Irina | twenty-seven | 02

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Eu tinha um gosto amargo na boca. Um desejo sufocante de gritar e deixar minhas ideias enlouquecerem de vez.

Como sou tola! Estou próximo aos meus dezessete anos. Convive com essas pessoas todo o tempo que tenho de vida e ainda assim consigo ser surpreendida por suas canalhices. Ainda mais com minha mãe, a pessoa pela qual dei toda a minha confiança.

Ela encenou uma situação perfeitamente bem. Me pergunto se seu amor era da mesma forma. Talvez sim, talvez não tão longe da mentira.

De fato, eu queria entrar lá e desmascarar os dois. No entanto, tinha algo em mim que pedia para eu me manter firme e não dar cara a tapa. Eu iria fazer o mesmo que ele, esconder os fatos até a corda esticar.

— Parece insatisfeita — Kira apareceu como se estivesse saído de uma parede.

Não poderia com ela agora.

Dei meia volta e escolhi ir para o jardim. Embora tudo me disse para rasgar toda essa armadura e extravasar de uma vez. Meu outro lado, talvez o bobo, negociava que minha paz estava longe de pessoas que me odeia.

— Tá fugindo, querida?

Ela provocava. Parecia bêbada, infeliz e injustiçada.

Kira sempre vai querer minha ruína, seja ela qual for, contanto que eu não esteja feliz ou na vida de Vladmir, a loira perfeita que deveria estar em luto ou cuidando de sua vida medíocre, tem a paixão sincera de me encher o saco.

— Conseguiu tirar o pervertido do tio para ficar com o sobrinho alcoólatra. Que maravilha! — A última parte ela gritou. Pare. Me virei e a vi sorrir. — Nikolay ainda vai te pegar e eu tenho muita peninha... quer dizer, não tenho peninha não. Eu quero que você se foda!

O que eu não sabia era que Kira carregava uma arma na bolsa. Não fazia a menor ideia de qual motivo a fez andar armada. Só ficaria sabendo do motivo em poucos minutos.

— É errado pensar que você está obcecada por mim? — Provoquei.

Eu também não tinha sague de barata. Estava no meu limite. Querendo a todo custo o lugar onde eu conseguisse o ar entrar em meus pulmões e minha mente finalmente conseguisse se acalmar.

Aqui, era impossível.

Estávamos distantes do quarto onde meus pais discutiam suas vidas nojentas. E a partir da distância que tomei para longe deles, ficava ainda mais próximo dos quartos onde Kira e Sofia se hospedavam, a julgar pelo anfitrião de - coração mole para rabos de saia, meu salvador esta noite, Raquel também deva ficar por lá.

Não sei por que estou pensando nessa mulher. Kira ainda estava dizendo umas coisas idiotas e andei mais rápido. Desci as escadas e me virei quando ela quase me acertou com um vaso.

— Você está louca, sua estupida?

Tinha convidados próximo a nós. Crianças correndo no salão principal, mas nada a impediu de tirar a arma de sua bolsa pequena.

— Pena que não acertei o vaso — ela tinha um olhar estranho. — Polparia uma bala. Mas se tratando de você... eu era capaz de gastar toda a munição que tenho aqui.

— Kira, não faça burrice.

As pessoas saíram correndo do lugar.

— Burra é você, sua gorda estupida! — Ela foi descendo à medida que eu também me afastava cada vez para buscar uma fuga. — Achando que viveria um conto de fada.

— Não tenho ambição alguma sobre isso.

— Você morta eu vou conseguir voltar a dormir, não vou mais ter pesadelos com aquela mulher chorando. — Kira me pegou completamente de surpresa.

Ela também sabia da mulher que chorava. Revelou que aparecia em sonhos, ao contrário de mim que a vejo acordada.

Mas quem é essa mulher?

— Que mulher, Kira?

— Ela pediu para lhe deixar em paz inúmeras vezes. — Vi a sua mão tremer. Um deslize e ela iria me matar. — Mas eu nunca ficaria em paz com você viva, andando por aí achando-se especial. Para lhe deixar em paz, o único jeito que encontrei foi lhe matar.

— Kira! — Vlad gritou. — Solte a porra da arma!

— Chegou seu querido amigo — ela zombou. — Ou talvez agora sim seja oficial, ele vai lhe tomar como esposa, mas vai foder as putas.

Kira começou a gargalhar descontrolada. Foi o momento que encontrei para me afastar dela, saindo da escada.

— Pare! — Ela gritou. Disparou contra mim, mas não obteve êxito.

Vladmir me pegou quando pulei em sua direção.

Acho que uns quinze homens entraram no salão, com as armas apontando para Kira. Eles iriam matá-la. Não haveria misericórdia. Ela estava afrontando o novo chefe, dentro de sua própria casa.

— Que lindo vocês dois juntos — ela sorriu com uma comoção falsa.

Meus pais apareceram. Ela os viu e revelou:

— Estava incumbida de lhe matar, seu verme — Kira olhou para meu pai. — Nikolay temia que você o abandonasse, e não estava errado, ele nunca estar. Mas como seu que sua filha não vai muito com a cara de vocês... não é lucrativo atirar contra um inútil. Mas essa aqui... — Ela voltou a apontar a arma na minha direção. — Essa eu vou levar para o inferno comigo.

Foi rápido. Eu sabia que ela iria atirar novamente. Que tudo o que Kira desejava estava ali para acontecer. Alguém atirou contra ela. Acertou a coxa. Ela gritou de dor e ódio e devolveu o tiro para mim.

Fechei os olhos para receber seu agrado fatal e egoísta. Sentindo Vladmir tentar me livrar da visão de Kira. E se bala havia me perfurado em algum lugar no meu corpo que não teria como reverter, eu não senti ou entendi onde estava o ferimento. Logo depois aconteceu rachadas de tiros. Não vi de imediato. O som estava me deixando surda. Coloquei minhas mãos nos ouvidos e me encolhi no chão com a cabeça entre os joelhos.

Quando abri os olhos, Kira estava caída na escada, seu corpo completamente dilacerado pelas perfurações de bala. Ela havia sido executada sem pena.

Mas foi o que estava sobre meus pés que me tirou completamente do chão. Vladmir foi atingido no meu lugar. Ele se fez de escudo temendo que Kira não fosse abatida a tempo de me matar.

BONECA RUSSAWhere stories live. Discover now