Vladmir | three

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 — Ela é patética! — Kira falou pela terceira vez em apenas cinco minutos de conversa. Ou foram quatro vezes que o nome patética saiu da boca dela? Na verdade, eu não prestei atenção. Estava concentrado nas contas que não se encaixavam. Não fazia ideia porque Kira chamava a filha de Victorio de patética.

Cocei a testa com a caneta entre os dedos. Minha empresa de apostas estava declinada em lucros raros e eu deveria descobrir o mais rápido seu motivo.

Com os relatórios do meu contador e o livro de entrada e saída nas mãos, estudava a minha empresa enquanto Kira andava de um lado para o outro, dentro do escritório da mansão.

— Ah! Acrescente esse a lista — ela rodopiou e caiu sentada em uma das poltronas — ela é ....

— Patética, sim, sim, eu escutei — resmunguei traçando uma linha sobre dois contatos na agenda.

— Não, seu bobo — ela sorriu e se aproximou dizendo: — Ela é gorda!

— Gorda — repeti de forma mecânica quando abri a agenda do mês passado.

— Como uma boa pessoa que sou... aconselhei perder alguns quilos e....

Olhei para Kira e uma lembrança atingiu como uma pancada furiosa em minha cabeça, fazendo meu corpo sentir dor.

"Estou gorda, Vlad! — Reclamou Violet se olhando no espelho."

Lembro que eu tentava ajustar minha gravata quando notei ela olhar seu corpo de um lado a outro, depois encolheu os ombros e bufou com a alta estima no chão.

Ela se virou para mim com olhos desolados e disse: "Eu tento todas as dietas e exercícios possíveis enquanto cuido de Pietra"

Consegui arrumar minha gravata e depois dei dois passos para trás.

"Venha! — Incentivei ela pular no meu colo."

Violet estreitou os olhos, franzindo seu cenho. Confusa ela colocou a mão na cintura deixando seu peso cair para a perna esquerda.

"O que você quer provar?"

"Se jogue em meus braços. Se eu der um único impulso para trás, vamos juntos correr todas as manhãs."

Violet me olhou meio de lado e sorriu.

"Venha — incentivei mais uma vez."

Sem pensar nem mais um segundo ela respirou fundo, deu um pequeno impulso com a perna direita e correu na minha direção pulando em meus braços. A segurei firme e forte, sem conseguir mover meus pés do lugar.

Ela se segurou forte em meus ombros e sorriu descontraída.

"Nem mesmo um centímetro — falei."

"Você é grande e forte o suficiente para me segurar, gorda ou não."

"Você não está gorda, você está muito gostosa, meu amor. — Andei na direção da cama."

— Vlad! — Kira quase gritou para eu sair do transe.

— O quê? — Foi como sair de um sonho lindo, mas doloroso. Só quem pode entender cada agonia que sinto e julgar meu luto são apenas aqueles que um dia perderem alguém de forma dura, prematura e revoltante, alguém que eles realmente amavam.

— Você parecia ter ido a outro mundo. — Ela sentou à mesa e falou: — Tem mais...

Ergui meus olhos para Kira.

— Preciso trabalhar — falei imediatamente.

— Sim, mas você precisa saber de algo muito importante.

— Algo importante?

— Ela...

— Ela quem, Kira?

Kira bufou.

— Irina! Você não está me escutando?

— Às vezes sim.

— Eu falei para ela que — Kira parou de falar, como se tivesse receio de me contar.

— O que você falou? — Se para dar um pouco de atenção a ela fosse necessário eu interagir, contanto que fosse embora logo, eu iria conversar um instante.

Kira comprimiu os lábios, colocando uma mecha do cabelo para trás, falou:

— Que você não vai se casar com ela, com Irina.

Soltei tudo o que tinha nas minhas mãos e encostei na cadeira.

— Por que você falou isso? — Indaguei seriamente.

Kira pareceu insegura e desconfortável quando escutou minha pergunta.

— É que... — Ela gaguejava.

— Não é assunto seu — me adiantei com firmeza na voz. — Assuntos particulares, e que dizem respeito a mim, não é assunto seu.

Percebi Kira se encolher, mas depois, como se não quisesse receber minha repreensão, ela endireitou os ombros e disse:

— É o que você declara aqui para todos! O que tem demais ela saber? Além do mais, essa Irina, ela mesma me disse: enquanto Vladimir não vier, em minha casa, para romper o casamento, ainda serei a pretendente dele!

— Ela disse isso?

Realmente, eu fui pego de surpresa.

Kira cruzou os braços e afirmou: — Com todas as letras. Então para você terminar com tudo é só ir lá e dar um pé na bunda dela.

Eu peguei meu casaco deixando tudo meu, sobre a mesa. Vesti meu casaco rápido e andei em direção até a porta.

Kira parou de me dar conselhos e indagou: — Para onde vai?

Não respondi.

Andei pelo corredor e avistei um empregado.

— Tragam o meu carro.

— Sim, senhor.

Meu pai surgiu, saindo da sala que ele usava para certas reuniões particulares. Ao ver minha ansiedade e pressa, indagou:

— Aconteceu alguma coisa?

— Não, de forma alguma.

Kira ficou na porta me observando.

— Então vai sair? — Meu pai lançou-me um olhar desconfiado.

Era a primeira vez depois de quase um ano.

— Sim, eu vou sair.

O empregado chegou com a chave e eu agradeci.

— Para onde vais? — Meu pai ficou intrigado.

— Para casa de Victorio — respondi, saindo rápido.

Não consegui perceber a cara de desagrado de Kira, muito menos a felicidade estampada no sorriso do meu pai.

Não consegui perceber a cara de desagrado de Kira, muito menos a felicidade estampada no sorriso do meu pai

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BONECA RUSSAWhere stories live. Discover now