Capítulo 52 - O Último Von Drahul.

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Os tremores começaram a ficar mais insistentes.

Alarmes da nave de Jalios começaram a ativar.

"Perigo grave, escudos desestabilizados."

— Isso não é possível, está tudo sob meu alcance. A mesma ruptura da estrela de Regulus X está mais intensa, meu senhor. E está vindo da base central do inimigo.

"Mensagem recebida de Glish, o rei."

— Parece que recebi uma mensagem do rei, mas estranho, Rehahor sumiu do meu mapa. Era onde estavam Meretra e Senna.

— Rápido Jalios, leve essa nave para onde eles estão.

— Agora mesmo!

Jalios ativou o propulsor e a nave decolou sobre a região, voou sobre a paisagem desolada, uma tela sombria que se estendia como tinta derramada; um negrume em movimento, um lamento que abraçava a terra. As Montanhas de Eteri, outrora altivas, haviam se rendido, abatidas diante da fúria avassaladora; os vilarejos vizinhos, agora apenas memórias distantes.

Brahms, apoiava seu braço direito na cadeira outrora ocupada por Jalios, os dois juntos, imóveis e perplexos, uma terra tão linda destruída, há muito tempo uma imagem assim estava presente, seus olhares fixos nas desoladas paisagens que um dia habitaram ali.

Brahms ficou de joelhos quando finalmente chegou em Rehahor.

Duas lágrimas desceram de seu olho direito. Jalios estava franzindo suas sobrancelhas prateadas e mordendo seus dentes robóticos.

— Abra a escotilha.

— O nível de radiação está muito grande. Se abrir, temo que trará consequências.

— Eu disse para abrir a escotilha!

A primeira porta da sala principal foi aberta. Caminhando pelo corredor escuro, os passos de Brahms eram presentes como as árvores da primavera desabrochando suas flores. Sua sanidade estava em conflito; a maneira como respondeu a Jalios foi seu único arrependimento.

A escotilha estava aberta. Brahms pulou e então pousou em um rastro de destruição. O ar era denso, sua armadura estava derretendo, causando danos excessivos.

— Tão rápido, mas tão rápido — segurando as cinzas das terras que um dia havia viajado, emoções tão fortes afloraram.

Brahms levantou suas mãos, e uma energia dourada surgiu de seus braços, como uma chama sagrada. Seus cabelos ficaram com a mesma substância; eles chicotearam em todas as direções, removendo todo o líquido negro corrompido.

Não tinha sobrado nada, absolutamente nada, até mesmo o ar puro e cristalino, invisível para os pequenos olhos, não poderiam ver, e é claro nem mesmo os cadáveres. As terras belas que acordava pela manhã nos braços de Meretra, as aventuras pelas montanhas desolados de Etara com Jalios e Senna. Sua casa próxima do lago era insignificante, apenas uma existência que se foi, sobrou só uma mancha negra com tonalidades vermelhas. — 60 anos, como eu não pude ver isso? Como eu não pude?

Brahms em sua fúria repentina por não ter conseguido salvar Meretra, e todos os seus outros amigos, como a mulher de Jalios. Seus pequenos filhos que estavam se desabrochando para uma nova matriz, puxou seu braço com toda a sua força e então o enfiou em seu próprio estômago. Ele não demonstrou reação. Logo tirou-o; o sangue esguichou para todos os lados. E sua ferida começou a regenerar.

 Na volta à nave, pelas feições de Brahms, palavras eram dispensáveis, seu semblante era um poema de revelações. Jalios, sensível como as folhas acariciadas pelo vento, captou as feições do ocorrido. Senna e Meretra, almas luminosas, dançarinas da jornada, partiram além do horizonte, junto com as meninas, deixando suas histórias escritas nas estrelas. O universo chorou em silêncio, e a nave seguiu seu curso, carregando consigo os ecos das memórias e o vazio daquilo que não mais caminhava ao lado.

Zodíaco - SingularidadeWhere stories live. Discover now