folhas e galhos secos e o coração ecoa no bosque sombrio, elas já devem estar cientes do que aconteceu. Até o jantar, estará circulando pela corte como saí de meus estudos só para caçar confusão com minha irmã, que estava quieta no canto dela... ou qualquer coisa do gênero.

Levo as mãos aos cabelos, puxando-os, e um soluço se agarra à garganta.

Como tudo pode ter saído tão errado?

Já estava fadado ao fracasso desde o princípio

A voz da torre ressoa pelo bosque com um bafo úmido e mofado, vindo do outro lado da trilha.

Embora a campina seja meu refúgio favorito, o único no qual estou protegida dos deboches da torre, não gosto de maculá-la com minha amargura e frustração... além disso, nesses momentos, ela parece se distanciar por quilômetros para além do habitual, como se ela mesma se recusasse a me abrigar nesse estado.

Então recorro ao segundo melhor refúgio: os arredores da enorme árvore de raízes ocas que formam uma toca — a Toca. E é ela, e as demais árvores ao redor, quem absorve os soluços engasgados e os gritos frustrados, as maldições e praguejações, a vergonha e a angústia.

No bosque cercado de sombras lamurientas, as minhas são apenas mais uma.

A discussão com Annabella ecoa entre as árvores.

"Vocês quem sempre me mantiveram longe!"

Embora uma parte de mim reconheça como injusta a acusação, saiba que nunca a mantive longe de propósito, ela ainda me comprime o peito. Rasga e faz sangrar. Tantas vezes tentamos nos aproximar dela, mas a "agitação" era perigosa demais para a saúde frágil dela, com tantas crises asmáticas... e nunca era uma boa hora para irmos brincar com ela. Até seus últimos dias, a culpa por não ter conseguido se aproximar acompanhou Alexander.

E eu... Mesmo em todas as vezes em que tentei, só obtive fracassos. A corte diz que somos como água e óleo — onde Annabella é suave e delicada, sou inflamável e arrogante, não "me misturando" a nada...

A lembrança das garotas recuando, assustadas, quando falei com elas vem num lampejo cortante.

"De quantas pessoas conseguiu se aproximar desde que se tornou herdeira?"

Tratado de VidroWhere stories live. Discover now