Vladmir se deu por ferido, vencido, seja lá o que ele sentia no momento que perdeu o controle por mim, o fez sair pisando duro e batendo forte na porta.
— Foi apenas um teatro para machucá-lo? — Russel duvida das minhas intenções.
— Não gosto de teatros ou brincadeiras de mal gosto — esclareci.
Russel ficou me olhando, assim meio perdido. Depois me deu um sorriso desconcertante.
Ele era um homem grande, extremamente forte e com feições serias. Ele mal sabia dar um sorriso carinhoso, embora fosse muito atencioso comigo.
— Então a ideia do casamento é realmente verdade?
— Sim.
Eu não tinha dúvida alguma quanto minha decisão. Se era para ficar com alguém, que eu ficasse sem amar. Precisava de lealdade e proteção e quero acreditar que Russel era capaz para me dar essas duas coisas.
— Não posso me casar com você — ele disse, o que eu já esperava. — Vladmir além de seu meu patrão, somos amigos de longa data. Ele gosta de você, fez uma basteira enorme, é verdade, mas ele gosta de você.
— E você gosta de seu amigo? — Sentei e o estudei. Russel estava nervoso com a ideia de casamento entre nós.
— Como um irmão.
— Faria qualquer coisa para seu irmão?
— Onde quer chegar? — Me olhou meio de lado, intrigado.
— Se você realmente gosta de seu irmão, sabe que eu sou uma parte importante dos planos dele, e faria qualquer coisa para minha segurança...
— Irina...
— Também sabemos que tem um psicopata a solta e se me pegar, me casara a força e me tomara toda a herança. Eu preciso estar casada, Russel. Ao menos até minha maior idade.
— Você quer que eu fique um ano com você?
— Preciso.
Ele sentou próximo a mim, com os pensamentos confusos. Sentia que era o que precisava ser feito. Vladmir havia perdido toda a minha confiança e se casar com Russel era uma decisão necessária.
— A única coisa que precisa é perdoá-lo. Perdoe e continue com o plano de casamento com Vladmir.
— Você quer escutar minhas escolhas e entender ou quer me aborrecer com algo que não tem a mínima chance de acontecer.
— Você está com raiva, ferida, mas ainda o ama e isso tem que ser levado em consideração.
— Sabe o que não foi levado em consideração? — O encarei. — A ideia que eu poderia saber de tudo, assim eu não acreditaria que ele estava se casando por amor, por proteção... talvez, mas essa nem era toda a verdade.
— Se lhe ajuda em seus julgamentos, eu também sabia e não lhe contei. — Tentou sair da situação.
— Você não tinha nenhum compromisso comigo, apenas com Vladmir. E a julgar o pouco que lhe conheço, sei que aceitando o casamento vai ser um excelente marido.
— Isso é loucura! — Ele se ergueu, agitado. Estava sufocando com a ideia de não me ajudar e de machucar seu amigo. — Vladmir não vai concordar, ele é seu tutor. Precisamos da permissão dele.
— Ele não terá nada que fazer quando eu e você estiver junto e com a ideia fixa que casar comigo é o melhor para todos nós.
— Você quer puni-lo, Irina. Quer destroçar o que ainda resta dele.
— Eu não quero saber dos pedaços ou partes inteiras de Vladmir! Preciso que me ajude.
Russel começou a andar de um lado a outro. Pensativo. Distante.
— É um casamento de verdade? Digo... teremos lua de mel e dormiremos na mesma cama?
— Não. Infelizmente o resto que eu tinha de esperança para me relacionar com alguém foi tirado de mim.
Me sentia sozinha, seca e oca. Toda aquela chama foi se apagando até virar cinzas.
— Se Vladmir conceder a permissão... acredito que, da forma que você impõe, eu consigo iniciar o casamento.
— Vladmir aceitando ou não, vamos nos casar. Ele não tem muita escolha.
— Eu sei, Irina, mas se a gente conversar com ele e falar sobres os limites do casamento.
— Você não vai falar nada!
— Você quer machucá-lo ainda mais.
— Além do casamento ser, sim, uma forma de proteção, machucar quem me machucou não me torna um diabo e nem mais santa. Coloque da seguinte forma: eu preciso de um marido e Vladmir precisa de uma punição.
— Me deixe pensar mais. Conversaremos a amanhã mais um pouco. — Ele sugeriu. — Até lá, não fale nada sobre Vladmir e a ideia de casar comigo.
— Tudo bem.
Russel assentiu e me deixou sozinha na sala. Eu fiquei analisando todo o plano e as consequências dele, e ainda assim o considerava o melhor no momento.
Antes de anoitecer, um furacão abriu a porta do meu quarto e entrou furioso, interrompendo minha leitura na cama.
— Você mandou me expulsarem? — Raquel estava com muita raiva. Não a culpo pelo sentimento. Ela deseja ficar ao lado de Vladmir o mais perto possível. Mas aqui não era seu lar e quem determinava as visitas era eu.
— Mandei lhe realocarem.
— Você quer que Nikolay me mate!
— Quero que todas as pessoas que não gostam de mim tenham um pouco de vergonha na cara e saiam da minha casa.
— Seu medo é que a fraqueza de Vladmir o faça cair em meus braços.
— Você veio falar de moradia ou homens?
— Admita! Você está se matando de ciúmes — Raquel chegou mais perto. Levante-me da cama.
— Não se aproxime de mim!
— Você o deixou por capricho, que me punir por capricho — Raquel chegou mais perto.
— Saia do meu quarto, agora! — Apontei o caminho que deveria seguir.
Mas Raquel avançou em minha direção e enfiou uma faca no meu estomago. Senti uma dor me partir ao meio. A olhei atordoada, sema creditar e ter uma única chance de defesa.
Ela se afastou com expressões em choque.
O sangue chorando forte. O quarto começou a girar. Eu nem tinha força, tamanha era dor, para gritar por socorro.
— Você me forçou a isso! — Ela gritou, atordoada. Colocando toda a culpa em mim.
Todo o resto foi uma cortina e em segundo apaguei.
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