Capítulo 83 - Anjo do Arrebatamento.

5 0 0
                                    



 Trioh estava junto com os dez monges que haviam deixado o monastério do silêncio. Desolado e acreditando que haveria uma esperança de encontrar outros sobreviventes, ele caminhava em meio às regiões desoladas, passando pelas montanhas de Tár, com suas colorações suaves e o brilho púrpura da neve seca. As marcas de cicatriz deixadas depois de arrancar suas antenas. Ele era alto, esguio e sua estrutura era forte. Assim, recém-chegados à cidade de Tarza, onde outrora era próspera e cheia de alegria pelas ruas, não podia acreditar que Anhur fora realmente enviado por Deus, mas os monges foram os únicos que restaram. Através das escrituras, disse: "Os monges prematuros, aqueles com suas antenas violadas, são puros e únicos, serão os últimos a deixar o mar de terra e sal grosso," Ezeh 23334242;13. Seu livro estava em seus braços, a coisa mais importante, mas a heresia nesse momento final era o que menos queria.

Já não temia mais pela entidade que estava no céu, mas evitava ter um confronto direto contra seus tentáculos. Estava caminhando pela cidade de Tarza.

O palácio estava à sua frente, nenhum guarda em sua entrada, as casas estavam vazias, reflexos de destruição e pânico após a chegada do Anhur, que em sua língua nativa significa Anjo do arrebatamento.

 Toh tropeçou numa caneca, e seu dedo começou a formigar.

 Trioh o encarou sério, — Não é para fazer barulho! Não podemos atrair Anhur!

Maha fechou sua boca, uma das poucas fêmeas que restaram de sua população. — Ei, essa é a parte que está mais sob vigília — elucidou ela.

Portru, que estava ofegante pelo longo caminho. — Faz tanto tempo que não caminho por aqui, quem diria que meus últimos passos seriam com a cidade como fantasmas perdidos em Larghas.

Subiram os degraus do palácio, todo o ouro, toda a realeza estavam intactos, mas ninguém estava vivo. Trioh procurou em todos os cômodos, agora separado dos outros para ver se encontravam sobreviventes. À sua direita, havia uma escrivaninha, nela continha um pergaminho. As estrelas estavam guiando para nosso planeta, e distante, um ponto brilhava intensamente, de acordo com as escrituras, esse ponto retratava Anhur. Trioh achou estranho, pois as escrituras diziam que ele viria de dentro da estrela de Wolf.

 Encarou à sua direita, percebeu que a sala estava toda destruída, com marcas de sangue por algumas partes. Seus brilhos amarelos estavam mais tingidos pela dor mais do que nunca, mas um rastro levava para algo que nunca tinha visto, ele caminhou lentamente, e percebeu que havia um corpo caído no chão. Parecia ser de um jovem, chegou próximo dele, e pela primeira vez encontrou um de sua espécie com antenas. Fazia alguns dias que Anhur havia chegado, ele deveria estar em seu limite. Pela sua roupa, parecia ser um dos criados do rei. Aparentava estar em coma, Trioh segurou em seus braços e o carregou gentilmente em busca dos outros, por onde caminhava pelo corredor, eles o olhavam com atenção.

Maha acariciou seu rosto. — Ele é tão jovem.

— Vamos levá-lo para o templo. Tenho certeza de que Trenah poderá curá-lo.

O dia inteiro vasculharam em busca de outros sobreviventes, enquanto Trioh e Maha já haviam se despedido do grupo. Portru e Toh permaneceram na cidade com o restante dos monges, procurando por outros sobreviventes.

Enquanto investigavam, ouviram um barulho vindo da direção noroeste, em uma curva sinuosa onde os prédios estavam destroçados. Todos permaneceram quietos e apreensivos, escondendo-se nas beiradas.

— O que é aquilo? É Anhur? — perguntou Toh.

 Portru olhou fixamente, retirou uma nuleta e a guardou novamente. — Está tudo bem, podem sair. É apenas um Porius.

 Porius era uma criatura semelhante a um cavalo de Gaia, mas com uma crista longa que emitia suaves brilhos de cor purpura, puxando para o laranja. Seus olhos eram dóceis e sensíveis.

 Toh acariciava suas costas, enquanto os outros permaneciam ao redor. Ele se sentia reconfortado.

— Eu imaginei que todos estavam sendo levados.

 Portru acariciava o animal com intensidade. Embora não pudesse acessar suas memórias conscientemente, ele sentia um déjà vu, como se já tivesse conhecido outros tão bem quanto aquele. Num tempo distante, cuidava de uma fazenda ao lado de seus irmãos, antes de ser levado para o Templo do Silêncio, antes de perder suas antenas e sua capacidade de pensar.

— Também achei que seria assim. No início da sua chegada, percebemos que apenas nossos descendentes e as florestas foram varridos. Agora, o verde que sustentava nosso mundo está se perdendo e as temperaturas estão subindo — disse Portru.

— Sim, o ar está mais pesado também. Temo que, com o tempo, não poderemos mais sentir o ar puro em nossas tranquias — acrescentou Toh.

Quase sem perceber, os prédios atrás deles começaram a se desfazer.

— Corram!

 Toh e os outros começaram a correr instintivamente, com a estrutura desmoronando atrás deles. Portru ficou para trás, segurando o animal pela rédea.

— Vamos, amigo, vamos! Se ficarmos aqui, seremos soterrados!

 Mas o animal não respondia aos seus comandos. Percebendo como costumava montá-lo antigamente, Portru seguiu os passos, tentando recordar-se de como era. As memórias não chegavam, então, por puro instinto, ele subiu em suas costas. O animal cambaleou no início, mas logo se acostumou com o peso.

— Vamos lá! — gritou Portru.

 Ele seguiu em direção à saída, enquanto os prédios continuavam a se desprender, quase os atingindo. No último momento, o animal derrapou e caiu, lançando Portru para longe, enquanto o peso das estruturas o invadia.

Caído e desolado, Toh o ajudou a se levantar. — Você está bem?

— Não... tantas vidas já se foram, e mais uma se foi desta maneira...


Zodíaco - SingularidadeWhere stories live. Discover now