Capítulo 36 - Certeza

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Hector pestaneja por um segundo.

Então dá um riso nasalado.

— Claro, quando você quiser, general.

— Agora.

Ele ri novamente. Mas ao perceber que o encaro tão séria quanto sou capaz com o rosto esbraseado, o riso morre num espantado erguer de sobrancelhas.

— O quê? Como assim agora? Alissa...

Desvio o olhar, na esperança de que o martelar do coração acalme e as ondas de nervosismo embaraçoso se apaziguem.

— Estávamos falando que nossos filhos nos fariam arrepender de nossas travessuras e de repente quis tirar a prova?

Bufo para a implicância.

— Na verdade, foi algo em que pensei desde aquela noite no salão, quando tive a ideia de agirmos como casal diante da corte... Um plano reserva — admito, num murmúrio, esfregando a pedra de jaspe vermelho na aliança, já que com as bandagens é difícil girá-la no anelar. — Mas precisava pesquisar para ter certeza de que seria efetivo... e somente se o primeiro plano falhasse.

— E acha que falhou?

Encolho um ombro.

— Provavelmente, pelo que ouvi mais cedo... e com essa discussão, joguei no lixo todo nosso pouco progresso com a corte. Logo voltam a falar que sou impulsiva e desequilibrada... o que não está errado... e querer compensar isso com um "noivo mais velho". Mas se já tivermos consumado o casamento sem qualquer brecha para contestação... quero dizer, se eu tiver engravidado... ninguém poderá anular o noivado por qualquer motivo arbitrário. Só que temos apenas cinco meses e não sei quando podem usar dessa manobra pra embargar o noivado, então-

— Deveríamos começar o quanto antes?

Assinto.

Um silêncio se arrasta e meu coração ressoa no quarto. Agônico.

Arrisco um olhar para Hector.

Ele já me observa, a cabeça inclinada e sobrancelhas franzidas.

Isso agita ainda mais meu coração e as ondas ao redor.

— E então...? — tento arrancar alguma opinião dele.

Hector ergue uma sobrancelha.

— Então o quê? Quer colocar o plano de fecundação em prática nesse momento?

— ...

Volto a enterrar o rosto nas mãos, como se pudesse encobrir também o estremecimento provocado pela pontada de aspereza em sua voz.

Chateação? Mágoa?

De alguma forma, sei que minha ideia o ofendeu. Mas não sei por onde ou como pedir desculpas.

— Obviamente só vamos levar isso adiante se estiver de acordo — murmuro com um fio de voz, a garganta apertada. — Devia ter contado antes... mas ficava com vergonha e esperava que não chegasse a isso assim, e-

— E está tudo bem para você? — a pergunta repentina me faz erguer o rosto. Sua testa está franzida. — Está tudo bem para você levar isso adiante... tentarmos ter um filho quando é óbvio que nenhum de nós dois está pronto para isso? Tem certeza de que realmente quer isso, Alissa, ou só está se precipitando por medo de algo que tem uma chance ínfima de acontecer? Acha que é justo conosco ou com essa criança trazê-la ao mundo quando nem sabemos o que pode vir a-

— É claro que não, inferno! — retruco, a voz tremula e os olhos pinicam. — Acha que já não pensei nisso tudo? Que quero isso agora? Acha que eu proporia isso se houvesse outro meio mais seguro e garantido de que o Conselho não poderá levar o embargo adiante? Se você tiver outra ideia, sou toda ouvidos. Não pretendo amarrá-lo na cama e montá-lo contra sua-

Tratado de VidroWhere stories live. Discover now