Capítulo 21 - Determinado

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Mamãe faz alguma pergunta sobre o CESIT. Perco as palavras exatas em meio ao turbilhão espinhoso na mente, mas a menção ao Centro me faz voltar ao presente.

Se está questionando do CESIT, então o assunto principal da reunião terminou.

— Entregaremos o relatório com os principais pontos e as petições até amanhã — respondo com breve aceno. Mamãe assente com um suspiro resignado, mas tem a consideração de não insistir. Em geral, relato todos os pontos minimamente relevantes do Centro, mas hoje... não me restou ânimo nem para isso. Com a pressão insistente na nuca, a presença silenciosa da torre e o gosto amargo na boca, emendo para papai: — Já separou a pasta desse mês ou podemos ir?

Ele dá um rápido aceno de cabeça e puxa de baixo da mesa o grosso fichário vermelho, a ponto de quase explodir, onde estão as instruções do que devo estudar e trabalhar pelos próximos dias. Minha boca se franze por reflexo ao ver o tamanho da pasta, antevendo a dificuldade que terei para encontrar meu material de estudo... mas ao menos isso me ocupará algumas horas.

Lanço um breve olhar para Hector, que entende a deixa e enfim me liberta. Levanto e estendo as mãos para pegar a pasta de papai. Ele, porém, não me entrega de imediato. Crispo a testa.

— Por que está-

Me interrompo ao perceber suas sobrancelhas quase unidas num franzir enquanto os olhos estão fixos em minhas palmas... nos vincos de unhas, alguns com gotículas rubras.

O nó na garganta se acentua e puxo rapidamente a pasta.

— Podemos ir agora? — interpelo, numa lufada de ar. Papai ergue o olhar para mim, as sobrancelhas ainda mais franzidas e os espelhos de meus próprios olhos me encarando por uma eternidade... repletos de indagações que temo serem verbalizadas.

— Podem ir — papai diz por fim, com breve gesto de dispensa enquanto com a outra mão aperta a ponte do nariz pela enésima vez essa tarde. — Quando sair, Alissa, avise ao Bernarde que não receberemos ninguém até as quatro a menos que seja urgente.

Aceno em compreensão, contendo o suspiro de alívio. Após a habitual reverência e um aceno cordial para Guilhermo, nos retiramos.

Hector pega a pesada pasta de mim enquanto repasso para Bernarde o recado de papai, e após isso, cruza nossos braços. Mas só tem tempo para isso.

— Alteza!

Estremeço ao ouvir o chamado, agulhadas pinicando meus nervos. A boca se repuxa numa careta quando constato que, no tempo em que estivemos no gabinete, mais três nobres chegaram ao saguão.

— Eles não têm nada melhor para fazer além de ficar urubuzando aqui? — resmungo entredentes.

— Não, pelo visto... — Hector murmura. Os músculos transformam-se em madeira, até mais tenso do que antes, ao saber quão longe estão dispostos a ir só por desprezar sua origem.

Meu sangue aquece a cada passo. Apesar da recente discussão sobre "ser mais acessível", não sou capaz de suavizar o aperto da mandíbula ou a dureza dos passos, como se o mármore sob meus pés fosse cada purista da corte.

Quantos destes diante de nós estão cientes ou concordam com o plano de anular a consagração e substituir Hector?

— Alteza! Que prazer revê-la — interpela o nobre que nos chamou, colocando-se em nosso caminho quando nos aproximamos, fazendo sua reverência aduladora, seguido pelos outros cinco. Como não sou capaz de responder "igualmente" para o conde Remet, dou um rígido aceno de cabeça para ele e os outros, em cumprimento. — Como está aqui, imagino que o rei já possa me receber...?

Tratado de VidroWhere stories live. Discover now